segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Terence Mckenna - Reinterpretando a história - Parte 3

Terence McKenna não procura nos céus a origem dos deuses, mas encontra na terra a origem do conhecimento. O escritor Tom Robbins diz que “desconhecer as suas descobertas etnobotânicas é desconhecer a pulsão central da consciência humana – a qual não é vegetar com as moscas no esterco, e sim voar com os deuses”. Fiquem a conhecer de perto este fantástico e controverso académico, este surfista da mente, este “mago alucinado”.
(O presente artigo é o último da série “Reinterpretando a História”, seguindo-se aos artigos sobre Erich von Däniken e Robert Charroux)
Se von Daniken e Charroux viam numa intervenção alienígena a explicação da evolução da espécie humana, Terence McKenna acrescenta a esta série de teorias reinterpretativas da História da Humanidade a tese de que as drogas – mais precisamente, o composto psicoactivo psilocibina - tiveram um papel fundamental nesse processo.
Explorando uma via diferente das conhecidas considerações científicas sobre este assunto, McKenna acredita que a linguagem, a consciência e o caminho evolutivo que nos separou das restantes espécies animais se deveu à conjuntura e acasos migratórios que nos proporcionaram um encontro com diversos tipos de flora alucinogénica. As teses de McKenna estão explicadas e pormenorizadas com exemplos na sua bibliografia, em que se inclui os conhecidos “The Invisible Landscape” (1975), “The Archaic Revival” (1992), “Food Of The Gods” (1992) e “True Hallucinations” (1993).
amanita muscaria
Assim, para McKenna existiu um momento preciso, ou um período de tempo exato, em que o ser humano, ainda a dar os primeiros passos na longa caminhada da evolução, se encontrou com a chave da Cognição e abriu as portas da Razão, elementos que, para além das condicionantes que já sabemos terem influenciado profundamente o carácter evolutivo da espécie, despoletaram em nós aquilo que, de uma forma lata, um dia chamámos de Consciência.
O ser humano tem uma relação profundamente simbiótica com diversos tipos de drogas naturais que foram sendo absorvidas ao longo das várias fases da nossa evolução. Estas substâncias moldaram-nos cultural e intelectualmente. Podemos destacar, por exemplo: o álcool, a cannabis, o açúcar, o café, o chá e o cacau, o ópio e o tabaco, a heroína, a cocaína. E os psicadélicos: o ayahuasca, a mescalina, os cogumelos, o LSD.
Esta flora tem funcionado como catalisador da experiência mística, como um terço cristão, como a dança dos sufis, como a auto-flagelação. A diferença encontra-se na eficácia, no prazer, no fato de ser mais “humano”, mas não em demasia. Ninguém melhor para explicar as suas teorias do que o próprio Terence McKenna:



Psychedelics in The Age of Intelligent Machines” (“Os Psicodélicos na Idade das Máquinas Inteligentes”) – palestra realizada em Seattle, em 1999 (legendado).

É verdade que Terence McKenna se afasta (ma non troppo) da linha de pensamento de Däniken e Charroux. Para McKenna, os “deuses” estão efetivamente presentes, sim, numa dimensão paralela, num estado de consciência superior, mas agora acessíveis - através da receita mágica de acesso aos seus edifícios, aos seus universos. Esta receita consiste num bolo psicadélico, na prova dos “frutos proibidos” das pradarias, no “uso” de plantas, de cogumelos alucinogénicos (“o verdadeiro elo perdido”). Terence McKenna chamou-lhe “a árvore primordial do conhecimento”, o “pão dos deuses”.
A compreender melhor: esta dimensão a que se refere McKenna é uma dimensão real, “visitável”, teórica e praticamente igual para o estudante na China como para o xamã na Amazónia. Implica um ritual, sim, mas os “habitantes” e o ambiente destas dimensões são sempre os mesmos. Este espaço virtual (real, porém) pode ser uma construção humana, um meta-habitat edificado ao longo de milénios através de experimentação psicadélica, como pode porventura ser uma dimensão “demasiado” real e indicar a existência de campos do espectro sensorial humano alheios aos sentidos comuns, perpetuados por uma elite alucinada, perspicaz porém, meta-aventureira, (psiconauta) e hiper-consciente.


Neste vídeo Terence McKenna aborda a sociedade de um ponto de vista biológico e interpreta o fluxo entre a doença e a cura da Humanidade (ver essencialmente a partir do minuto 5) (legendado)

McKenna formou-se em Ecologia, Conservação de Recursos e Xamanismo pela Universidade da Califónia em Berkeley, EUA. Após a conclusão do curso viajou pelos trópicos asiáticos e pela América Central, estudando as bases ontológicas do xamanismo e da etno-farmacologia da transformação espiritual.
Agora, reparem: McKenna é conhecido essencialmente como um filósofo moderno, autor americano, orador, metafísico, historiador de arte, etnobotânico e, como já foi referido, filósofo e psiconauta. Descrevia-se a ele próprio como anarquista, anti-materialista, ambientalista, feminista, platónico e céptico. Ficou conhecido pelos seus estudos e conhecimentos em psicadelismo, metafísica, enteogénicos, xamanismo, misticismo, hermetismo, neoplatonismo, biologia, geologia, física, fenomenologia e pela sua Teoria da Novidade.
A mudança de milénio coincidiu com a morte de Terence McKenna. Sucessivos ataques de cefaleias levaram-no a confessar que estava a passar pela mais poderosa experiência psicodélica que algumas vezes havia experimentado e, após vários meses de tratamentos, morreu de cancro cerebral. Com dois filhos e a viver no Havai, McKenna morreu no ano de 2000, com 54 anos, após um longo tour de palestras.

McKenna explorou o nosso passado do ponto de vista do misticismo e revivalismo arcaico, de forma a descobrir os elementos fundamentais e primários e o funcionamento cósmico tanto do universo como do ser humano e de ambos como entes interdependentes. A intenção, o objetivo, é, fundamentalmente, reaprender a religação (origem do termo “religião”).
Não é um retrocesso, um retorno ao Passado – é hiper-evolução. É reencontrar o trilho perdido da nossa caminhada “natural”, reconectar o ser humano a si próprio e à Natureza, refeminizar o mundo, abraçar Gaia, e apreender a forma de nos recolocarmos no nosso lugar, de redescobrirmos a nossa matriz, de nos retirar deste mundo plastificado e suicida e de participar com plenitude na magia e no êxtase da existência – isto faz-se , para o autor, também através das drogas psicodélicas, como parte da longa marcha em direção à evolução humana.
“O Pão dos Deuses” (Via Optima, Oficina Editorial, Lda. (1992)


Boom Festival – O Neo-tribalismo em revivalismo arcaico. As drogas na Zona Autónoma Provisória, fora das malhas da linearidade.

Charroux diz-nos que o que realmente importa parece manter-se secreto. Desmistifica uma História que ele crê deturpada para servir propósitos de controle. O media que nos conectava aos nossos visitantes estrangeiros e a forma de ver (e tocar) todas as outras 28 teclas do piano tem estado sempre à nossa volta. Mas foi-nos proibida a sua compreensão e a sua experimentação (McKenna). E se os nossos amigos extraterrestres, extradimensionais, nos tivessem deixado a fórmula de comunicação, de união, o convite, a chave mágica, plantada por aí? Afinal crescem, em verdade, como cogumelos. São as drogas (não as legais, pois essas são instrumentos de controle, mas as naturais, aquelas que tomamos há já milénios) a chave da compreensão de um universo mais amplo? São elas a forma de navegar em universos psíquicos que nos transportam para o “palácio da sabedoria”, através das “portas da percepção”?

Espero que tenham gostado da viagem.


Fontes das imagens: 1, 2, 3, 4, 5, 6.




fonte: http://obviousmag.org/

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