terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Canhotos ainda são um mistério para a ciência; veja teorias

O mistério não é recente. No século 19, o médico Cesare Lombroso, fundador da Escola Italiana de Criminologia Positivista, propunha conexão entre a dominância da mão esquerda e uma evidência patológica de primitivismo e criminalidade. Os estudos do médico italiano chegaram a ser relacionados com os princípios das ideias de eugenismo na Europa. Canhotos foram chamados de feiticeiros e de doentes, e muitos não tinham coragem de se assumir, devido ao preconceito reinante então. Embora a ciência já tenha abandonado há tempo esses conceitos, a gênese da mão esquerda dominante segue um desafio para os pesquisadores.



O resultado dessa teoria de Lombroso e outras afirmações similares é que, no Brasil, assim como em outros países ocidentais, os canhotos eram mal tratados até meados do século 20. Muitas pessoas contam que eram vítimas de repressão e tinham a mão esquerda amarrada para que treinassem o uso da direita.

No século 18, o cientista, jornalista e diplomata Benjamin Franklin relatou, em um ensaio, as agruras sofridas pela mão esquerda e incitou a uma mudança de percepção dos educadores: "Me dirijo a todos os amigos da juventude e os convoco a direcionar sua compaixão ao meu destino triste para remover os preconceitos dos quais sou vítima". Ele assina o texto como se fosse a própria mão esquerda a sua autora, embora não se tenha provas concretas de que Franklin fosse de fato canhoto.

10% de canhotos

Atualmente, há muitas premissas positivas em relação aos que preferem usar a mão esquerda. O Instituto Francês de Esporte e Educação Física afirma que os esportistas canhotos, especialmente atletas de atividades individuais como esgrima e boxe, têm melhor desempenho.

O tema, no entanto, ainda é muito estudado e ganha contornos diferentes com o desenvolvimento de novas tecnologias de análise do cérebro. Mesmo assim, até hoje, ninguém sabe explicar por que há uma predominância tão grande de destros na sociedade. A população mundial é composta por apenas 10% de canhotos, segundo números da Organização Mundial da Saúde.

Teorias

A premissa patológica mais séria, ou talvez mais ofensiva, é de que os canhotos tenham sofrido sérios danos ao cérebro durante o nascimento. Porém a teoria, de autoria do pesquisador Stanley Coren, da Universidade de British Columbia, é contestada nos meios acadêmicos por não ter evidências suficientes e não apontar especificamente as causas genéticas.

Evidências do aumento da possibilidade de nascimento de canhotos estão em um estudo dinamarquês publicado em 2003. Os dados referem-se a um grupo de 834 mães daquele país e seus filhos de três anos. Os resultados mostraram que as grávidas que sofreram eventos traumáticos durante a gestação, como a morte de uma pessoa próxima ou demissão, tinham probabilidade praticamente quatro vezes maior de gerarem um filho canhoto.

Estudar o cérebro

A importância do estudo dos canhotos não é subestimada pela comunidade científica. As mais recentes pesquisas sugerem que descobrir por que há predominância de uma mão sobre a outra ajudará a descobrir detalhes sobre transtornos relacionados ao desenvolvimento do cérebro, como esquizofrenia, dislexia, déficit de atenção e hiperatividade. Segundo alguns estudos, esses transtornos são mais comuns em canhotos. Estima-se que cerca de 20% dos canhotos têm esquizofrenia, apesar de as causas permanecerem desconhecidas. Como todo o mistério que recobre o assunto, há pesquisas que relativizam essa tendência.

O professor de psicologia da Northwestern University Robin Nusslock explicou em entrevista ao Terra que canhotos são proibidos de algumas investigações neurológicas. "(Os canhotos) Não podem participar porque se sabe que o cérebro deles é diferente. Nas minhas pesquisas sobre desordens psicológicas e de humor, nunca um canhoto participou", revelou o especialista.

Os hemisférios

O córtex cerebral é dividido em dois hemisférios. Cada hemisfério é dividido em quatro lóbulos. Os lóbulos frontais direito e esquerdo desempenham diversas tarefas para a resolução de problemas e a organização de tarefas. Eles também controlam partes da fala e do movimento, incluindo o controle das mãos e a razão por trás das emoções. De maneira geral, o hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo, e vice-versa. Por isso, o cérebro de um canhoto não é igual ao de um destro. Até que ponto se configuram as diferenças, não se sabe ao certo.

A divisão cerebral é muito complexa. Ao longo do século 20, estudos revelaram distinções básicas entre o lado direito do cérebro, responsável pelas emoções, e o lado esquerdo, responsável pela razão e pela lógica. Nos anos 1980 e 1990, no entanto, a dicotomia certeira passou a se esvanecer. As tarefas realizadas e coordenadas pelos dois hemisférios se misturam e interligam muito mais do que se imaginava.

Em seu livro Fantasmas do Cérebro, o neurocientista britânico V. S. Ramachandran sugere uma interpretação para o processamento dos impulsos sensoriais recebidos pelo cérebro: "A tarefa do hemisfério esquerdo é criar um sistema de crença ou modelo e categorizar as experiências nesse sistema... A tarefa do hemisfério direito é brincar de advogado do diabo, questionar o status quo e procurar inconsistências globais".

Sarcasmo

Muitas dessas descobertas ocorrem com pacientes que tiveram lesões em um ou outro lado do cérebro. Um exemplo se encontra no livro Left Stuff (Como os canhotos sobreviveram e tiveram sucesso em uma sociedade de destros, 2009, de Melissa Roth): "Se um paciente com uma lesão no hemisfério direito ouve alguém dizer 'Bom trabalho' em um tom sarcástico, ele pode ficar confuso e não interpretar corretamente o significado do comentário. Enquanto o hemisfério esquerdo pode processar significados literais da linguagem, ele precisa da parte direita para compreender elementos subjetivos do discurso, como a entonação.

O mistério continua

Em 2007, uma descoberta que causou certo alvoroço entre os especialistas foi a denominação de um gene chamado LRRTM1. Alguns chegaram a afirmar que esse gene era a raiz ou o principal fator para uma pessoa nascer canhota. Contudo o pesquisador Clyde Franks disse, em entrevista ao Terra, que isso não é exatamente assim. O professor visitante de Oxford revela que o gene é apenas um aspecto importante do funcionamento do cérebro. "O LRRTM1 é apenas o fator que sabemos que é de maior contribuição. Esse gene afeta a assimetria do cérebro, uma das causas de esquizofrenia e mudanças bruscas de comportamento", explicou.

Ele afirmou também que sabemos ainda muito pouco sobre a biologia dos canhotos e que levará tempo até chegarmos a uma descoberta definitiva. "Nada sobre os processos moleculares é entendido. Se começa por aí. O que sabemos é que temos uma tendência muito maior a sermos destros, e ser canhoto é uma variação do padrão genético humano", relatou Francks.



JVH

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