Itália homenageia Vinícus de Morais

São Paulo - No mês em que a morte do poeta Vinícius de Moraes completa 30 anos, a ilha italiana de Capri o homenageia com um evento cultural que começa hoje e tem o objetivo "de recuperar a memória dos grandes gênios" da música brasileira, explicou o organizador da manifestação, Gianni Ciuffini.

Em entrevista à ANSA, Ciuffini, que é presidente da associação Brasil Memórias, dedicada ao compositor brasileiro, recordou que 80% do conteúdo das manifestações culturais na Itália entre as décadas de 1960 e 1980 eram de músicas e shows da bossa nova.

"Tínhamos os grandes artistas, de Chico Buarque a Maria Bethânia e Baden Powell, mas isso acabou, o ritmo mudou, mudaram as comunicações" e "nos últimos anos, se perdeu muito da cultura da bossa nova na Itália e no mundo", continuou o produtor cinematográfico.

"Atualmente, em Roma as pessoas só conhecem a Bahia, não se fala do Rio ou de São Paulo. Tem-se a impressão de que o Brasil é apenas Salvador, Fortaleza e as músicas do tambor".

Como exemplo deste cenário, Ciuffini recordou o recente show de Caetano Veloso na capital italiana, organizado pela prefeitura, que reuniu "pouquíssimas pessoas". O mesmo aconteceu com uma apresentação de Ana Carolina, em junho passado, que "reuniu apenas 400 espectadores".

Por isso, esse "projeto vem transportar idealmente a voz e a imagem do som de um continente ao outro", promovendo a cultura brasileira e a bossa nova "não só entre os italianos, mas em todo o mundo", destacou ele.

Questionado sobre sua intenção com a proposta, Ciuffini se disse "um apaixonado" pela cultura brasileira, afirmando que "o povo brasileiro é um povo maravilhoso, tem uma música que vem do coração, tem poesia, e isso não pode se perder".

A iniciativa, que é também o primeiro evento cultural da ilha de Capri, acontece de hoje até o próximo sábado (24) no município de Anacapri, na região da Campania, e é promovida pela Brasil Memórias, organização criada em 2004 com a proposta de manter viva a presença do Brasil na Itália.

O projeto, chamado "Vento do Mar", começa com a exibição de uma edição restaurada de "Orfeu Negro", filmado pelo cineasta francês Marcel Camus entre 1957 e 1958 nas ruas do Rio de Janeiro, baseado na peça "Orfeu da Conceição" (1954), de Vinícius de Moraes.

A organização espera cerca de 70 mil visitantes, em sua maioria "estrangeiros do Japão e dos Estados Unidos", além de europeus. Entre os convidados para a sessão de abertura estão o assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República, Carlos Tibúrcio, e o embaixador brasileiro em Roma, José Viegas Filho.

Os outros dias seguem com tributos a artistas ilustres como Chico Buarque, na voz de Fafá de Belém; Heitor Villa-Lobos, nos arranjos de Bruce Henry, e Baden Powell com a apresentação de Felicidade Susy.

Há ainda uma mostra fotográfica de Patrizia Giancotti, e uma premiação - um reconhecimento a "um profissional que, em sua atividade, se distingue pelo empenho, a paixão e o profissionalismo a serviço da música".

De acordo com Ciuffini, para o início do próximo ano a associação prevê realizar um evento "ainda maior", dedicado ao Brasil, que também homenageará os 50 anos de Brasília, visto que a cidade foi fundada no mesmo dia da criação de Roma, em 21 de abril.

Entre o final de 2011 e o início de 2012, será a vez de levar o nome do Brasil à Espanha e à França. "Já iniciamos os contatos com Madrid e Paris", completou o produtor.

 

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