terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

As operações navais

As vésperas da campanha norueguesa, o corpo principal da Home Fleet encontrava-se em Scapa Flow. Desde a perda do Royal Oak, as defesas desse ancoradouro tinham sido reforçadas, e a frota havia estado operando daquela base durante as últimas cinco ou seis semanas. Periodicamente durante esse lapso os alemães lançavam ataques aéreos contra Scapa, e dois deles tiveram lugar na semana que precedeu a invasão, além de um reide fracassado para atingir as Orcades. Mas na última dessas visitas, a 8 de abril, a frota não mais estava lá.

A razão era a presença no mar de unidades navais alemães. No domingo, 7 de abril, aviões britânicos de reconhecimento avistaram uma divisão naval alemã, incluindo cruzadores de batalha, rumando para norte ao largo de Heligoland. Logo que essa informação foi recebida, a frota pôs-se ao mar em busca do inimigo. Havia todas as perspectivas de que os navios alemães, mesmo que não fossem alcançados, seriam impelidos para uma armadilha; é que ao largo da Noruega setentrional se encontrava no momento poderosa força britânica preparando-se para o cumprimento da tarefa de espalhar novos campos de mina ao alvorecer do dia seguinte.

O fato dos alemães terem escapado foi devido a uma combinação de boa sorte e mau tempo. A sorte do destróier britânico Glowworm mostrou quão limitada eram as possibilidades da frota alemã. Esse navio perdera um homem, caído ao mar, no domingo, dia 7 de abril, e retardou-se por algum tempo à sua procura. No dia seguinte estava rumando para norte a fim de unir-se ao resto da força quando se encontrou com dois destróieres alemães. Mal se tinha engajado na luta e outro navio surgiu pelo lado norte - o novo cruzados alemão Admiral Hipper. Antes de poder perceber e informar que tinha topado com a principal frota alemã, o Glowworm foi posto a pique, com a perda do grosso de sua tripulação.

Novamente, no dia seguinte, a esquadra britânica roçou as bordas da força inimiga. Ao romper do dia de 9 de abril, terça-feira, à hora marcada para o ataque da expedição alemã, o cruzador de batalha Renown avistou através da tempestade de neve que então caíra ao largo de Narvik o navio de guerra alemão Scharnhorst, acompanhado do Admiral Hipper. De uma distância de 16.000 m, o Renown atingiu o Scharnhorst com dois impactos, um dos quais pôs fora de ação o fire control da belonave alemã; mas o Scharnhorst, auxiliado pela tempestade e por uma cortina de fumaça lançada pelo cruzador que o acompanhava, conseguiu escapar-lhe de vista, embora o Renown estivesse fazendo vinte e quatro nós no mar forte e se tivesse distanciado bastante de seus destróieres. No decurso da ação, ele foi atingido por uma granada que o perfurou na altura da linha d'água, mas não explodiu e não causou baixas a bordo.

Contudo, apesar desses exemplos de boa sorte, os alemães pagaram um preço substancial em perdas navais pelo sucesso de sua empresa. O saldo final não pôde ser calculado com precisão. A afirmativa norueguesa de ter afundado o navio de guerra Gneisenau no fiorde de Oslo era encarada pelos observadores com certa cautela. Um submarino britânico disputou com as baterias de costa norueguesas a glória do afundamento do cruzador Karlsruhe. O cruzador que aviadores britânicos acreditavam ter posto a pique no porto de Bergen era, de acordo com testemunhas oculares, o Köln, que já tinha sido avariado por um torpedo. Os alemães admitiram a perda do Blücher e do Karlsruhe, e parecia certo que o Emden tinha sido afundado por um lança-minas norueguês e que o Admiral Scheer tinha sido posto fora de ação por um submarino britânico. Uma autoridade naval britânica calculou as perdas navais nazistas ao fim da primeira semana em 50% de sua força em navios de guerra de primeira classe, 33% dos cruzadores pesados, 83% dos cruzadores leves e 43% dos destróieres. Mesmo se permitindo uma razoável margem de erros, era certo que a frota alemã tinha sido anulada como força ofensiva eficiente.

O significado disso, entretanto, poderia ser facilmente superestimado. A frota alemã de superfície, mesmo na plenitude de sua força, jamais esteve em condições de desafiar a marinha britânica. Na melhor das hipóteses, poderia ser uma força de corsários; e mesmo sob esta forma de atividade, seus sucessos tinham sido tão pequenos que podiam ser considerados desprezíveis. Se, entretanto, pôde ser utilizada para assegurar a conquista da Noruega pelos alemães, com as suas perspectivas de bases aéreas e de submarinos dentro de pequeno raio de alcance da Inglaterra, a perda de um terço ou mesmo da metade de seus efetivos podia não parecer um preço alto demais a pagar. Uma vez estabelecidos nessas posições, os alemães podiam confiar mais na sua força aérea e submarina do que nas belonaves de superfície para proteger suas comunicações e anular todos os esforços da potência marítima britânica para desalojá-los.

Ficou demonstrado que os cálculos alemães em ambos os casos, haviam sido feitos sobre bases bastante razoáveis. Os golpes aliados nas comunicações inimigas no Skaggerak eram rápidos e vigorosos e suas fases iniciais foram tão eficazes, que os alemães na Noruega ficaram dependendo em grande parte do transporte aéreo para a obtenção de reforços. Mas a natureza das operações aliadas era seriamente limitada pelas circunstâncias. Conforme Churchill explicou mais tarde, a potencialidade aérea alemã significava que uma continuada patrulha de superfície naquela zona teria resultado em perdas capazes de conduzir a um desastre naval. A confiança foi, portanto, posta num bloqueio submarino completado por minas. Os submarinos britânicos receberam ordens de afundar todos os navios alemães que se lhes apresentassem. Foram lançadas minas, não somente no Skaggerak e no Kattegat, mas também ao longo da costa báltica da Alemanha. Essas diversas atividades resultaram na perda para os alemães, no decorrer de três semanas, de pelo menos vinte e oito navios de transporte e abastecimento e sérias avarias em uma dúzia de outros. Mas mesmo ao preço de tais perdas, os navios alemães continuavam a circular, e a relativa segurança de suas comunicações, abalada pelos assaltos iniciais, foi gradualmente restabelecida.

A possibilidade de desalojar imediatamente os alemães por meio de um ataque direto também acarretava graves riscos. Embora as guarnições alemães dos portos fora de Oslo raramente se compusessem no começo de mais que dois mil soldados, o avanço inicial lhes dera uma vantagem real. Navios invasores teriam de enfrentar não somente ataques aéreos em águas apertadas em que havia pouco espaço para manobras, mas também o perigo adicional representado pelas baterias da costa e pela força naval inimiga emboscada nos fiordes profundamente recortados. Um ataque a Oslo, como os nazistas estavam no comando dos fortes, teria sido suicídio. O ataque a Trondheim foi tomado em consideração, e uma força que incluía tropas canadenses foi aprontada para a expedição, marcada para o dia 25 de abril. Mas os êxitos iniciais no desembarque de tropas em Andalsne e Trondheim decidiram os peritos militares a se concentrarem nesses pontos, de preferência a um ataque direto a Trondheim, que oferecia riscos de sérias perdas.

No caso de Narvik, a situação se desenvolveu de modo diferente, graças em grande parte à iniciativa do comandante da flotilha britânica de destróieres naquela região. A 9 de abril, essa flotilha de cinco navios, sob o comando do capitão Warburton-Lee, estava patrulhando o fiorde Ocidental, entre as ilhas de Lofoten e o continente. Fazendo reconhecimentos, o comandante soube que Narvik já estava firmemente dominada e que sendo os destróieres nazistas dos maiores e mais modernos - força que teria quase o dobro da potência de fogo da divisão britânica - se encontravam no porto. Ao saber dessa situação, o Almirantado, se bem que particularmente ansioso por destruir os navios de abastecimento que acompanhavam a expedição alemã, hesitava em ordenar um ataque. Mas quando foi dito ao capitão Warburton-Lee que ele próprio deveria ser o único juiz, e que o Almirantado o apoiaria fosse qual fosse a sua atitude, pouca dúvida poderia haver sobre o que sucederia.

Às primeiras horas de 10 de abril, a flotilha iniciou a penetração do fiorde. Esperava com certeza encontrar o canal minado e o porto defendido pelas baterias de terra. Nevava tão fortemente que, como um oficial informou, "Jamais vimos nenhum dos lados do fiorde, exceto no começo, quando quase o abalroamos uma vez". Sua entrada aparentemente pegou as forças alemães completamente de surpresa, pois que foram capazes de afundar os navios de abastecimento no porto antes de terem sido forçados a retirar pelo fogo do inimigo mais forte. O destróier Hunter foi afundado; o Hardy foi atingido tão seriamente que teve de ser encalhado e abandonado (seus sobreviventes meteram-se terra a dentro e foram libertados quatro dias mais tarde); o Hotspur ficou avariado, mas conseguiu sair com os restantes dois navios. Na retirada, coroaram o feito com o afundamento de um transporte alemão de munições. Deixaram atrás de si um destróier alemão afundado e três em chamas.

Essa façanha aplainou o caminho para a eliminação da força naval alemã três dias mais tarde. A 13 de abril, nove destróieres britânicos, acompanhados pelo couraçado Warspite cuja tarefa era silenciar as baterias de costa, penetraram em Narvik, onde se encontravam então sete destróieres alemães. Três destes foram destruídos no decurso de um encontro que durou duas horas e meia. Os restantes escaparam pela estreita entrada de 16 km do fiorde de Rombaks rumo ao leste de Narvik, sempre perseguidos pelos destróieres britânicos. Um dos navios alemães, já gravemente danificado, foi incendiado; os restantes três foram encalhados e perfurados pelos respectivos tripulantes, que fugiram para terra. Três dos destróieres britânicos ficaram danificados durante a ação; mas a força alemã tinha sido varrida, e com ela desaparecera toda a esperança alemã de reforçar sua guarnição por mar.

Mas Narvik mesma ainda não estava em mãos aliadas; e embora estivesse, sua situação longínqua e a carência de comunicações terrestres tê-la-ia tornado quase inútil como base de operações militares contra as principais forças alemães. O patrulhamento naval ao largo da costa ocidental evitava que quaisquer reforços substanciais alcançassem as guarnições de Bergen e Trondheim. Mas expulsá-las dali exigia a realização de operações militares; e agora restava a marinha tornar possível o desembarque eficaz de uma força de efetivo considerável e bem equipada, se se quisesse expulsar os invasores da Noruega.
 
 

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