domingo, 6 de fevereiro de 2011

O tratado de paz russo-finlandês

ilustração/Arq.Google
Os termos impostos pelo tratado à Finlândia eram muito mais severos que os que ela havia rejeitado em novembro. Ao norte, ela obteve a volta de Petsamo, que os russos tinham ocupado ao começo da guerra; mas as restrições do tratado de paz de 1920 a respeito de forças navais naquela região foram renovadas, e um território na península de Rybachi devia ser cedido. Na fronteira oriental, ao invés de obterem uma faixa da Carélia Russa, de conformidade com as propostas anteriores, os finlandeses cederam uma faixa na região de Salla, incluindo a cidade de Kuolajaervi. Além disso, houve importantes concessões de trânsito em ambas estas regiões. Haveria livre trânsito entre a Rússia e a Noruega através da região de Petsamo, e entre a Rússia e a Suécia pela rota ferroviária mais curta. Para este propósito, os finlandeses prometeram que a linha que corria do interior do golfo de Bothnia até Kemiajervi iria nesse mesmo ano estender-se até atingir a fronteira e estabelecer ligação com uma linha russa de Kandalaksha. Isto completaria uma rápida rota de trânsito da extremidade do golfo de Bothnia ao mar Branco, o que poderia ser de primeira importância para o desenvolvimento da região de Murmansk.

Mas foi no sul que a Finlândia sofreu as perdas realmente importantes As negociações anteriores tinham fracassado em conseqüência da relutância finlandesa em ceder as ilhas estratégicas do golfo da Finlândìa e vender ou arrendar a base naval de Hangoe. Agora, os finlandeses tiveram que atender a ambas as exigências. Todas as ilhas na baía de Viipuri e um certo número no golfo da Finlândia foram entregues. Hangoe foi arrendada à Rússia por trinta anos, a uma renda anual de 8 milhões de marcos finlandeses, e a península e ilhas adjacentes passaram para administração russa até a duração do prazo de arrendamento.

Os termos relativos ao istmo de Carélia foram os mais drásticos de todos. As exigências originais da Rússia baseavam-se apenas num reajustamento fronteiriço sem importância, que faria recuar a fronteira de modo a deixar Leningrado fora do alcance de artilharia. Ao invés, o istmo todo, inclusive Viipuri, foi cedido juntamente, com uma faixa para o norte do lago Ladoga, colocando-o completamente em território russo. Economicamente, esta foi a perda mais grave sofrida pela Finlândia. Viipuri, ou Viborg, a terceira cidade da Finlândia em tamanho, era o porto de mar de uma área que continha grande parte da indústria finlandesa. Agora metade dessa área, com importantes serrarias e fábricas de pasta para papel e uma população de cerca de 400.000 pessoas, era entregue à Rússia, enquanto a área remanescente ficava privada de um acesso direto ao seu escoadouro natural.

Mas, embora essa perda econômica significasse um golpe severo à Finlândia, o aspecto estratégico era mais importante, particularmente sob o ponto de vista da Rússia. Suas finalidades nas primitivas negociações tinham sido o assegurar do domínio sobre o golfo da Finlândia, a garantia da segurança de Leningrado e a remoção da possibilidade de uma ameaça a Murmansk pela península de Rybachi. Elas estavam agora alcançadas plenamente; e, além disso, a possibilidade da Finlândia poder novamente oferecer séria resistência militar foi reduzida a uma fração quase desprezível. A Rússia podia, agora, dominar Petsamo. A cessão de Kuolajaervi reduziu a distância do golfo de Bothnia, e a projetada estrada de ferro proveria uma linha de comunicação capaz de permitir um avanço russo para isolar a Finlândia da Suécia. Hangoe e as ilhas adjacentes tornaram a Rússia suprema no golfo da Finlândia. E, mais importante que tudo, as cessões em torno do lago Ladoga significavam a perda pela Finlândia das principais posições defensivas. Uma nova linha fortificada poderia ser construída mais atrás; mas um ataque russo não mais seria dividido pelo lago Ladoga, e a cessão de Viipuri e da faixa ao norte do lago Ladoga envolvia o rompimento das ligações ferroviárias em que a Finlândia baseara a defesa de sua fronteira oriental.

A perspectiva de que a Rússia tivesse assim a Finlândia à sua mercê constituía motivo de grave preocupação para a Suécia. A garantia russa de que não tinha mais aspirações territoriais na Escandinávia foi aceita com alguma reserva, que não foi mitigada pela informação de que, na comissão designada para assentar os detalhes da nova fronteira, os delegados russos tinham traçado um mapa que estendia suas reivindicações a vários pontos. E quando a proposta de um pacto de defesa mútua entre a Suécia, Noruega e Finlândia foi vetada pela Rússia, como sendo contrária à cláusula do tratado que proibia alianças hostis, parecia claro que a Rússia estava determinada a manter a Finlândia dentro da sua própria órbita política.

Desta forma, a paz, embora tivesse apaziguado as apreensões imediatas da Suécia, de forma nenhuma as removeu inteiramente. Em certos círculos manifestava-se a tendência de criticar a Suécia pelas suas argumentações, e particularmente pelo seu bloqueio da intervenção aliada. Mas o seu problema era de caráter desesperadamente difícil, e a sua simpatia pelos finlandeses tinha sido demonstrada de uma forma a mais tangível. Calcula-se que nove mil voluntários suecos tinham sido enviados à Finlândia - indubitavelmente muito mais que os que tinham vindo de todos os outros países juntos. Cinco mil mais tinham oferecido seus serviços. Dinheiro e suprimentos no valor de 125.000.000 de marcos filandeses lhes tinham sido mandados. Para uma nação de 6.000.000 de habitantes esse esforço não era de modo algum pequeno. O balanço de toda a questão foi muito bem resumido pelo barão Mannerheim nas suas despedidas às exaustas forças finlandesas:

"Sem o auxílio pronto, em armas e equipamentos, que nos foi dado pela Suécia e as potências ocidentais, a nossa luta até esta data teria sido concebível... Somos orgulhosamente cônscios do dever histórico, que continuaremos a cumprir - a defesa daquela civilização ocidental que tem sido nossa herança por séculos; mas também sabemos que pagamos até o último níquel qualquer dívida que porventura tenhamos contraído com o Ocidente."
 
 
 

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