sábado, 11 de dezembro de 2010

Segunda Guerra Mundial - Setembro a Dezembro de 1939 - A guerra econômica e os neutros

A guerra econômica e os neutros 
 
imagem ilustrativa
Nenhum desses esforços navais, naturalmente, representou um fim em si próprio. Atrás da luta nos mares ocultava-se a firme vontade de cada lado de preservar sua própria vida econômica e de arruinar a do antagonista. Nessa frente econômica realizava-se uma luta vital e possivelmente decisiva em que todo o poderio dos beligerantes estava empenhado.

A primeira tarefa de cada nação era a de assegurar os suprimentos essenciais à sua vida nacional e capacidade bélica. Isto significava não apenas assegurar suas necessidades primárias por meio da importação; significava também acesso continuado aos mercados de exportação, através dos quais as importações pudessem ser pagas. Hitler, antes da guerra, tinha descrito a Alemanha como uma nação que tinha que exportar ou morrer. Para a Grã-Bretanha, e numa extensão bem menor da França, tal necessidade também era vital. Na guerra como na paz, disse Mr. Chamberlain a 20 de setembro, "nossas vidas dependem da corrente ininterrupta de comércio, e é nossa política fundamental preservar, o mais possível, as condições do comércio normal".

O corolário inevitável disto foi um esforço por todos os meios possíveis para interromper o comércio do inimigo. Mr. Chamberlain descreveu o objetivo britânico como sendo o de desorganizar a estrutura econômica alemã tornando-lhe impossível a condução da guerra. Objetivo idêntico era visado pela Alemanha em relação à Inglaterra. As armas germânicas eram o submarino e o corsário comercial, juntamente com a pressão diplomática sobre vizinhos neutros subjugados, afinal, pela ameaça de uma invasão armada. As armas aliadas eram o bloqueio submarino da Alemanha e uma diplomacia apoiada pelo poderio econômico.

Está claro que para um ataque assim, e ainda mais para a defesa essencial, o controle do mar era muito mais vital para os aliados do que para a Alemanha. A Inglaterra em particular era altamente vulnerável a um bloqueio eficaz. Dependia ela da importação de 75% de seus gêneros alimentícios e da quase totalidade de suas matérias-primas industriais, exceção feita ao carvão e ao minério de ferro. A França também, embora em matéria de alimentação fosse praticamente auto-suficiente, tinha de trazer de fora suas matérias-primas essenciais. Com o controle do mar, entretanto, quase todas as suas necessidades poderiam ser satisfeitas pelos países marginais da costa Atlântica. A Alemanha sob tais circunstâncias ficaria impedida de manter contacto direto com esses países; e para a obtenção de um terço das matérias-primas que normalmente importava, ela tinha que depender antes de tudo de seus vizinhos do continente.

Nessa guerra econômica, portanto, as nações neutras ocuparam uma posição de importância vital. Mesmo antes da irrupção de hostilidades armadas elas tinham sido o teatro principal da guerra não declarada. Essa luta cresceu agora de intensidade; e fora dos campos de batalha propriamente dito, os neutros ofereciam passagem para um ataque econômico de flanco, por meio do qual poderia ser dado um golpe capaz de ser final e decisivo.

Os neutros ocidentais estavam conseqüentemente sob forte pressão diplomática de ambos os lados logo desde o começo. A Suécia era particularmente importante para os alemães em virtude do seu minério de ferro que fornecia 41% das importações alemães desse gênero. A Holanda e a Bélgica, embora de menor significação como fontes de suprimento, eram importantes como possíveis canais através dos quais material de fora poderia infiltrar-se na Alemanha. Mas, os esforços alemães pareciam obter sucesso relativamente pequeno. A 14 de novembro, suas conversações com a Suécia sofreram interrupção, segundo parecia, porque a Alemanha exigia praticamente o monopólio do comércio sueco. A 27 de dezembro, em contraste, a Grã-Bretanha foi capaz de concluir um acordo que prometia atrair a Suécia à órbita comercial aliada. Seguiram-se-lhe acordos com a Islândia e a Bélgica. e pelo fim do ano havia boas perspectivas de relações satisfatórias entre os aliados e os neutros da Europa ocidental.

Na Europa oriental a situação era algo mais complexa. Tratava-se de uma área em que o comércio alemão tinha realizado um avanço dominador nos anos que precederam a guerra, e a qual poderia fornecer algo como 20% da importação normal da Alemanha. Mas, a base desse comércio indicou um aspecto vulnerável da economia alemã. Este era a carência de fundos líquidos para o livre comércio exterior. Sua reserva oficial em ouro, cerca de 77 milhões de marcos, estava bem abaixo de 1% de sua circulação fiduciária. Suas inversões no estrangeiro, em contraste com as de 1914, eram negligenciáveis. As reservas de ouro e câmbio estrangeiro de todas as fontes podiam perfazer um total de dois bilhões de marcos, mas mesmo isto pagaria apenas um terço das importações alemães em 1938. Em conseqüência, seu comércio exterior tinha sido construído predominantemente sobre uma base bilateral de trocas; e em vista das exigências da economia de guerra, parecia duvidoso que a Alemanha pudesse realizar as exportações de mercadorias necessárias ao pagamento das importações de que ela tanto precisava.

Neste particular, os aliados estavam numa posição muito mais flexível. Antes da guerra, pouco mais que 1,5°/o do seu comércio era feito com a Europa sul oriental. Mas, para o caso de excluir a Alemanha daquela área, os aliados tinham grande vantagem de serem capazes de pagar à vista. Os estoques de ouro da Grã-Bretanha perfaziam 560 milhões de libras esterlinas e suas inversões no exterior eram estimadas em 1.172.000.000 de libras esterlinas. A França tinha reservas de ouro no valor de 1.702.000.000 de dólares e haveres no estrangeiro entre 90 e 180 bilhões de francos.

Este era o potencial econômico que os aliados utilizaram para atrair os neutros não expostos à pressão de bloqueio. "Temos contratos consolidados" - disse o Ministro da Guerra Econômica da Grã-Bretanha - "de uma espécie que, em tempos de paz, faria estremecer os sóbrios homens de negócios." Comprava-se de países com que os aliados em tempo de paz tinham pouco ou nenhum negócio, mas dos quais a Alemanha poderia obter produtos essenciais. Eram pagos preços mais altos do que o necessário para a compra desses mesmos produtos em outra parte. A Turquia, que se recusara a renovar seu tratado comercial com o Reich quando esse expirou no fim de agosto, foi recompensada com um empréstimo substancial e compras aliadas de todo o seu estoque de cromo, figos e uvas. O cobre da Iugoslávia, que normalmente ia para a Alemanha, foi atraído para os aliados, que também lhe compraram toda a safra de ameixa exportável. Em torno da Romênia travava-se intensa luta. Em março, a Alemanha firmou um acordo que colocou à sua disposição grande parte dos recursos da Romênia, especialmente petróleo de que ela tão desesperadamente necessitava. Após o rebentar da guerra, foram entabuladas negociações no sentido de aumentar a exportação de petróleo romeno para o Reich e da obtenção de uma taxa mais favorável de câmbio. No dia 20 de dezembro foi anunciado que a Romênia tinha concordado em elevar suas exportações de petróleo para a Alemanha a um mínimo de 130.000 toneladas mensais sobre as 80.000 toneladas que tinham prevalecido desde o rompimento da guerra, e a acelerar a entrega de outras 260.000 toneladas, que seriam objeto de acordo prévio. A taxa de câmbio de 40 lei para o marco, que a Alemanha desejava fosse elevada a 60, foi em verdade elevada a 49. Dois dias mais tarde, entretanto, sob pressão aliada, essa taxa foi reduzida a 44,75 para o que dissesse respeito a todas as exportações importantes, com exceção do feijão soja. Era claro que mesmo neste caso a pressão financeira aliada não era de modo algum negligenciável. A importância de suas reservas em caixa foi indicada pelas estatísticas do comércio britânico no mês de dezembro, as quais mostravam uma importação de 86 milhões de libras esterlinas contra uma exportação de 42 milhões de libras esterlinas. Somente enérgicas medidas financeiras puderam fazer com que uma balança comercial tão adversa pudesse ser conscienciosamente equilibrada por esses métodos de guerra econômica.

No caso dos países que careciam de comunicações diretas com a Alemanha, o progresso foi menos dispendioso. Na América do Sul, onde o cumprimento pela Alemanha de seus acordos de troca não mais era possível, os aliados tinham possibilidades de insistir na obtenção de termos favoráveis. O significado disto foi ilustrado por uma circular endereçada pelo Departamento Argentino de Controle Cambial aos importadores e homens de negócios a 20 de novembro, acentuando que o volume das vendas aos aliados dependeria do montante que estes comprassem da Argentina. No caso da Espanha, a interrupção das ligações comerciais estabelecidas com a Alemanha pelo governo de Franco, e a necessidade desesperadora que este tinha de câmbio estrangeiro, fizeram com que a Espanha entrasse em acordo sobre a venda de minério de cobre e de ferro aos aliados. Mas, de todos esses fatos, o de importância mais vital foi a mudança dos termos da Lei de Neutralidade adotada pelos Estados Unidos.

A lei original foi adotada como resolução em 1935, tomando em 1937 a forma de medida permanente. Seu primeiro objetivo foi evitar que os Estados Unidos ficassem envolvidos numa guerra, em conseqüência de compromissos econômicos. Com este propósito, a lei proibia a venda de munições ou a concessão de empréstimos a beligerantes. Mas, era natural que nisso houvesse também um desejo de continuar o comércio de modo tão extenso quanto possível, sem arriscar-se a uma guerra. E quando a crise na Europa se revelou, tornou-se claro que o sentimento do povo americano orientava-se de modo crescente em favor dos aliados e ansioso por não se ver envolvido na luta - sentimento ardentemente compartilhado pela administração Roosevelt.

Quando a guerra rebentou, portanto, o presidente primeiro aplicou a lei existente por uma proclamação a 5 de setembro, e depois convocou uma sessão especial do Congresso para o dia 21 de setembro a fim de serem discutidas emendas à lei, especialmente a supressão do embargo absoluto de armas. A nova lei, conforme foi aprovada a 4 de novembro, provocou uma diferença fundamental no projeto aliado para a obtenção de suprimentos americanos. Ao invés da proibição, foi adotado o princípio do cash and carry com respeito a vendas aos beligerantes. Nenhum armamento lhes poderia ser levado por navios americanos e todos os títulos referentes a mercadorias exportadas aos beligerantes tinham que ser transferidos antes que essas mercadorias deixassem o território americano. A interdição dos empréstimos a beligerantes foi mantida; mas foi possível então aos aliados, por meio de um uso cuidadoso de seus recursos em numerário, chamar para seu lado a capacidade produtiva da indústria americana. Embora os navios americanos estivessem proibidos de entrar na zona de guerra, e assim não fossem de utilidade para os aliados, havia ao menos a compensação de que essa mesma decisão teria a probabilidade de evitar, para os americanos, quaisquer prejuízos importantes, conseqüentes do bloqueio aliado.

A eficácia do bloqueio foi uma das lições mais edificantes da última guerra. Mal rebentou a nova conflagração, foram postos em execução planos destinados a reviver e fortalecer os métodos que então tinham sido utilizados. O Ministério da Guerra Econômica foi instituído na Grã-Bretanha sob a chefia de Mr. Ronald Cross. A lista de contrabando absoluto emitida pelo ministério incluiu não apenas armas e munições mas também combustíveis, máquinas de transporte e animais, artigos de comunicação e "moedas, metais preciosos em barras, dinheiro corrente, provas de débito". O contrabando condicional, que poderia ser aplicado se assim o desejasse o governo alemão ou suas forças armadas, compreendia "toda a sorte de gêneros alimentícios preparados ou não, forragens, vestuário e artigos e materiais usados para a sua produção." A 8 de setembro, cinco portos de controle de Kirkwall a Haifa, foram instituídos; neles os navios deveriam ser revistados. Outros portos de controle seriam mais tarde acrescentados a esse número. A 1o de dezembro esta medida foi reforçada pelo sistema de navicert - revista nos portos neutros das cargas de exportação e a emissão de certificados àqueles que estivessem sujeitos à denominação de contrabando, certificados esses que lhes facilitariam a passagem pelo controle.

O efeito disso tudo foi extremamente amplo. Mesmo os países danubianos sentiram-no de modo prático. A rota normal do comércio da Hungria e da Romênia ia através do mar Negro e do Mediterrâneo aos portos alemães do norte. Agora, a Alemanha era forçada a tentar desenvolver a montante do Danúbio acima; e quando o gelo fechou o rio, no começo de dezembro, os alemães ficaram na dependência do transporte por estrada de ferro, o qual parecia completamente inadequado às suas necessidades de importação de matérias provenientes da Europa sul-oriental. De um modo similar, grande proporção do minério de ferro sueco era normalmente exportada através do porto norueguês de Narvick sobre o Mar do Norte. Uma parte seguia no verão através de Lulea sobre o Báltico. Mas este porto estava fechado ao tráfego marítimo durante os meses hibernais. Mais ainda, o poder inglês de efetivar o bloqueio, com o seu escopo de provocar danos e retardamentos onerosos, forneceu-lhe uma poderosa arma contra qualquer desejo dos neutros de agir como intermediários a favor da Alemanha. Desde o começo, os neutros foram praticamente racionados às suas cotas de importação normais, e uma aquiescência a isto foi um dos aspectos do tratado sueco, indubitavelmente modelo para outros. Sua eficácia é revelada por cifras: durante o primeiro mês da guerra, a Grã-Bretanha capturou 150.000 toneladas mais de navios mercantes alemães do que perdeu em conseqüência de ataques submarinos. Ao fim do ano, os aliados calcularam terem tomado aproximadamente um milhão de toneladas, relativo a 10% de toda a importação anual da Alemanha. E, além disso, entre 400 e 500 navios da frota alemã ficaram imobilizados em portos espalhados por todo o mundo; pois, embora ocasionalmente algum navio escapulisse, - como é o caso da saga do Bremen, que chegou à Alemanha procedente de Nova Iorque, via Murmansk - os acontecimentos mais comuns eram como os do Cap Norte, apreendido em alto mar, o de Columbus, afundado pela própria tripulação afim de evitar a captura, e do Tacoma, internado em Montevidéu. As importações alemães do exterior estavam sendo reduzidas a quase nada - e a Alemanha, que já tinha reduzido as importações para quase o mínimo, pouco podia fazer para minorar os efeitos do bloqueio.

Depois das importações, as exportações. Tendo cortado as primeiras, os aliados procuraram estrangular estas, a fim de evitar que a Alemanha pagasse por importações tais como as que realizara. A 21 de novembro foi anunciado que em represália à colocação ilegal e indiscriminada de minas efetuada pela Alemanha, os aliados resolveram capturar todas as exportações alemãs onde quer que as encontrassem. Seguiram-se a isto vigorosos protestos da maioria das nações neutras, mas elas não conseguiram revogar a decisão. A 27 de novembro, o rei Jorge firmou a necessária ordem do Conselho e a 4 de dezembro a medida foi posta em prática.

Havia, contudo, um neutro importante não atingido por todas essas medidas - uma potência cujas novas relações com a Alemanha tornavam-se o grande ponto de interrogação no quadro diplomático e econômico e talvez mesmo no militar. Essa nação era a União Soviética.
 

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