O realismo mágico de garcía márquez
© Robert McCurdy
O fato de um fantasma demasiado inconveniente habitar a casa foi apenas um dos motivos para o casal Buendía se mudar para um lugar longe e ermo. Tão ermo que, como primeiros habitantes, acabaram fundando uma cidade onde se tornaram a mais numerosa (e confusa) família. É assim que começa Cem Anos de Solidão, que conta a história de sete gerações com o estranho costume de batizar seus filhos com os mesmos nomes -
cheguei a contar 22 Aurelianos. O mais peculiar é que, junto com o nome, herda-se também a personalidade do homenageado, gerando uma sensação de repetição e de que os personagens iniciais ainda são protagonistas, colocando, assim, o tempo como protagonista.
cheguei a contar 22 Aurelianos. O mais peculiar é que, junto com o nome, herda-se também a personalidade do homenageado, gerando uma sensação de repetição e de que os personagens iniciais ainda são protagonistas, colocando, assim, o tempo como protagonista.
Todos os habitantes dessa cidade fictícia vivem sob constantes e estranhos acontecimentos: chuva de flores amarelas, personagens que ascendem aos céus, frustradas revoluções comandadas por velhos e loucos coronéis de guerra, além de prefeitos déspotas que impõem leis estapafúrdias como a que obriga a pintar todas as casas da cidade de azul. Esses são só pequenos exemplos do que acontece nessa complexa trama. Trata-se de grandes e inteligentes metáforas que utilizam a fantasia como crítica à sociedade arcaica, imersa numa espécie de história cíclica e involutiva, onde tudo se repete independente da vontade dos personagens. Nada muito diferente do mundo real.
Com essa pérola da arte latino-americana, García Márquez – também conhecido como Gabo – garantiu seu prêmio Nobel (1982) e cravou Cem Anos de Solidão no rol de “leituras obrigatórias” dos apreciadores de boa literatura. Para aproveitar o romance sem se perder, é interessante consultar uma árvore genealógica da família, mas deixem as já prontas de lado: leiam com lápis e papel à mão, pois não há nada melhor do que mapear as gerações dos Buendía.
Resumo gráfico da obra “Cem Anos de Solidão”
Colombiano de Aracataca, García Márquez é, juntamente com Cortázar, considerado um dos criadores do realismo fantástico (ou realismo mágico), gênero da literatura latino-americana do século XX. Gabo, especialmente, consegue a mescla quase inimaginável de ferrenhas críticas políticas com todo o ardor emocional característico da cultura hispano-americana, gerando obras sedutoras que conseguem ser, ao mesmo tempo, simples e profundas. Com personagens encantadores imersos em histórias excitantes, arrisco-me a dizer que é autor de livros que ficarão presentes na memória coletiva por séculos. Para se ter ideia, Cem Anos de Solidão já vendeu mais de 30 milhões de cópias e foi traduzido para 35 idiomas, que dirá os outros. São números impressionantes para quem, no início, não almejava nada além de uma carreira jornalística.
“No dia em que o matariam, Satiago Nasar levantou-se às 5h30 da manhã.” Esse é o famoso início do livro Crônica de uma Morte Anunciada, onde a narrativa inversa se mostra diferente de todos os outras. O fato de não possuir muitas características técnicas fundamentadas, faz de García Márquez um camaleão com mil cartas na manga, surpreendendo o leitor a cada obra adquirida. O escritor se diz aposentado desde abril de 2009, mas a esperança de uma publicação inédita está bem ali ao lado de seus personagens imortais, no imaginário de muitos de seus leitores.
“O Coronel Aureliano Buendía arranhou durante muitas horas, tentando rompê-la, a dura casca da sua solidão. Os seus únicos momentos felizes, desde a tarde remota em que seu pai o levara para conhecer o gelo, haviam transcorrido na oficina de ourivesaria, onde passava o tempo armando peixinhos de ouro. Tivera que promover 32 guerras, e tivera que violar todos os seus pactos com a morte e fuçar como um porco na estrumeira da glória, para descobrir com quase quarenta anos de atraso os privilégios da simplicidade”.
trecho de Cem Anos de Solidão
“Com ela aprendeu Florentino Ariza o que já padecera muitas vezes sem saber: pode-se estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, por todas com a mesma dor, sem trair nenhuma. Solitário entre a multidão do cais, dissera a si mesmo com um toque de raiva: ‘O coração tem mais quartos que uma pensão de putas.' Estava banhado em lágrimas com a dor dos adeuses. Contudo, mal desaparecera o navio na linha do horizonte e a lembrança de Fermina Daza tinha voltado a ocupar seu espaço total.”
trecho de O Amor nos Tempos do Cólera
Fonte: http://obviousmag.org/
Seja o primeiro a comentar!
Postar um comentário
Não serão aceitos comentários Anônimos (as)
Comentar somente sobre o assunto
Não faça publicidade (Spam)
Respeitar as opiniões
Palavras de baixo calão nem pense
Comentários sem Perfil não será publicado
Quer Parceria não será por aqui.(Contato no Blog)