sábado, 27 de fevereiro de 2010

Torre eiffel - 120 anos de existência




No dia 31 de Março de 2009 completou 120 sobre a inauguração da torre Eiffel. O evento foi o ponto alto da Exposição Universal de Paris de 1889, data em que se comemorava o centenário da Revolução Francesa. Ao longo de todo o século XIX as exposições universais foram o principal veículo de propaganda da sociedade industrializada ocidental, montras de tecnologia de ponta onde cada país exibia os seus mais recentes produtos. Para os franceses, esta era também uma data especial e, com a sua tradicional megalomania, fizeram questão que todo o mundo reparasse neles. À partida estas condições chegariam para justificar a construção do gigante de aço em pleno coração de Paris, mas as coisas não foram assim tão simples...

Gustave Eiffel era, na altura, um construtor bem sucedido. Possuía obras importantes em todo o mundo: pontes e viadutos em França, diversas pontes ferroviárias em Portugal e Espanha, a estrutura que sustentava a Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, as comportas do canal do Panamá e as menos conhecidas pontes portáteis que ainda hoje atravessam muitos rios, nomeadamente na América do Sul. Este prestígio e a sólida situação financeira da empresa foram sem dúvida decisivos na escolha do seu projecto para a Exposição Universal. O mais curioso é que Eiffel não se interessou pela ideia desde o início.


A ideia era erguer uma construção com mais de mil pés de altura, o equivalente a cerca de 300 metros, um empreendimento bem à medida do orgulho nacional francês. Mas foi preciso os principais técnicos da empresa elaborarem os primeiros estudos de viabilidade para que Eiffel percebesse que afinal poderia tornar-se o autor do edifício mais alto do mundo. É justo que se saiba que o projecto da torre foi tanto seu como dos engenheiros Emile Nougier e Maurice Koechlin e do arquitecto Stephen Sauvestre, nomes frequentemente esquecidos pela História.

A partir daqui a tarefa mais difícil não era técnica, era política: convencer as autoridades. Lançou mão de todo o prestígio da empresa e promoveu uma vasta campanha destinada a convencer a administração parisiense das vantagens que tal obra iria trazer. Após muita insistência e muito investimento financeiro acabou por conseguir o seu objectivo e ver a bandeira francesa hasteada a 300 metros de altura mas os problemas ainda mal tinham começado.
Um movimento de personalidades da arte e da cultura desde logo se ergueu, exigindo a demolição pura e simples da torre, que consideravam um atentado ao bom gosto. Não conseguiram, uma vez que as taxas cobradas aos visitantes da torre geravam grandes receitas de que a municipalidade não queria abdicar. Mais tarde, quando a concessão de 20 anos do terreno para a exposição terminou, os críticos viram nova oportunidade para exigir a sua demolição. Eiffel recorreu de novo à sua influência e persuasão e convenceu as autoridades que Paris tinha grande necessidade de uma torre de comunicações, de um gabinete meteorológico e de uma escola de estudos aerodinâmicos. Conseguiu assim manter de pé a sua obra.

Gustave Eiffel (à esquerda) com Adolphe Salles na escada de caracol que liga a plataforma mais alta ao cume da torre

Não se julgue que estes argumentos apareceram por acaso. Eiffel tinha uma mente aberta. Dedicou-se também ao estudo do vento e publicou inclusivamente vários trabalhos sobre aerodinâmica que trouxeram importantes contributos para esta ciência então incipiente. Concebeu um aeroplano e um túnel de vento onde foram testados os protótipos franceses durante muitos anos. Menos conhecido é um projecto para um túnel sobre o Canal da Mancha, datado de 1890.

Ironicamente, Eiffel passou os anos que se seguiram não a projectar, como sempre havia feito, mas a evitar que a sua torre fosse desmantelada. Paris e o mundo ganhou uma torre magnífica, é certo, mas talvez tenha perdido sabe-se lá que outras construções fantásticas que este indivíduo ímpar era capaz de conceber e erguer. Morreu em 1923, aos 89 anos de idade.


Rita Novaes interessa-se por História e por histórias, sobretudo se forem bem contadas, por máquinas fantásticas e objectos coleccionáveis.

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