quinta-feira, 25 de março de 2010

Elites paulistas no século XVIII



Adelto Gonçalves (*) I


A rigor, foi o historiador português António Manuel Hespanha, com o livro às vésperas do Leviathan: instituições e poder político - Portugal - sec.XVII (Coimbra, Almedina, 1994), quem abriu a porta para uma nova modalidade de se escrever a História , ao fazer uma arqueologia do Poder Concelhio em Portugal, apontando temas voltados à administração e ao Estado. Tantos anos passados, uma porta aberta por Hespanha não só permitiu uma outros historiadores portugueses que vislumbrassem essa nova maneira de se re (escrever) a História como atraiu uma grande parte dos estudiosos brasileiros do período colonial - exatamente Aqueles e mais talentosos da geração que teve como orientadora a professora Laura de Mello e Souza, da Universidade de São Paulo.


O resultado dessa forma nova de se encarar a História pode ser constatado em O Governo dos Povos, de Laura de Mello e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria Fernanda Bicalho, orgs. (São Paulo: Alameda Editorial, 2009), que reúne Trabalhos apresentados e discutidos por estudiosos de universidades brasileiras e portuguesas nos últimos dias de Agosto e primeiros dias de setembro de 2005, em Parati-RJ, durante o seminário denominado "Governo dos Povos" .



Desses 28 estudos, dois Serão destacados aqui não porque Sejam superiores em qualidade aos demais, mas exatamente porque se referem um temas ainda pouco estudados, aos Quais este investigador também se dedica nestes dias, ou seja, o Funcionamento da Câmara Municipal de São Paulo e de outras câmaras ao tempo da Capitania de São Paulo e do Brasil colonial: "Camaristas, provedores e confrades: os agentes comerciais nos órgãos do Poder (São Paulo, século XVIII)", de Maria Aparecida de Menezes Borrego, e "O município não Brasil colonial ea configuração do poder econômico ", de Vera Lúcia Amaral Ferlini.


As articulações entre o poder central - ou seja, os Altos Representantes da Coroa (e governador e capitão-geral e ouvidor), como Câmaras Municipais Constituem um tema clássico na historiografia, mas que hoje DEVE ser visto por novos olhares, que já as últimas Investigações Têm deixado clara A necessidade de reformular Certas interpretações cristalizadas que não convencem ante uma evidência de novos fatos.


Uma dessas revisões que fazer se deve, como alerta Vera Ferlini, é que já não se pode aceitar pacificamente uma afirmação de que as câmaras tenham Sido reduto de oligarquias autónomas, ou seja, de senhores de terras, grandes Proprietários Rurais. Já na década de 1720, com o fim da capitania de São Paulo e Minas do Ouro ea separação de Minas Gerais, uma presença de comerciantes na Câmara da cidade de Paulo é São uma evidência de que aquela idéia não é assim tão pacífica. Ao contrário do que aprendemos com Caio Prado Júnior, um colonial nossa elite não foi Constituída apenas por Proprietários Rurais.


É verdade que, no Brasil colonial, Dependendo das circunstâncias, ainda seriam válidos Princípios Certos - impedimento a quem descendesse de "nação infecta" ou ganhasse uma vida trabalhos manuais com - que aplicavam se no Reino, mas por aqui essas Exigências já começavam a se Tornar mais fluidas. Afinal, poucos seriam, mesmo Aqueles que se apresentavam como uma elite agrária paulista, Podiam que se assumir como "brancos". Homens Dificilmente, algum daqueles pró-ascendido que haviam uma potentados e que andavam geralmente a frente de batalhões de escravos índios (carijós ou negros) e, não teria tido entre seus ascendentes indígenas ou negros ou miscigenados.



II



Há um documento (AHU, Conselho Ultramarino, capitania de São Paulo, Caixa 6, doc. 650, 26/10/1728) - citado aqui à guisa de explicação porque não consta de nenhum dos textos reunidos no livro resenhado - camaristas em que os da Vila de Santana de Parnaíba, que à época povoado seria um pouco menor que o de São Paulo, cidade desde 1711, mostram-se indignados e ressentidos com a perseguição que o capitão e governador-geral Antônio da Silva Caldeira Pimentel Movia lhes " inferiorizando-os Perante os visitantes e os do Reino ".


É de especular que uma das razões para isso seria uma maneira rude de se comportar camaristas desses, o governador e os que levariam os visitantes e um Reinois escarnecer deles. Outra talvez fosse a cor da pele. Feições indígenas tivessem Quem sabe. Ou traços africanos. Foram desses homens que saíram Aqueles que se embrenharam na mata para descobrir ouro e pedras preciosas em Goiás e Cuiabá.


É de supor ainda que esses potentados Fossem analfabetos ou que talvez manejassem mal o idioma português, que estariam acostumados ao linguajar indígena de seus empregados ou escravos. Mas também aqui é preciso cautela nas conclusões porque não se sabe se Os níveis de analfabetismo seriam assim tão Elevados, embora em Hespanha às vésperas do Leviathan diga isso às Câmaras em relação do Reino. E se o analfabetismo mesmo entre os camaristas nas vilas do Reino acintoso época, é de imaginar que seria na maior colônia. Até porque os índices de analfabetismo em Portugal e não continuariam altos Brasil até o século XX.
No entanto, há outro documento dessa época (AHU, Conselho Ultramarino, capitania de São Paulo, Caixa 5, doc.615, 11/11/1727) Que se Refere uma uma festa denominada das Onze Mil Virgens, que era celebrada ao som de Tambores havia muitos anos, desde uma época em que era vila de São Paulo, que tinha como principais entusiastas os estudantes, que costumavam se mascarar nesse dia. Para organizá-la, os estudantes pediam licença ao governador na sede da capitania e aos capitães nas Vilas-mor, em determinadas embora Ocasiões os ouvidores tenham assumido também uma responsabilidade pela autorização para que saíssem às ruas. Se havia assim tantos estudantes, tanto na cidade ou na antiga vila de São Paulo como nas demais vilas da capitania, uma dispostos organizar uma festa pública tida como tradicional, é porque o contingente de alfabetizados não seria tão irrisório como imaginamos.



Também é de supor que as características físicas do homem paulista se tenham alterado a partir do final da primeira metade do século XVIII, com o retorno daqueles que haviam ido se aventurar em Goiás e Cuiabá, diante do esgotamento das minas, com o afluxo de Reinois - especialmente da região do Minho -, com uma presença cada vez maior dos escravos africanos e de pessoas enriquecidas com o trato mercantil. Tudo isso se refletiu na estrutura patriarcal da família, mas Necessariamente não quer dizer que a pele dos oligarcas paulistas se tenha embranquecido. A não ser que confundamos "Ascensão com embranquecimento social", ou seja, material de enriquecimento.



Muitos destes homens enriquecidos com o comércio - Funções que desempenhavam mecânicas tidas como abjetas, pois manuseavam Valores Mercadorias e manipulavam - casaram com filhas de antigos oligarcas, assumindo seus negócios com o tempo. Não se pode esquecer também que esses oligarcas tinham muitas concubinas negras, indígenas e miscigenadas, acumulando filhos fora do casamento que acabavam integrados ao seio da família patriarcal.


Maria Aparecida de Menezes Borrego diz que os Homens de Negócios casavam seus filhos varões com filhas da elite agrária (p.333) ou os encaminhavam para uma carreira eclesiástica, mas suas filhas desposavam outros comerciantes. É provável que a continuação dos negócios da família da elite agrária fosse entregue aos genros, já que vinham de famílias de comerciantes. Em função disso, recém-logo estes Admitidos na família patriarcal também começaram uma galgar posições nas estruturas das câmaras, da Santa Casa de Misericórdia e das irmandades religiosas, que eram os veículos que possibilitavam uma nobilitação "dos Candidatos a bons homens. É de assinalar também que muitos que haviam retornado enriquecidos das Minas apresentavam-se como pretendentes não matrimonial mercado.


III
Observa Vera Ferlini, em seu estudo, que ao longo do período colonial, como câmaras foram dominadas pela presença de grupos e de famílias tradicionais oligarquias constituíram que, que, obviamente, nem sempre conviveram pacificamente. Em São Paulo, conhecida é a solução encontrada pela Coroa em 1655 para apaziguar as lutas entre as famílias Pires e Camargo, Permitindo que apenas Oriundos desses clãs ocupassem os principais lugares na instituição. Isto porque, diante do seu poder reduzido, a Coroa não tinha outra saída contemporizar um ser e não aceitar Certas Exigências das oligarquias locais, provavelmente com receio de que pudessem flertar com a idéia de passar para o lado dos espanhóis.



Fosse como fosse, os estudos Apontam para uma via de mão dupla de na atuação das câmaras: por um lado, defendiam os Interesses locais, ou seja, dos manda-chuvas da ocasião, mas de outro, como também resguardavam e políticas como determinações de Metrópole, tratando-se de os compor com Interesses do governador e capitão-general.

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O GOVERNO DOS POVOS, de Laura de Melo e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria Fernanda Bicalho (orgs.). São Paulo: Alameda Editorial, 560 págs., R $ 65,00, 2009. Site: www.alamedaeditorial.com.br
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de S. Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), de Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil de 2002, Bocage e) - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Fonte: Pravda.ru

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