A invasão do Noruega
As forças navais alemães que se movimentavam simultaneamente contra seis portos noruegueses, assim procediam com o conhecimento de que o sucesso de sua empresa não dependia somente delas próprias. Reforços aguardavam-nas em vários pontos nos bojos de navios alemães que, chegando à Noruega ostensivamente com lastro, na realidade ocultavam as tropas e equipamentos mecanizados destinados à invasão. O elemento de surpresa, acentuado por essa tática, era uma grande vantagem inicial, permitindo a um punhado de homens tomar posições essenciais enquanto os noruegueses os olhavam atônitos. E, como toque final, havia os agentes que esperavam os nazistas dentro da Noruega e os quais, ao tempo marcado, realizaram as missões mais importantes que lhes tinham sido confiadas, assegurando assim a vitória.
O ministro do Exterior da Noruega reduziu mais tarde o alcance deste auxílio interno e alegou a 6 de maio que ainda estava para descobrir um autêntico caso de traição. "Pode custar a ser acreditado", disse ele, "mas fomos tomados de surpresa. Eles vieram sobre nós à noite, enquanto dormíamos." Há pouca dúvida de que grande parte das conversas sobre quinta-coluna e cavalos de Tróia era exagerada, e que em muitos casos a surpresa foi obtida não em conseqüência da deserção norueguesa, mas em resultado de falsas ordens expedidas pelos próprios nazistas. A cooperação interna, contudo, de qualquer fonte que partisse, permaneceu como sendo o aspecto vital de todo o quadro. A confiança mesma com que os navios de guerra alemães atravessaram os fiordes estreitos e sinuosos, sem se preocupar com barreiras de minas protetoras ou com o perigo das baterias de costa, demonstrava a completa certeza que tinham de que o seu caminho já fôra eficazmente preparado.
Em Narvik, por exemplo, os nazistas foram auxiliados tanto pelas atividades do cônsul alemão como pela ação do comandante militar norueguês. O primeiro manejou os fios dos preparativos, inclusive a presença de cargueiros com o seu carregamento oculto de tropas. O último deixou de tomar as providências e de emitir as ordens que pudessem tornar a resistência possível. Dois vasos de guerra noruegueses, surpreendidos no porto de Narvik, abriram fogo conta os navios alemães quando surgiram à vista através de forte temporal de neve; mas foram quase que imediatamente torpedeados, e a própria cidade estava ocupada dentro de meia hora sem que um só tiro fosse disparado de terra. Em Trondheim, de conformidade com um comunicado norueguês, os vasos de guerra alemães tinham-se rodeado de uma flotilha de pequenos barcos noruegueses que impediu os fortes de Agdenes de abrir fogo. Também neste caso, a cidade foi ocupada sem resistência; mas o forte de Hegre, ao leste, ofereceu uma resistência que prosseguiu por toda a campanha subseqüente. Bergen, Stavanger e Kristiansand foram da mesma forma capturados após uma resistência relativamente pequena.
Era em Oslo, contudo, que estava a chave de toda a operação. Neste caso também, uma combinação de surpresa e de falsas ordens reduziu a resistência ao mínimo. Houve breve luta no aeroporto, e os fortes de Oskaraorg impuseram curta resistência. Mas mesmo a perda de dois vasos de guerra na passagem pelos estreitos deixou de paralisar a expedição alemã, que, efetivamente, ocupou a capital durante a manhã de 9 de abril.
As autoridades norueguesas souberam à meia-noite que navios alemães tinham entrado no fiorde, e o gabinete se reuniu no ministério do Exterior, às 5 da madrugada, com as hostilidades já se desenvolvendo, chegou o ministro alemão para apresentar a nota que informava a Noruega de que estava sendo tomada sob a proteção benevolente do Reich e exigia a completa rendição do país ao controle alemão. Com certa relutância, o enviado alemão permitiu ao ministro das Relações Exteriores, Koht, consultasse seus colegas antes de receber uma resposta. A resposta foi uma rejeição imediata, que envolvia a certeza de hostilidade. O governo se transferiu imediatamente para Hamar e convocou o Storting (Parlamento da Noruega) para informá-lo dos últimos acontecimentos e receber sua aprovação. A tarde, já na iminência de um ataque alemão a Hamar, o governo transferiu-se de novo, dessa vez para Elverum.
Nem todas as possibilidades de acordo, entretanto, haviam sido desvanecidas. Em Elverum, foi recebido um pedido do ministro alemão, dr. Brauer, para uma audiência com o rei Haakon. O dr. Brauer era um homem em que o professor Koht tinha considerável confiança, e parecia possível que novas e mais aceitáveis propostas fossem apresentadas. O Storting, portanto, concordou em associar três de seus próprios componentes com o professor Koht, e o dr. Brauer foi informado de que seria recebido no dia seguinte.
Havia certa dificuldade em torno da audiência, já que os alemães, de modo mais sem tato, assaltaram Elverum antes que ela se pudesse realizar. Foi somente a sua recusa em mãos dos noruegueses que capacitou o ministro alemão a obter a entrevista que tinha solicitado. Ficou demonstrado, entretanto, que a mesma era inútil. O dr. Brauer informou o rei, e depois a delegação, de que a mudança de situação obrigava a novas exigências. A principal destas era a da resignação do atual ministério e do estabelecimento de um novo governo sob a chefia do major Vidkun Quisling, líder do Partido Nazista da Noruega. Conquanto o sr. Koht parecesse pronto a considerar uma mudança governamental que tomasse possível a colaboração com a Alemanha, essa submissão a um títere desacreditado era uma exigência que ia longe demais. O rei insistiu em que não poderia nomear um governo que não gozasse da confiança do povo, e o regime Quisling estaria em pé de igualdade com o que os russos haviam colocado na região da Carélia após a invasão da Finlândia. Consentiu em reservar a resposta para depois de consultar seu governo legal, mas este concordou com a sua decisão, que foi comunicada ao dr. Brauer na noite de 10 de abril. A pergunta do ministro alemão sobre se isso significava que a resistência norueguesa continuaria, a resposta foi: "Sim, o mais demoradamente possível".
Havia, de fato, limites muito sérios à extensão do tempo que a Noruega poderia esperar manter-se por si própria. Mesmo em condições favoráveis ela dificilmente poderia reunir mais que 100.000 soldados numa população de escassos três milhões de habitantes. Tomada de surpresa como fôra, parecia improvável que mais do que a metade desse número estivesse à sua disposição. Os alemães, a 11 de abril, tinham talvez 50.000 homens na Noruega, bem equipados com armas mais leves, ainda que não providos plenamente de tanques e artilharia pesada. A tarefa imediata dos noruegueses era opor a maior barreira possível a essas forças modernas e particularmente evitar que seu corpo principal, em Oslo, estabelecesse junção efetiva com as guarnições muito mais fracas que tinham ocupado os outros portos noruegueses.
Isso significava, com efeito, evitar um avanço sobre o norte ou leste do fiorde de Oslo. A marcha alemã para o oeste pouco mais poderia fazer do que reforçar o controle de um breve trecho costeiro. A marcha para o leste entretanto, abriria as comunicações com a fronteira sueca; e um avanço bem sucedido para o norte logo colocaria os invasores em posição de cortar o país em dois e consolidar o seu domínio em toda a Noruega meridional.
O imediato esforço norueguês constituiu, portanto, no traçar de um anel em torno dos alemães que se lançavam nessas duas direções. A marcha para o norte seguia pelo vale de Glommen, conduzindo às junções ferroviárias da Hamar e Elverum e guardado a leste pela fortaleza de Kongsvinger. A sudeste de Oslo, os alemães desembarcaram tropas à margem oriental do fiorde e abriram caminho para o interior. Essas eram forças aparentemente pequenas mas tinham diante de si pouco mais que improvisados destacamentos noruegueses. A 15 de abril, os alemães proclamaram ter atingido a fronteira sueca e estar no comando das defesas de ambas as margens do fiorde de Oslo; e no dia 18, a resistência norueguesa nessa zona parecia ter chegado ao fim.
Entrementes, os alemães pareciam ter-se ocupado da regularização de seus instrumentos de autoridade na Noruega. A completa ineficácia do major Quisling mesmo como títere ficou revelada quando, a 15 de abril, ele foi substituído por um antigo governador provincial e ministro da Justiça, Ingolf Christensen. Isto indicava ainda a esperança de que o Reich seria capaz de manter a ficção de um governo independente a exercer autoridade efetiva e aceitar a proteção alemã, mas essa esperança rapidamente se desfez. A 19 de abril, ele recebeu novo golpe quando Hitler ordenou a expulsão do ministro norueguês de Berlim. E a 24 de abril, a Alemanha anunciou sua soberania irrestrita sobre os distritos ocupados da Noruega e nomeou um comissário responsável apenas perante o próprio Hitler.
A área que ela governava, entretanto, era distintamente limitada. As guarnições nazistas obtiveram pouco sucesso na extensão de seu controle em torno dos portos ocidentais. Ao norte de Oslo, os alemães exerciam pressão sobre os vales de montanhas com unidades avançadas, mas o seu controle além de Hamar era ainda precário. Os noruegueses continuavam a opor encarniçada resistência, e começava a chegar-lhes socorros de parte dos aliados. O curso futuro dos acontecimentos dependeria agora do êxito que a marinha britânica tivesse em cortar as comunicações alemães com a Noruega e em abrir o caminho para o desembarque de uma força aliada considerável.
O ministro do Exterior da Noruega reduziu mais tarde o alcance deste auxílio interno e alegou a 6 de maio que ainda estava para descobrir um autêntico caso de traição. "Pode custar a ser acreditado", disse ele, "mas fomos tomados de surpresa. Eles vieram sobre nós à noite, enquanto dormíamos." Há pouca dúvida de que grande parte das conversas sobre quinta-coluna e cavalos de Tróia era exagerada, e que em muitos casos a surpresa foi obtida não em conseqüência da deserção norueguesa, mas em resultado de falsas ordens expedidas pelos próprios nazistas. A cooperação interna, contudo, de qualquer fonte que partisse, permaneceu como sendo o aspecto vital de todo o quadro. A confiança mesma com que os navios de guerra alemães atravessaram os fiordes estreitos e sinuosos, sem se preocupar com barreiras de minas protetoras ou com o perigo das baterias de costa, demonstrava a completa certeza que tinham de que o seu caminho já fôra eficazmente preparado.
Em Narvik, por exemplo, os nazistas foram auxiliados tanto pelas atividades do cônsul alemão como pela ação do comandante militar norueguês. O primeiro manejou os fios dos preparativos, inclusive a presença de cargueiros com o seu carregamento oculto de tropas. O último deixou de tomar as providências e de emitir as ordens que pudessem tornar a resistência possível. Dois vasos de guerra noruegueses, surpreendidos no porto de Narvik, abriram fogo conta os navios alemães quando surgiram à vista através de forte temporal de neve; mas foram quase que imediatamente torpedeados, e a própria cidade estava ocupada dentro de meia hora sem que um só tiro fosse disparado de terra. Em Trondheim, de conformidade com um comunicado norueguês, os vasos de guerra alemães tinham-se rodeado de uma flotilha de pequenos barcos noruegueses que impediu os fortes de Agdenes de abrir fogo. Também neste caso, a cidade foi ocupada sem resistência; mas o forte de Hegre, ao leste, ofereceu uma resistência que prosseguiu por toda a campanha subseqüente. Bergen, Stavanger e Kristiansand foram da mesma forma capturados após uma resistência relativamente pequena.
Era em Oslo, contudo, que estava a chave de toda a operação. Neste caso também, uma combinação de surpresa e de falsas ordens reduziu a resistência ao mínimo. Houve breve luta no aeroporto, e os fortes de Oskaraorg impuseram curta resistência. Mas mesmo a perda de dois vasos de guerra na passagem pelos estreitos deixou de paralisar a expedição alemã, que, efetivamente, ocupou a capital durante a manhã de 9 de abril.
As autoridades norueguesas souberam à meia-noite que navios alemães tinham entrado no fiorde, e o gabinete se reuniu no ministério do Exterior, às 5 da madrugada, com as hostilidades já se desenvolvendo, chegou o ministro alemão para apresentar a nota que informava a Noruega de que estava sendo tomada sob a proteção benevolente do Reich e exigia a completa rendição do país ao controle alemão. Com certa relutância, o enviado alemão permitiu ao ministro das Relações Exteriores, Koht, consultasse seus colegas antes de receber uma resposta. A resposta foi uma rejeição imediata, que envolvia a certeza de hostilidade. O governo se transferiu imediatamente para Hamar e convocou o Storting (Parlamento da Noruega) para informá-lo dos últimos acontecimentos e receber sua aprovação. A tarde, já na iminência de um ataque alemão a Hamar, o governo transferiu-se de novo, dessa vez para Elverum.
Nem todas as possibilidades de acordo, entretanto, haviam sido desvanecidas. Em Elverum, foi recebido um pedido do ministro alemão, dr. Brauer, para uma audiência com o rei Haakon. O dr. Brauer era um homem em que o professor Koht tinha considerável confiança, e parecia possível que novas e mais aceitáveis propostas fossem apresentadas. O Storting, portanto, concordou em associar três de seus próprios componentes com o professor Koht, e o dr. Brauer foi informado de que seria recebido no dia seguinte.
Havia certa dificuldade em torno da audiência, já que os alemães, de modo mais sem tato, assaltaram Elverum antes que ela se pudesse realizar. Foi somente a sua recusa em mãos dos noruegueses que capacitou o ministro alemão a obter a entrevista que tinha solicitado. Ficou demonstrado, entretanto, que a mesma era inútil. O dr. Brauer informou o rei, e depois a delegação, de que a mudança de situação obrigava a novas exigências. A principal destas era a da resignação do atual ministério e do estabelecimento de um novo governo sob a chefia do major Vidkun Quisling, líder do Partido Nazista da Noruega. Conquanto o sr. Koht parecesse pronto a considerar uma mudança governamental que tomasse possível a colaboração com a Alemanha, essa submissão a um títere desacreditado era uma exigência que ia longe demais. O rei insistiu em que não poderia nomear um governo que não gozasse da confiança do povo, e o regime Quisling estaria em pé de igualdade com o que os russos haviam colocado na região da Carélia após a invasão da Finlândia. Consentiu em reservar a resposta para depois de consultar seu governo legal, mas este concordou com a sua decisão, que foi comunicada ao dr. Brauer na noite de 10 de abril. A pergunta do ministro alemão sobre se isso significava que a resistência norueguesa continuaria, a resposta foi: "Sim, o mais demoradamente possível".
Havia, de fato, limites muito sérios à extensão do tempo que a Noruega poderia esperar manter-se por si própria. Mesmo em condições favoráveis ela dificilmente poderia reunir mais que 100.000 soldados numa população de escassos três milhões de habitantes. Tomada de surpresa como fôra, parecia improvável que mais do que a metade desse número estivesse à sua disposição. Os alemães, a 11 de abril, tinham talvez 50.000 homens na Noruega, bem equipados com armas mais leves, ainda que não providos plenamente de tanques e artilharia pesada. A tarefa imediata dos noruegueses era opor a maior barreira possível a essas forças modernas e particularmente evitar que seu corpo principal, em Oslo, estabelecesse junção efetiva com as guarnições muito mais fracas que tinham ocupado os outros portos noruegueses.
Isso significava, com efeito, evitar um avanço sobre o norte ou leste do fiorde de Oslo. A marcha alemã para o oeste pouco mais poderia fazer do que reforçar o controle de um breve trecho costeiro. A marcha para o leste entretanto, abriria as comunicações com a fronteira sueca; e um avanço bem sucedido para o norte logo colocaria os invasores em posição de cortar o país em dois e consolidar o seu domínio em toda a Noruega meridional.
O imediato esforço norueguês constituiu, portanto, no traçar de um anel em torno dos alemães que se lançavam nessas duas direções. A marcha para o norte seguia pelo vale de Glommen, conduzindo às junções ferroviárias da Hamar e Elverum e guardado a leste pela fortaleza de Kongsvinger. A sudeste de Oslo, os alemães desembarcaram tropas à margem oriental do fiorde e abriram caminho para o interior. Essas eram forças aparentemente pequenas mas tinham diante de si pouco mais que improvisados destacamentos noruegueses. A 15 de abril, os alemães proclamaram ter atingido a fronteira sueca e estar no comando das defesas de ambas as margens do fiorde de Oslo; e no dia 18, a resistência norueguesa nessa zona parecia ter chegado ao fim.
Entrementes, os alemães pareciam ter-se ocupado da regularização de seus instrumentos de autoridade na Noruega. A completa ineficácia do major Quisling mesmo como títere ficou revelada quando, a 15 de abril, ele foi substituído por um antigo governador provincial e ministro da Justiça, Ingolf Christensen. Isto indicava ainda a esperança de que o Reich seria capaz de manter a ficção de um governo independente a exercer autoridade efetiva e aceitar a proteção alemã, mas essa esperança rapidamente se desfez. A 19 de abril, ele recebeu novo golpe quando Hitler ordenou a expulsão do ministro norueguês de Berlim. E a 24 de abril, a Alemanha anunciou sua soberania irrestrita sobre os distritos ocupados da Noruega e nomeou um comissário responsável apenas perante o próprio Hitler.
A área que ela governava, entretanto, era distintamente limitada. As guarnições nazistas obtiveram pouco sucesso na extensão de seu controle em torno dos portos ocidentais. Ao norte de Oslo, os alemães exerciam pressão sobre os vales de montanhas com unidades avançadas, mas o seu controle além de Hamar era ainda precário. Os noruegueses continuavam a opor encarniçada resistência, e começava a chegar-lhes socorros de parte dos aliados. O curso futuro dos acontecimentos dependeria agora do êxito que a marinha britânica tivesse em cortar as comunicações alemães com a Noruega e em abrir o caminho para o desembarque de uma força aliada considerável.
fonte: http://www.2guerra.com.br
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