segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O uso doméstico da tipografia e o design das letras

Desde os seus primeiros catálogos, a tipografia vem se aprimorando, construindo uma história por onde já figuraram escolas, revoluções e até movimentos ideológicos.
 
Quando se fala de tipografia, podemos nos remeter automaticamente ao maquinário de impressão sem nos darmos conta do universo que o termo envolve. De acordo com a semântica da palavra – originada da junção dos radicais gregos typos (forma) e graphen (escrita) –, “tipografia” abrange todo o processo técnico na redação de um texto caligráfico ou digital. Em sua faceta mais arcaica, sua função é otimizar as vias de transmissão da informação escrita, ou seja, a forma como ela chega aos nossos sentidos, o que envolve as letras, espaçamentos, caracteres especiais, etc..

O que antes era um instrumento acessível apenas para as classes mais privilegiadas da sociedade – poucos eram alfabetizados há alguns séculos atrás – vem se tornando popular. O computador doméstico e a proliferação do seu uso são os responsáveis por tornar possível várias alternativas de formatação para um texto, ainda que em caráter amador.

Neste ínterim, surgiram várias escolas de vanguarda do design gráfico que, ao priorizar a estética e a arte, fizeram das letras um meio de expressão próprio que se utiliza dos softwares de computador para se proliferar. Marcou-se, então, uma mudança no uso doméstico da tipografia: a multiplicidade de opções do layout das letras extinguiu a estagnação visual que os textos redigidos em uma máquina de escrever carregavam, mas nem todo tradicionalismo foi banido.
 

Com o visível domínio de mercado do sistema operacional da Microsoft, o Word tornou-se o mais comum software de redação. Muitos, inclusive, consideram-no o grande ditador de tendências tipográficas dos últimos 15 anos. Provavelmente todo cidadão ocidental já se deparou com algo escrito em Times New Roman. A fonte, consolidada em 1931 como uma nova visão (daí vem o new) de uma clássica família tipográfica (Roman) foi adaptada para uso do jornal The Times of London e alastrou mundo afora.
 
Esta releitura uniu a tipografia clássica ao mundo contemporâneo. A Microsoft a utilizou pela primeira vez como fonte padrão na versão 3.1 do Windows em 1992, numa realidade onde o destino do conteúdo produzido no computador não era a divulgação na web (ainda nos primórdios), mas sua impressão e, consequentemente, disseminação por meio do papel - nada muito diferente do que fez a prensa de Gutenberg.
 
Mesmo com tantas opções disponíveis, o império da Times New Roman permaneceu até as novas tendências do design gráfico reeducarem os olhos do leitor e o acostumarem a outras fontes que, num primeiro momento, nos parecem estranhas. Essa “revolução” é marcada pela obsolescência das chamadas serifas – os pequenos prolongamentos que parecem unir as letras. Consolidou-se a tipografia como um instrumento visual relacionado com o tom de um texto, a atmosfera que constrói e a reverberação que pretende causar.
 
A atual idolatria às fontes sem serifa (do francês sans-serif), com seus signos redondos e mais, digamos, “industriais”, é apontada pelos acadêmicos de design gráfico como uma revolução: a queda da Times New Roman, que marcou o fim de uma era de transição entre o impresso e o digital. Foi como se cortássemos de vez o cordão umbilical com as persistentes características dos meios de expressão analógicos. É este tipo sutil de mudança que faz que muitos digam que a simples oscilação no uso de uma fonte pode esconder toda uma mudança no âmago da cultura midiática. O próprio Microsoft Word já se adaptou: desde a versão Vista utiliza a fonte Calibri, que, assim como a Helvetica e Arial, fazem parte da família sem serifa.
 

No âmbito doméstico, a intervenção direta no layout de um texto é algo tão novo que muitas vezes passa a ser mal utilizada pelos usuários. Escritos mal formatados e com péssima diagramação se tornaram constantes desde o advento do processador de texto. O uso inapropriado da Comic Sans, por exemplo, fez com que esta fonte se desvirtuasse de sua finalidade inicial – imitar o estilo utilizado em revistas em quadrinhos (banda desenhada em Portugal) – e se tornasse vulgar.
 
Isso gerou movimentos em prol de sua abolição, como o Ban Comic Sans, liderada pelos designers gráficos norteamericanos Dave e Holly Combs. Os militantes da causa criaram um site com o único intuito de disseminar a ideia e angariar colaboradores que apoiem suas intervenções de protesto. Estão, inclusive, trabalhando em um documentário. O teaser você já pode conferir abaixo.





Fontes das imagens: 1, 2.




fonte: http://obviousmag.org/

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