Lambari - MG - A História
Não foram baldados todos os esforços dos pesquisadores sôbre a fundação de Lambarí, antiga Águas Virtuosas, para saber a data exata dêsse fato e situar historicamente, com provas documentais, seus primitivos povoadores civilizados. Logicamente não vamos citar os ramos aborígenes que, em priscas eras, palmilharam e povoaram êste vales e escalaram estas formosas colinas. Não nos contentava a suave lenda do africano (!) Antonio de Araujo Dantas, que, sem dúvida, se fôsse da África e batisado, nesta terra de promissão, relegaria o seu nome de origem, bárbaro e pagão, e, quem sabe, descendesse daquelas castas guerreiras do Congo, de Angola, de Moçambique, de ascendência nobre e adotasse o nome de seu Senhor da época, talvez forte e rico fazendeiro nas terras das Águas Virtuosas? !. .. A verdade é bem outra, quem - criou a lenda não conhecia a história, senão, vejamos:
Pelo" O Monitor Mineiro", edição de 1872, em 25 de fevereiro, temos notícia que a fazenda de Antonio de Araujo Dantas "adquiria notoriedade, mercê da ocorrência verificada em uma grota que a mataria ensombrava" e onde o lacrimal borbulhante jazia a espera de quantos viessem "experimentar-lhe a serventia".
Antonio de Araujo Dantas não era africano e sim campanhense.No livro I, às fIs. 5v., de Batisados da Catedral (*) lê-se: "Antonio. Aos vinte e hum de fevereyro de mil setecentos e quarenta e um nesta Igreja Matriz de Santo Antonio do ValIe de Piedade da Campanha do Rio Verde dêste Bispado de Mariana das 'Minas batizou e poz os santos oleos o Reverendo Antonio Mendes Vigario, que então era nesta Freguezia a Antonio inocente, filho legitimo de Francisco de Araujo Dantas e de sua mulher Catherina Pedroza; elIe natural da Freguezia de São João de Taboray do Bispado do Rio de Janeiro; e ella da Freguezia de Nossa Senhora do Pillar de Pitanguy deste Bispado; e foram padrinhos Salvador RebelIo e Maria Ribeyra mulher de João Francisco (q. hoje he viuva) de que fiz este acento, por se não achar em seu lugar, e me constar
verdade, que assiney. O vig. Luiz da Rocha Pinto" (sic). No ... dizer de mais de um historiador Antonio de Araujo Dantas é o descobridor das águas minerais de Águas Virtuosas, não era "negro mina", porém "caboclo"; vejam: "Aos vinte e cinco de Agosto de mil oitocentos e doze, falecendo Antonio de Araujo Dantas de apoplexia de setenta e três anos, caboclo, foi encomendado e sepultado dentro desta Matriz. O vig. José de Souza Lima" (respeitou-se a redação e o grifo é nosso).
O testamento de Catherina Pedroza de Almeida, mãe de· Antonio de Araujo Dantas, foi feito em 28 de Setembro de 1809 em Águas Virtuosas; faleceu e foi sepultada a 8 de dezembro de 1814 (*).
A avaliação das terras necessárias para a proteção das fontes, mandada realizar pela Câmara da Campanha, foi feita por Gaspar José de Paiva e João Pinto da Fonseca, que estimaram o valor em "Cem mil réis para doze alqueires de terras minerais". (**).
A Câmara de Campanha em 24 de janeiro de 1827, oficiára ao Visconde de Caeté, então presidente da Província de Minas Gerais, encarecendo a necessidade de se construir "huma pequena Ermida para se dizer a Missa ao Povo", e, em 1832, a mesma Câmara, propôs que se marcasse o "lugar proprio para a fundação do Templo que deverá fazer para a Povoação". A fundação da Capela da atual Lambarí, naquele tempo Águas Virtuosas da Campanha, foi levado a efeito depois do ano de 1837. Seu primeiro capelão foi o Cap, Pe. Bonifácio Barbosa Martins que pontificou de 1835 a 1941 (***) e, atualmente, é Pároco o vig. José Ramos Leal que aqui chegou em 1946.
Lambarí de. hoje era um prolongamento da Lambarí de outrora (atual Jesuânia), comunicava-se com a Séde (Campanha) através da ramificação da Estrada Geral que conduzia a Côrte, e, esta passava por Pouso Alto, S. José do Picú (atual. Itamonte) e Embaú.
Descendentes de Antonio de Araujo Dantas e sua mulher Ana Maria de Almeida: Francisco, batisado a 11 de maio de 1767; José, batisado a 6 de abril de 1768; Genoveva, batisada a 21 de abril de 1773; Eugenia, batisada a 26 de setembro de 1775; Teodora, batisada á 20 de agosto de 1780; Rosa Maria, batisada a 20 de novembro de 1785; Manuel, batisado a 2 de junho de 1791 e Maria, batisada a 25 de outubro de 1793. Todos batisados em Campanha.
(*) 8· Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha.
(* *) Rev. do Arch. Publ. de Minas Gerais, ano 1896.
(* * *) 4· Anuário Eclesiástico da Diocese da Companhia.
Como complemento dêste tópico histórico mais isto: Passos, a que a Lenda se refere, "foi fundada em 1800, com a construção de uma capela e doação do patrimônio pelo Sr. Domingos de Souza
Vieira" .
Não se conhece um caso sequer da família Trancoso, também citada pela Lenda, "nas paragens Sulínas das Gerais, no período de
1750 a 1820"!...
E assim como Antonio Dias é considerado o fundador de Ouro
Preto, por ter, em 24 de Junho de 1698, encontrado o rio Tripui, "onde começou verdadeiramente a exploração das minas de ouro em nosso Estado", também deviamos considerar Antonio de Araujo Dantas, já que historicamente outro personagem não existe, como fundador da hidropolis de Lambarí!
Uma tradição porém, aceita, como festa da cidade, o dia 15 de Agôsto, dia de N. S. da Saúde, sua Padroeira, - comemoraoo sempre com pompa pela Igreja irmanada ao povo. Têm a palavra os historiadores, para nos situar, com precisão, o ano, afim de que possamos, doravante, comemorar esta efeméride.
Aos poderes públicos, um apêlo: Dêm o nome de Antonio de Araujo Dantas a uma das nossas ruas ou avenidas, perpetuando assim a memória do descobridor das Águas Virtuosas, as Aguas.
Fiquemos com a história, leitor amigo!
(OBS) Escrito na linguagem da época
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