quinta-feira, 10 de abril de 2008

Lambari - MG - A fixação de elementos da colônia italiana na localidade.

Durante toda década de 1880 o surto de progresso da povoação se fez sentir mais depressa que nas décadas anteriores em decorrencia dos tres seguintes acontecimentos: a vinda de um médico que se fixou na localidade; a presença da estrada de ferro na região sul mineira e a vinda de muitas familias italianas que se fixando no lugar, concorreram, sobremodo, para o seu progresso.

Em 1882 o Dr. Eustáquio Garção Stockler, campanhense, recentemente diplomado em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, fixou sua residencia na localidade. Por ocasião desta vinda, muitos problemas prejudicavam o desenvolvimento das Águas Virtuosas: a frequencia às águas minguava dia a dia desde 1876; o estabelecimento balneário, inaugurado em 1872, continuava carecente de reparos urgentes com seu telhado em ruínas, sem móveis e sem aparelhos; a praça dos poços com sua vegetação rasteira, servia de pastagem para cavalos e cabras, e a população desanimada a tudo assistia na esperança de um auxílio que nunca chegava dos cofres públicos. Manifestando interêsse por tudo que se relacionasse com o futuro da localidade, que dependia de sua água medicinal, o Dr.Eustáquio Garção Stockler desenvolveu um grande trabalho para reerguimento da povoação e para tornar a sua água cada vez mais conhecida. Através de contrato que celebrou com o govêrno Provincial a 7 de outubro de 1882 conseguiu em 1885 terminar a reforma do estabelecimento balneário, realizar o ajardinamento do parque das fontes cercando-o, ainda com grades de ferro; fazer a propaganda da água pelo periódico "Águas Virtuosas", por éle fundado.

Em 25 de julho de 1888, pela lei n.o 3561, obteve o privilégio de poder explorar a água, juntamente com o Dr. Bandeira de Mello, durante 50 anos.
Em seguida, t8da sua atividade se desenvolveu no sentido de fundar uma emprêsa exportadora da água, o que foi conseguido alguns anos mais tarde, no transcurso da década de 1890.

Os melhoramentos surgidos em todo decênio foram se sucedendo posteriormente, e graças ao trabalho desenvolvido, quer como médico ou político, o Dr. Eustáquio Garção Stockler concorreu muito para o restabelecimento do prestígio da povoação e para firmar a procura da água "in loco", como agente, de tratamento e de cura, criando em consequência a estância hidro-mineral de Lambari e o hidroclimatismo, com expressão de centro de tratamento, de repouso e de turismo. O outro grande acontecimento que concorreu para o prógresso da povoação se prende à presença da estrada de ferro Minas e Rio até Três Corações do Rio Verde, onde a 18 de outubro 1883 chegou a primeira locomotiva.

A ferrovia, ao mesmo tempo que deu impulso às aldeias e povoações situadas à sua margem, concorreu, também, para aumentar a frequêucia às águas, a despeito da Freguesia das Águas Virtuosa ficar, aproximadamente, a 50 km. da estação m,ais próxima.

O antigo hábito de se atingir as Águas Virtuosas a cavalo com grandes caravanas de serviçais e de escravos, transpondo-se a serra da Mantiqueira pela entrada do Embaú com passagem forçada por São José do Picu, (atual Itamonte), foi substituído pela viagem de trem, vencendo-se os 125 klms. de Cruzeiro até a estação de Conceição do Rio Verde, de onde, a partir de 1883, saíam cavalos, diligências e tropas destinadas a transportar para a Freguesia das Águas Virtuosas, passageiros, encomendas e cargas. À custa de iniciativa e do esfôrço dos moradores, as perspectivas do progresso da localidade na primeira metade da década de 1880 se apresentavam bem claras e bem nítidas.

Em 1884, dentro de uma área de 6 léguas de dimensão no sentido N. S. e de 1,5 légua no sentido E. O. a povoação se apresentava com 4.000 habts.com mais de 50 casas novas e mostrava o reerguimento da frequência às águas, pela chegada de "cidadãos das mais importantes classes e posições" que ou se hospedavam nos dois hotéis existentes- de Joaquim Manoel de Mello Júnior e de Manoel Gomes Nogueira, - ou se alojavam em casas alugadas,cujos aluguéis variavam de 10 a 40$000 em época normal, não acontecendo o mesmo na ocasião de grande frequência em que "em tempo de muita concorrência o preço sobe muito mais".

Emquanto nas fazendas de Antonio Flávio Fernandes, de Joaquim e de José Machado de Andrade, de José Antonio do Espírito Santo, de Antonio Cardoso da Silva, de Antonio Gonçalves Netto, de Manoel Jacintho, de Nicolau de Lima e Silva e de Thomé Francisco de Oliveira Lobo, o café com mais de 100.000 pés plantados, o fumo e a cana de assúcar se apresentavam como culturas principáis, dessas fazendas também procediam os "generos da terra" que eram consumidos na Freguesia e delas provinha, ainda, a carne de vaca que nos açougues era vendida a 4$000 a arroba; o carneiro, que era obtido a 3$000 cada um; o frango cujo preço variava de 200 o 300 réis; os óvos, cuja duzia era vendida de 160 a 240 réis; o leite que custava de 60 a 80 réis a garrafa e a lenha de 2 a 3$000 o carro.

O terceiro acontecimento se prende à vinda de famílias italianas que se fixaram na localidade. Os primeiros italianos que pisaram o solo da zona sul mineira da Campanha, no início da década de 1860 se fixaram em Campanha. Com essa chegada se formou a corrente que atraiu outros patricios nas décadas subsequentes. Na de 1870 João Marsano primeiramente, e Lucas Zaccaro em seguida, vieram para Lambari sem as respectivas famílias e se estabeleceram como comerciantes, retirando-se para a Itália após alguns anos de permanência. Ao contrario dêstes que vieram sozinhos, não se radicando na povoação, muitos dos italianos que chegaram, a partir 1880, trouxeram espôsa e filhos e nela se fixaram. Provindo tôdos da mesma região da Campânia - província de Basilicata, situada entre as provÍnçias de Napoles e Calábria - quase tôdos eles vinham do mesmo paése e muitos eram parentes próximos. A radicação dessas famílias na povoação concorreu muito para o seu desenvolvimento, dada a operosidade, o espírito de ordem e de respeito às leis e aos costumes, manifestado pelos novos moradores do lugar. A rua dos Italianos existente na cidade e surgida no fim do século é bem o atestado de carinhosa homenagem prestada à colônia italiana, que ajudou á povoação a desenvolver-se e a prosperar.

A partir de 1882, em 1.0 de outubro, chegaram Miguel de Lorenzo e seus dois cunhados Egídio e Rosário Miléo que imediatamente se fixaram na localidade. De 1883 em diante, depois do advento da Estrada de Ferro Minas e Rio, o número de italianos que chegavam crêscia cada vez mais, e durante os anos restantes da década, chegaram os seguintes italianos, que por já estarem fixados na localidade antes da proclamação da República, foram naturalmente inscritos como eleitores: Cilente Biasi, Braz Ponzo, Egídio Ieno, Miguel e Egídio Giac0ia, Estevam Donato Carelli, Francisco Grandinetti, Ernesto Fioravanti Sgarbi, Gustavo Lamberti, Henrique de Capua, Francisco Buon Cristiano, Nicolau Basile, Vicente Dieco, Vicente Plantuli, Vicente de Lorenzo, Nicólau Franceschi, Ulisses Maglione.
Enquanto alguns dos novos moradores se estabeleceram no comércio com casas de fazendas e molhados com gêneros do país, com padaria, açougue, alfaiataria, sapataria, outros passaram a trabalhar como pedreiros, carpinteiros, marcineiros pintores, ferreiros e caldeireiros. Apenas duas famílias se dedicaram à lavoura como horticultores, formando grandes hortas na periferia da povoação onde a população podia encontrar não apenas as hortaliças e legumes mais' comuns, como os de agrado das famílias recém chegadas.

Tirante êstes fatos, que são os principais surgidos na década de 1880, os demais se referem a problemas de natureza administrativa que continuavam sob a responsabilidade dos representantes da Câmara Municipal de Campanha: o fiscal e o alinhador, cujos cargos foram exercidos até 1884 por Manuel José Nogueira e Francisco Moreira de Souza, respectivamente.Nos anos de 1885 e 1886, em decorrência de vacância do cargo de fiscal, os problemas administrativos ficaram a cargo de Antonio Joaquim do Nascimento, 4.° juiz de paz. Preenchido a cargo em 1887, o mesmo foi exercido por José da Silva Bastos e em 1888 e 1889 por Teofilo Caldas e Antônio Joaquim de Sales Brígido, respectivamente.

A concessão de 13 lotes de terreno para construção de casas, de 1886 a 1889 às ruas Direita, do Pito Aceso, da Olaria, do Sertãozinho, da Entrada e das Flôres, mais do que simples índice de crescimento, externava a confiança que os moradores tinham no futuro da Freguesia das Águas Virtuosas, já possuidora de seu representante político na pessoa do Dr.Eustáquio Garção Stockler, que desde 1887 tinha assento na Câmara de Vereadores do Município de Campanha.

NOTA:

Vicente Mileo e Alexandre Maiolino inscrevem seus nomes como sendo os primeiros italianos que vieram e se fixaram em Campanha, no início da década de 1860. Vicente Mileo, era natural de Sapri (região de Campânia, sul da Itália) e casou-se com a campanhense Ana Clara Valim. Em 1863 estava estabelecido em Campanha com oficina de caldeireiro á Rua do Hospício (rua Bernardo da Veiga, atual). Faleceu em 14 de novembro do 1868 não deixando descendentes, mas deixando sua oficina com tôdas as ferramentas, pertences e a quantia de vinte e cinco mil réis a um afilhado de nome João. A vinda dêstes primeiros italianos para esta zona sul mineira, coincidiu com a época em que se operavam transformações políticas na Itália com a queda da casa dos Bourbons, por ocasião de sua unificação devida a Garibaldi, em 1860. O êxodo de muitas famílias italianas do sul da Itália para outros paises nesse periodo resultou das dificuldades surgidas com a implantação de uma nova ordem em que novos costumes e novos hábitos incidiram sôbre as classes que direta ou indiretamente dependiam das condições socio economicas vigentes até então.Para os meus parentes, simples artífices e raros lavradores que mourejavam como meeiros a mudança verificada trouxe situações dificeis obrigando-os a emigrarem para o Brasil, alguns; para a República Argentina.

(OBS) Escrito na linguagem da época

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