segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Descoberto na Argentina o mais antigo dinossauro carnívoro

Uma equipe de paleontólogos e geólogos da Argentina e dos Estados Unidos anunciou a descoberta do mais antigo dinossauro carnívoro já encontrado, que percorria a América do Sul em busca de presas no início da era dos grandes répteis, há cerca de 230 milhões de anos.  
Com cauda e pescoço compridos, pesando entre 4 e 7 quilos, o novo dinossauro foi batizado de Eodromaeus, o "corredor do alvorecer". O estudo que descreve esse achado, no lado argentino da Cordilheira dos Andes, foi publicado na edição desta sexta-feira, 14, da revista Science. 

De acordo com Paul Sereno, paleontólogo da Universidade de Chicago, trata-se do mais antigo dinossauro conhecido na longa linha de carnívoros que iria culminar no Tyrannosaurus rex, no fim do período dos grandes répteis. "Quem poderia prever o que a evolução tinha reservado aos descendentes desse pequeno e veloz predador?”, questionou Sereno. 

O grupo de cientistas descreveu um esqueleto quase completo da nova espécie, com base na rara descoberta de dois fósseis lado a lado. O artigo apresenta uma nova visão do início da era dos dinossauros - um período-chave que tem recebido menos atenção que a fase de desaparecimento desses répteis. “É um período mais complexo do que se supunha”, afirmou Sereno. 

Situado no pitoresco sopé dos Andes, o local da descoberta é conhecido como Vale da Lua, na província argentina de San Juan, segundo o autor principal do artigo, Ricardo Martinez, da Universidade Nacional de San Juan, na Argentina.

“Duas gerações de trabalhos de campo no local resultaram na melhor - e única - visão que temos do nascimento dos dinossauros. Com uma caminhada pelo vale, é possível literalmente passear sobre o cemitério dos primeiros dinossauros”, disse Martinez.

A área já foi uma grande fenda no extremo sudoeste do supercontinente Pangea, na era Mesozoica. Sedimentos cobriram os esqueletos durante um período de cinco milhões de anos, acumulando eventualmente uma espessura de mais de 700 metros.

Vulcões associados à cordilheira ocasionalmente expeliam cinzas vulcânicas no vale, permitindo que a equipe utilizasse elementos radioativos presentes nas camadas de cinza para determinar a idade dos sedimentos.

“Os radioisótopos - que funcionam como nossos relógios nas rochas - não apenas situaram a nova espécie no tempo, mas também nos deram uma perspectiva sobre o desenvolvimento desse vale tão importante”, destacou Paul Renne, diretor do Centro de Geocronologia de Berkeley, na Califórnia. “Cerca de 5 milhões de anos estão representados nessas camadas, de um lado até o outro”, explicou.

Nas rochas mais antigas, o Eodromaeus viveu lado a lado com o Eoraptor, um dinossauro herbívoro de tamanho semelhante, que Sereno e sua equipe descobriram no vale em 1991. Os descendentes do Eoraptor incluiriam eventualmente os saurópodes, um grupo de dinossauros gigantes, quadrúpedes e de pescoço longo.

O Eodromaeus, com dentes caninos tão afiados como suas garras, é o precursor dos carnívoros conhecidos como terápodes e, eventualmente, das aves. “Estamos tentando montar um retrato da vida dos dinossauros mais primitivos. Sua trajetória evolutiva é cheia de desdobramentos, mas naquele ponto eles eram bem semelhantes”, apontou Sereno.

As questões mais difíceis relacionadas ao começo da era dos dinossauros incluem, segundo os pesquisadores, o que lhes teria dado vantagem em relação aos competidores e com que rapidez conseguiram estabelecer seu predomínio. Na época do Eodromaeus, outros tipos de répteis superavam os dinossauros - como os rincossauros, semelhantes a lagartos, e outros répteis parecidos com mamíferos.

Os autores analisaram milhares de fósseis desenterrados no vale para descobrir, como observou Martinez, que “os dinossauros levaram tempo para dominar o cenário”. Seus competidores ficaram para trás, sucessivamente, ao longo de milhões de anos.

Nas falésias no extremo do Vale da Lua, dinossauros maiores - herbívoros e carnívoros - evoluíram para tamanhos várias vezes maiores que o do Eoraptor e do Eodromaeus, mas só mais tarde eles dominariam todos os hábitats terrestres, nos períodos Jurássico e Cretáceo.

“A história desse vale sugere que não foi apenas uma determinada vantagem ou um único golpe de sorte que garantiu o domínio dos dinossauros, mas sim um longo período de experimentação evolucionária à sombra de outros grupos”, disse sereno.

Outros pesquisadores envolvidos no estudo investigaram as mudanças climáticas e outras condições por meio das camadas do vale. “A era dos dinossauros está ficando em evidência”, completou Martinez.
Science
jornalvarginhahoje

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