Lambari - MG - 1850 - Inauguração da temporada de veraneio.
No ano de 1853, a despeito da povoação não oferecer nenhum conforto e não possuir a mais rudimentar hospedaria, 59 famílias com 208 pessoas, acompanhadas de 187 escravos vieram dos mais distantes pontos do país, fazer uso da água.
Dessas 208 pessoas, 56 procediam de Bananal, na Província de São Paulo, e 16 pessoas procediam de Barra Mansa, na Província do Rio de Janeiro, dois municípios limítrofes e de grande projeção na época, pela riqueza de suas fazendas, constituídas exclusivamente de vastos cafezais. Dentre as pessoas da cidade de Bananal vale citar a presença dos Comendadores Manoel de Aguiar Vallim e Antonio José Nogueira, e de Barra Mansa, a presença do Comendador Lucas Antonio Monteiro de Barros, figuras de muito prestígio economico e financeiro nos meios sociais das Províncias de São Paulo, do Rio de Janeiro e na Côrte, junto ao Govêrno Imperial, que estiveram em uso da água, de 20 de agosto a 20 de setembro, de 28 de agosto a 28 de setembro e 1º de outubro a 3 de novembro, respectivamente.
A estada dessas famílias concorreu para que famílias próximas de Bananal e Barra Mansa, como Queluz, Areias, Silveiras, na Província de São Paulo, e Resende, Vassouras, Valença e Piraí, na Província do Rio de Janeiro, viessem, também, fazer uso da água no transcurso do ano de 1853. Existindo já a corrente de freqüentadores da povoação que vinham desde quando a água apareceu, para tratamento das mais variadas doenças, nem por isso, todavia, essa procura se firmara como um hábito, havendo ocasiões e épocas, como a década de 1840, em que a freqüência de forasteiros na povoação foi pràticamente inexistente.
A estada dessas importantes famílias, no ano de 1853, consolidou o hábito da procura da água e inaugurou a temporada de veraneio, em que pessoas das mais variadas posições sociais passaram a freqüentar a localidade com esperança na água.
Em todos os anos da década de 1850, a freqüência na localidade foi animadora, verificando-se sempre que os meses de julho, agosto e setembro do ano eram os mais procurados. O movimento na década, de 1853 em diante, foi o seguinte:
ano de 1854: 31 pessoas - 4.° trimestre;
ano de 1856: 104 pessoas - 3.° trimestre;
ano de 1856: 257 pessoas - ano todo;
ano de 1857: 198 pessoas - 2.° e 3.° trimestres;
ano de 1858: 228 pessoas - ano todo;
ano de 1859: 189 pessoas - 3.° e 4.° trimestres.
Dentre as pessoas de projeção na época destacam-se as seguintes: Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, ex-presidente da Província de São Paulo, que veio acompanhado de seu filho, Brasilino de Aguiar Castro, em tratamento de doença do estomago, e permaneceu na localidade, de 23 de setembro a 12 de outubro de 1855; Comendador Lucas Antonio Monteiro de Barros, vindo pela segunda vez e permanecendo de 27 de outubro a 23 de novembro de 1854; o Barão de Guaratinguetá, acompanhado de sua esposa e do Dr. Rafael José Cazal, permanecendo de 20 de julho a 20 de setembro de 1858; por fim, o Comendador José de Souza Breves, que, com sua mulher, permaneceu de 5 de outubro a .3 de novembro de 1859, tornando-se não apenas um assíduo freqüentador, como um grande benfeitor da povoação.
A água, para fins de tratamento, em toda década foi usada por via interna, bebida. Por via externa, era usada em banhos comuns, existindo para tanto uma "Casa de Banhos", constituída de um pequeno prédio de alvenaria, rústico, coberto de telhas, rebocado e pintado, onde dois tanques de pedra e tijolos, situados à pequena distância das nascentes e em nível inferior a estas, constituíam os "Poços de Banho". A água das fontes era levada aos poços de banho por meio de uma canalização muito rudimentar feita de tábuas de caixões ou de tábuas obtidas dos inúmeros pinheiros que se erguiam do morro do Castelo.Esta canalização, não raro, era destruída pela força das enxurradas, ocorrência, às vêzes, corrigida pelas pessoas que vinham fazer uso da água, mediante subscrição geral para fornecimento de material e pagamento do pessoal necessário para os consertos.
Procurando firmar seu nome como estação de tratamento, os mapas de freqüência da época registraram a presença de famílias vindas de Cristina, Campanha, Resende, Rio de Janeiro, Valença, Friburgo, São João Marcos, Sant'Ana do Capivari, Cantagalo, Três Corações, São Paulo, São José do Barreiro, Mariana, Jacuí, Queluz de Minas, Queluz de São Paulo, Guaratinguetá, Lavras, Paraibuna, Oliveira, Bananal, Mogi-Mirim, Mar de Espanha, Caldas, Lorena, Barra Mansa, Casa Branca, Leopoldina, Turvo, Amparo, Conservatório, Silveiras, Saquarema, Franca, Vila de São José do Príncipe.
A procura da água por pessoas doentes se fêz sentir, principalmente, para tratamento das doenças do estômago, cujos casos rotulados nos relatórios enviados à Câmara Municipal de Campanha, apenas de "doenças do estomago" ou de "gastrite chronica do estomago" constituem a grande maioria, seguindo-se, logo após, casos de "doença do figado" e, em menor escala, de "doenças do ventre". Tirante êstes como principais, assinalam-se, ainda, casos de "doenças do peito, polmonia, inflamação das urinas, urina doce, defluxo asthmatico, reumatismo no coração, sangue pela boca, frouxidão e ataque de nervos".
NOTA:
o Comendador José de Souza Breves, fazendeiro de grandes recursos no Município de Barra Mansa, na Província do Rio de Janeiro, foi assíduo freqüentador das águas em quase toda década de 1850, vindo sempre acompanhado de grande séquito de camaradas e de escravos. Tanto êle como sua mulher, D. Rita Breves, se tornaram benfeitores da povoação pela doação que fizeram de uma casa para residência do vigário e pela colaboração prestada com muitos donativos para construção da Igreja. Em reconhecimento a êsses atos de benemerência, pela Lei n.o 7, de 26 de abril de 1902, a Camara Municipal de Lambari houve por bem dar o nome do Comendador José Breves à antiga rua do Comércio.
(OBS) Escrito na linguagem da época
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