quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A astrofotografia - O céu à distância de um "clic"

Planetas distantes que se conjugam ao longo do céu crepuscular de uma praia paradisíaca. A lua a brilhar assustadoramente, como nunca antes se viu. Estrelas a rodopiarem como bailarinas, deixando um rastro brilhante por onde passam. A astrofotografia tem tanto de ciência como de arte e há quem faça desta aliança a sua eterna paixão. Bem-vindos ao mundo secreto do astrofotógrafo Miguel Claro.
O quadro é montado pela natureza, com o dia a fugir para o outro canto do globo e a noite a intrometer-se sorrateiramente. Em baixo, o contributo humano para o cenário: é a ponte 25 de Abril, esticando os seus dois quilómetros de metal sobre as calmas águas do rio Tejo. Embora semelhante à lendária ponte Golden Gate de São Francisco, nos EUA, o retrato não deixa enganar... estamos mesmo em Lisboa. Para expulsar qualquer dúvida, o amarelo fluorescente das luzes eléctricas dá-nos os sinais de vida da sua zona ribeirinha.
Lá bem em cima, para relembrar que, apesar de tudo, todos nós partilhamos o mesmo céu, a Lua dá um ar da sua graça, fazendo-se convidar com o seu resplandecente quarto crescente. Talvez aborrecido por ficar de fora, o lado lunar decide entrar no jogo. Este, indo contra todas as regras, consegue ficar visível, uma efémera cortesia do forte brilho da Terra.
A dividir céu e terra, eis que temos a zona de ninguém: o crepúsculo, escoltado pelas suas nuvens fantasmagóricas. Em giza de ponto final (não negro, mas branco), já só faltava Vénus, a estrela da noite, espreitando do topo como se fosse a condescendente guardiã de toda esta trama.
Montado o cenário certo e perante o momento oportuno, chega a vez de Miguel Claro entrar em acção com a sua máquina fotográfica digital. “Clic”. Já está!
Mais uma fotografia que vai figurar no website da NASA como “fotografia astronómica do dia”, um feito de que poucos se podem gabar. Acontece que, para Miguel Claro, um astrofotógrafo amador que vive na margem sul da Grande Lisboa, este êxito já se repetiu por cinco vezes. Cinco momentos que vão ficar para a posteridade.
“Por volta dos 12 anos tive a oportunidade de observar Marte pela primeira vez, através de uma teleobjectiva adaptada e transformada num pequeno telescópio”, confessa Miguel Claro ao Obvious. “Talvez tenha sido esse o momento marcante que fez nascer uma grande paixão pela astronomia e, mais tarde, pela astrofotografia”.
Eis como o Universo, o “espaço” – essa palavra mágica que adoramos usar na infância –, começou a entrar no seu imaginário. Estava implantada a semente da curiosidade pela vastidão do Cosmos, de tal modo que, já com 33 anos, tornou-se no seu hobby por excelência.
Antes de mais, separemos as águas e expliquemos o que é a astrofotografia. Tal como refere o mais simples manual sobre o tema, é um ramo específico da fotografia que se dedica à captura de imagens relacionadas com os objectos astronómicos (planetas, estrelas, galáxias, etc.) e com as grandes porções do céu noturno que os englobam. Depois de ter surgido na primeira metade do século XIX (acompanhando o desenvolvimento dos primeiros aparelhos fotográficos), tornou-se nos dias de hoje uma paixão para muitos entusiastas, especialmente junto dos fotógrafos e astrónomos amadores. Miguel Claro é um deles.
Mas que “ingredientes” são necessários para forjar um bom astrofotógrafo? “Ser astrónomo e possuir alguns conhecimentos de astronomia é um requisito preferencial”, explica. Ou seja, se está a pensar em adoptar esta actividade, está na hora de se dirigir à livraria ou biblioteca mais próxima e obter alguns livros de iniciação à astronomia. Vai sempre a tempo.
Todavia, para além deste requisito é preciso ter também “uma noção de enquadramento e sentido de orientação, saber planear, ter imaginação e intuição, ser criativo e conseguir tirar partido da técnica fotográfica”. Misture tudo isto, insira-o no forno da paciência e voilà: um astrofotógrafo pronto a retratar as maravilhas que os astros nos proporcionam.
E que equipamento fotográfico é necessário? Isso já depende do objecto que se quer fotografar, podendo ser necessário um telescópio (se quiser fotografar corpos celeste distantes, como uma galáxia, por exemplo). “No entanto, para fazer paisagens astronómicas [a especialidade de Miguel Claro] é preciso apenas uma máquina fotográfica, uma lente luminosa, um tripé estável e um cabo disparador”.
Parece simples e a finalidade é mesmo essa.
“Um dos meus grandes objectivos é inspirar e encorajar as diversas pessoas que, pelo mundo fora, partilham de uma forte paixão pela astronomia, mesmo que inconscientemente. Tento provar-lhes, através dos meus resultados e utilizando equipamento relativamente simples que está ao alcance da generalidade das pessoas, que o Universo é sem dúvida uma janela aberta, pronta a receber qualquer um que partilhe a vontade de aprender, a paixão, uma simples curiosidade, ou o desejo voraz de fotografar e contemplar o recheio do infinito”.

Estrelas que rodopiam e um planeta que encolheu
Para além de distinguido pela NASA (cinco imagens como "Astronomy Picture of the Day" e outras dez como “Earth Science Picture of the Day”), o trabalho de Miguel Claro tornou-se, igualmente, um habituéAssociação Portuguesa de Astrónomos Amadores entre as publicações internacionais de referência sobre a astronomia. Um currículo invejável para alguém que é definido como… amador, sendo membro da .
No conjunto do seu vasto trabalho fotográfico, a sua preferência vai para as paisagens astronómicas, um subgénero que alia as paisagens terrestres ao céu, tornando-os “indissociáveis”, razão que leva Miguel Claro a afiançar que este tipo de imagens é do mais completo que existe. “As paisagens astronómicas cativam e prendem a atenção das pessoas e, sendo esteticamente atractivas, tornam-se informativas e didácticas, promovendo a componente histórica e cultural”. Eis a astrofotografia em toda a sua noblesse.
Uma das técnicas, usada por este português oriundo de Famalicão (norte de Portugal), passa pela obtenção de fotografias geradas por uma exposição mais demorada. O resultado é o rasto luminoso da Lua ao longo dos céus de Lisboa, ou os riscos e rabiscos circulares provocados pelo rodopiar das estrelas em torno de um ponto central, brilhante e quase inamovível – a famosa Estrela Polar. Na verdade este rodopiar é ilusório, pois quem está a girar somos nós, ou seja, é provocado pela rotação da Terra. Autênticas imagens capazes de pôr a nossa mente a “andar à roda”.
Outro truque consiste em sobrepor duas fotografias digitais. Juntemos uma fotografia da Lua tirada através de uma exposição curta, com outra gerada por uma exposição mais demorada, e eis como, ao combiná-las, obtemos uma imagem que salienta os detalhes brilhantes da superfície lunar e que dá às nuvens negras envolventes algumas características bem sinistras, como se estivessem a desvanecer-se misteriosamente.
Olhando para trás, em jeito de retrospectiva, e apesar das inúmeras fotografias que já tirou, a imagem que mais o marcou continua a ser a de Marte, vista pelos olhos de quando tinha palmo e meio de altura. “Uma das coisas que me recordo é que aos olhos de uma criança tudo parece grande! Lembro-me que, na altura, o planeta me parecia enorme. Só alguns anos mais tarde, quando adquiri o meu primeiro telescópio, é que me dei conta que a imagem gravada na minha memória não tinha a escala correcta. Estava ampliada, provavelmente pela grande emoção de uma criança ao observar em directo, pela primeira vez, um astro do Sistema Solar. Vendo agora bem, o planeta vermelho é bem mais pequeno do que aquilo que julguei ter visto”.
Se quiser ver e saber mais sobre o trabalho deste astrofotógrafo lusitano, nada melhor do que ir a um dos seus dois websites ou entrar em contacto com o próprio Miguel Claro. Talvez um dia o esteja a imitar e tenha uma fotografia distinguida pela NASA. Pelos vistos, basta ter o gosto pela astronomia nas veias e… “clic”. Já está!
Imagens: ©Miguel Claro

Fonte: http://obviousmag.org/

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