quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lambari- MG - 1870 - A primeira análise da água.

As obras realizadas no transcurso da década de 1860 pela comissão que executou o plano traçado pelo engenheiro Henrique Gerber, obedecendo sempre à planta que permanecia arquivada na Câmara Municipal de Campanha; o desaparecimento dos alagadiços em algumas das principais ruas da povoação após o saneamento e os aterros efetuados; a existência de estradas, sempre cuidadas, para a Freguesia de São Gonçalo e para a povoação de Conceição do Rio Verde;a existência do caminho para a Freguesia de Santa Catarina (atual Natércia) passando pelas fazendas localizadas em São Simão, na Água Limpa, em São Bartolomeu e nas Três Barras; a existência de uma pequena farmácia - botica do alferes Antônio Júlio de Araújo Macedo -, tudo isto imprimia naquele princípio da década de 1870, uma fisionomia diferente à povoação em que as casas residenciais, as pequenas oficinas, as lojas, as casas de "molhados e secos" e mais a pequena população fixa existente, estavam a mostrar que a povoação se desenvolvia e prosperava. A êste surto de progresso que ia surgindo, se juntou mais uma realização do govêrno provincial autorizando, pelo ofício de 11 de junho de 1870, à Camara Municipal de Campanha a despender quinzenalmente a quantia de quinhentos mil réis numa estrada que partindo das "Aguas do Lambary" atingisse Caldas, passando por Campanha e por Santo Antônio do Machado. Em 1872, pelo Ministro do Império, Conselheiro João Alfredo Corrê a de Oliveira, foi nomeada uma comissão de médicos, integrada pelos Doutôres Ezequiel Corrêa dos Santos, Agostinho José de Souza Lima e José Ribeiro da Costa para fazerem a análise das águas. A referida comissão examinou a água das três fontes existentes na época: a fonte gasosa constituída pelo poço onde se misturavam duas nascentes, a ,fonte férrea ou Paulínea e a fonte Maria, reputada na ocasião de sulfurosa. O parecer da comlssao que classificou as águas em gasosa simples e férreo gasosas foi o seguinte:

"Fontes gazosas: a agua gazosa do Lambary é perfeitamente limpida e transparente, incolora, inodora, de sabor picante muito pronunciado, de tal modo effervescente que é difficil ingerir sem interrupção um copo cheio. Vermelhece o papel azul de turnesol e não tem acção sobre o acetato de chumbo.Sua temperatura é de 20° sendo a do ambiente de 21°. Densidade 1,001 sob a temperatura de 23° e pressão de 687 millimetros.Apresenta em cada litro 0,056 de residuo fixo.

Fonte Paulinea : Assim chamada em homenagem ao Dr. Antonio Gabriel de Paula Fonseca seu descobridor. Contem uma agua limpida, transparente, incolora, inodora, de sabor picante e ligeiramente styptica. Reação mui fracamente acida ao turnesol. Temperatura de 20° marcando o ambiente 21°.Densidade 1.006 sob a temperatura de 23° e pressão de 687 millimetros. Forneceu por litro 0,054 grammas de residuo.

Fonte Sulfurea ou Maria: É uma agua considerada no lugar como sulfurosa sendo geralmente conhecida por esta designação: entretanto nenhum ensaio chimico rigoroso autorizou sua classificação como tal, partindo a ideia apenas do leve cheiro suphydrico que ella apresenta accidentalmente, sendo de notar que a agua da fonte Maria que não é tida como ferruginosa, pela analyse se reconhece, ser mais rica deste principio do que a da fonte Paulinea, reputada como tal".
Ainda em 1872, Antônio Joaquim do Nascimento, que vinha exercendo o cargo de fiscal das águas, foi nomeado comissário vacinador da Paróquia das Águas Virtuosas, pelo Govêrno da Província. Nomeado em janeiro, somente em junho de 1872 é que recebeu do Comissário Vacinador Provincial - Dr. Domingos Eugênio Nogueira - o Regulamento das "obrigações inherentes aos commissarios vacinadores a fim de coadjuvar na sua parte ao importante trabalho muito em atrazo na Provincia" .

O Regulamento, moldado no decreto n.o 464 de 17 de agôsto de 1864, referente ao serviço de vacinação do Império, define as obrigações dos comissários vacinadores Provinciais, Municipais e Paroquiais; torna obrigatoria a vacinação a todas as pessoas, qualquer que seja a idade - inclusive às crianças de três meses para cima - o sexo, o estado civil e a condição social e, por último, em adendo final, dá as necessárias instruções para se proceder à vacinação com linfa dessecada, método usado na época.
Acompanbando o surto de progresso que era sentido através das realizações efetuadas pelo govêrno Provincial (projeto de construção de uma estrada para Caldas, boa conservação da estrada e dos caminhos existentes, análise das águas, nomeação de um comissário vacinador permanente) - e para as quais não se pode negar que muito contribuiu a longa permanência dos príncipes imperiais que puseram em grande destaque o lugar e as águas -, os podêres públicos municipais de Campanha também não se descuidaram dos problemas que lhes competiam resolver, procurando de um lado preencher imediatamente a vaga de, fiscal agente das águas indicando Daniel Antônio Xavier para o cargo, cuja nomeação se deu em 7 de fevereiro de 1872 pela Diretoria de Obras Públicas da Província e por outro lado facilitando a construção de uma fábrica de botijas, concedendo a Eulâmpio César Romagnolli apreciável área de terreno para êsse fim, junto ao rio Lambári Pequeno.Em 1874, a Freguesia das Águas Virtuosas, a despeito de não ter tido ainda concluída a construção de sua Igreja consagrada à N. S. da Saúde, já vinha sendo considerada como "importante povoação". Com suas 114 casas e 2.823 habitantes que se distribuíam entre fazendeiros, negociantes de fazendas, de ferragens, de "molhados e generos da terra", de ferradores e ferreiros, de rancheiros, de alfaiates, de caldeireiros e carpinteiros, de oleiros, de cigarreiros e fabriqueiros, de sapateiros e seleiros, a povoação já possuía um ourives, uma farmácia, uma casa de bilhares, uma parteira, um dentista, e duas "aulas" de ensino primário - uma pública e outra particular - com o respectivo delegado da Instrução Pública.Produzindo 7.000 arrobas de fumo em suas fazendas, onde recém se iniciara a plantação de café e' produzindo cana que se destinava ao fabrico de rapadura nos quatro engenhos existentes, eis os principais produtos das vinte propriedades agrícolas, pertencentes a Antonio José Cardoso, Antonio Paulino Cantuária, Antonio Ribeiro de Magalhães, Domingos Gonçalves Mendes, Fernando Antonio Flávio, Flávio Antonio Fernandes, João Ribeiro de Mendonça Porto, Joaquim Alves da Silva, Joaquim Bibiano de Siqueira, Joaquim Manoel da Cunha, Joaquim Machado de Andrade, José Antonio do Espírito Santo, José Faustino de Siqueira, José Umbelino de Carvalho, Manoel Vitorino dos Santos, Roque Gonçalves de Magalhães, Silvério Dias Chaves.

Em 1875, residiam na séde da Freguesia das Águas Virtuosas as seguintes pessoas:

Antonio Fernandes, negociante; Antonio Flávio Fernandes, negociante; Cândido José Ribeiro de Mattos, lavrador; Daniel Antonio Xavier, negociante;Florentino José de Araújo Pinto, seleiro; Frederico José Soares, negociante; Joaquim Antonio Rodrigues, lavrador;Joaquim Leonardo da Silva, lavrador; João Baptista de Mello, lavrador; Joaquim José Rodrigues Vianna, negociante; Joaquim Albino de Almeida, lavrador; João Francisco de Oliveira, lavrador; José de Souza Vianna, escrivão; Joaquim Villela de Magalhães, tropeiro; Joaquim Manoel de Meno, tropeiro; José Braz Lemes, tropeiro; Lino Cândido da Silva, lavrador; Luiz José Esteves, carpinteiro; Luiz Fernandes de Oliveira, lavrador; Manoel Izidoro de Carvalho, fazendeiro; Manoel Francisco da Rocha, ferreiro; Manoel Albino Ferreira Lopes, negociante; Pedro José de Siqueira, negociante;Raphael Ribeiro de Mattos, lavrador, Rodrigo Luiz Gonçalves Bastos, negociante; Thomaz Francisco de Oliveira Lobo, lavrador; Cyrino José de Paiva, lavrador; Antonio Joaquim Barbosa, lavrador; Francisco Xavier da Fonseca, lavrador; Joaquim José de Souza, lavrador; Joaquim Antonio Xavier, lavrador; José Antonio do Espírito Santo, fazendeiro; José Amaro de Oliveira, lavrador; José Flauzino de Siqueira, lavrador; José Bernardes de Moraes, lavrador; Manoel José de Souza, lavrador; Manoel Iloterio dos Santos, lavrador; Manoel Alves Pacheco, lavrador; Mariano José de Castro, lavrador; Manoel Joaquim de Castilho, lavrador; Pedro Fernandes de Oliveira, lavrador; Antonio Paulino Cantuária da Silva, lavrador; Antonio Maximiano de Oliveira, lavrador; Antonio Caetano de Souza Júnior, lavrador; Antonio José da Silva Passos, lavrador; Bernardo Francisco Alves, lavrador; Bento Francisco de Araújo, lavrador; Evaristo Dias de Souza, lavrador; Frànéisco Alvesda Silva Passos, lavrador; José Pinto de Aguiar, lavrador; Joaquim Francisco de Araújo, lavrador; Joaquim Francisco de Araújo Júnior, lavrador;João Alves de Meno, lavrador; Joaquim Sefeim Rodrigues, lavrador; Joaquim e Manoel da Silva Passos, lavradores; Manoel Teixeira de Mello, lavrador.

De outubro de 1872 - quandó se inaugurou o estabelecimento balneário - até 1879, não foi realisado nenhum outro melhoramento, por iniciativa dos podêres públicos.

Em 1876, a povoação apresentava um aspecto pouco animador de progresso e desenvolvimento:a frequência às águas continuava pequena; a Igreja Matriz continuava inacabada, com todas as sua obras paradas; o chafariz do largo do jardim necessitava de reparos urgentes para não ser totalmente perdido e o estabelecimento balneário se apresentava em más condições de conservação com todo o telhado cheio de goteiras, ao mesmo tempo em que ia perdendo, por desaparecimento, peças de seu mobiliário e peças do seu gradil de ferro que não fora ainda colocado.

Apesar destas ocorrências a povoação nos últimos anos da década de 1870 já apresentava o aspecto de um vilarejo, cuja área residencial avançava pela encosta dos morros onde se abriam novas ruas e onde se construíam novas "moradas de casas".

Com população fixa bem diferenciada em.suas várias camadas sociais, com o trabalho desenvolvido nas fazendas, nos estabelecimentos comerciais e nas inúmeras oficinas existentes, o transcurso da década de 1870 gizou indelevelmente a sua grande característica na marcha do desenvolvimento da Freguesia das Águas Virtuosas: consolidara-se a formação da comunidade, agora unida pelo interêsse comum de' todos os moradores e pelo entrelaçamento de relações entre as diferentes classes sociais.

NOTA:

As ruas do Sertãozinho e do Pito Aceso formam hoje dois bairros urbanos e apareceram quando a povoação começou a avançar para as encostas dos morros. O bairro do Pito Aceso está situado numa das lombadas do morro do Castelo, já citado, e esteve muito em evidencia na primeira década do século atual por nele residirem tres politi2os de muita influencia na cidade. Admite-se que seu nome advenha da circunstância do primeiro morador da região onde está formado o bairro, antes mesmo de ser formada a rua, ter sido um preto velho, faze dor de peneiras e de balaios que quando procurado se apresentava sempre fumando o seu pito. A casa do homem do pito aceso se tornou no segundo quinquenio de 1870 a rua do pito aceso, e agora bairro do pito aceso.

(OBS) Escrito na linguagem da época

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