sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Este barco não foi atingido por um iceberg

Um grito de liberdade, um alerta ou um artista à procura de atenção? Love Love não está num museu ou numa galeria: contra o que se possa presumir, ele navega os mares e atraca nas marinas, lembrando aos que passam que o absurdo vive mesmo ao lado.


Love Love é um grito de liberdade de um artista plástico. Porque existe fora do aprisionamento dos museus e galerias e porque é no mar que o horizonte é mais distante e que as barreiras nos parecem inexistentes. Mas um grito de liberdade é também uma chamada de atenção: de uma criança com birra ou de um protestante com causa - o leitor decide. O sujeito é Julien Berthier e o objeto é um barco em naufrágio iminente.
O artista francês de 35 anos criou um navio completamente funcional que aparenta estar a afundar-se. Com 6,5 metros de comprimento, o pequeno barco foi cortado ao meio e apetrechado com uma quilha e um motor na parte inferior, mantendo-se na mesma posição quando está em funcionamento. Estável e facilmente manobrável em águas calmas, mas com poucas qualidades hidrodinâmcas, é a "imagem permanente e móvel de um naufrágio tornado num objeto de lazer funcional e seguro", descreve Berthier.
O barco foi encontrado em 2007, na Normandia, onde estava atracado e inutilizado. Estando prevista a sua destruição, rapidamente o então proprietário, Odile Moulin, o ofereceu, permitindo que o artista francês lhe desse uma nova vida. Depois de trabalhado no local, Love Love estava pronto a funcionar continuamente como a visão de um momento dramático.


A primeira mostra do objeto (barco ou instalação móvel?) foi no local do seu nascimento. Em Granville, na Normandia, o navio rapidamente chamou à atenção na marina e muitas foram as ofertas de resgate, antes que os bons samaritanos se apercebessem do truque. Berthier chama-lhe a ambiguidade entre a funcionalidade e o colapso.
Depois, Love Love atravessou o Canal da Mancha para chegar a Londres e instalar-se em frente ao edifício dos Lehmann Brothers, apenas dois dias depois de o banco falir. Aí, o pequeno navio tornou-se para os transeuntes e a imprensa um símbolo da crise instalada. Num paralelismo com a realidade, mesmo em posição de naufrágio iminente, continuava completamente funcional, como se nada tivesse acontecido. O barco espelhava não só a imagem do mundo em colapso, mas um mundo que continua em frente, não obstante a sua própria queda: the show must go on.
A terceira longa viagem da obra de Berthier foi para Lindau, na Alemanha. Apesar de ter avisado a polícia, os bombeiros e os marinheiros de que se tratava de uma instalação, choveram chamadas de alerta e chegaram a ser enviadas 20 pessoas para o salvamento do barco.


Hoje, Love Love continua a fazer pequenas viagens, recebendo durante as suas travessias ofertas de assistência por onde passa.
Trabalhando em instalações hiperrealistas, Berthier quer incorporar os seus objetos (e as situações que daí provêm) na realidade socio-económica de forma a que respondam a uma necessidade, mesmo que sejam ineficientes. Porque tem de haver um momento em que os objetos se confrontam com o público, fora dos museus, das galerias e de todos os ambientes controlados. Apesar do caos que daí possa advir. Apesar do non-sense. Apesar do entretenimento. Apesar de tudo. E por tudo isso.




Mais trabalhos no site do artista Julien Berthier.

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