sábado, 26 de junho de 2010

O aquecimento global e o Ártico

Fotografia de Fabiano Busdraghi
O aquecimento global está a derreter as neves eternas do Ártico tornando-o mais acessível aos predadores da sua imensa e até agora intocada riqueza: petróleo e gás natural. A calota polar ártica está 25% menor do que há 30 anos; perde anualmente 60 mil km2 e, a um mês do fim do degelo, os satélites registravam já uma área gelada 10% menor do que o seu recorde mínimo atingido em Setembro de 2005.
Este ano, pela primeira vez desde que há memória, a Passagem do Noroeste esteve livre de gelo desde o Pacífico até ao Atlântico, e as estimativas mais realistas apontam para um Oceano Ártico livre de gelos no Verão de 2040. O ecossistema ártico, que já começa a sofrer com o degelo, ameaça desmoronar-se, transfigurar o pólo e empurrar aceleradamente algumas espécies animais para os caminhos da extinção.
Fotografias de Fabiano Busdraghi
Mas se por um lado o degelo ártico vai conduzir o planeta a uma catástrofe de proporções épicas, por outro a incessante procura de fontes de energia, que coloca o Ártico na primeiríssima linha da exploração de recursos energéticos, leitmotiv das potências limítrofes e gerador de um conflito de interesses entre elas de dimensão grandiosa, vai provavelmente exaurir o que restar do Ártico.
A questão de determinar a quem pertencem os recursos do Ártico, que somente em petróleo pode representar cerca de 25% das reservas mundiais, divide países vizinhos e passa pelas cláusulas da Convenção da ONU para a Lei do Mar (UNCLOS) e pela estranha forma da crista de Lomonosov, peça chave para o sustentáculo das suas diversas pretensões territoriais: cada estado pretende provar que a parte da crista que lhes toca é uma extensão da plataforma continental e não uma formação separada da mesma e desta forma expandir para as 370 milhas as suas "zonas marinhas de direitos económicos exclusivos".
Estados Unidos e Canadá disputam a Passagem do Noroeste; Noruega e Rússia fazem o mesmo pelo Mar de Barents e Canadá e Dinamarca competem pelos direitos de uma pequena ilha nas costas da Gronelândia.
Os processos de apropriação das riquezas do Ártico são variáveis e seguem a velocidades distintas: a Noruega lidera, pois iniciou este ano a primeira exploração comercial de gás natural no seu campo de Snohvi; a Rússia, que cravou uma bandeira de titânio a 4200 metros de profundidade bem em cima da crista de Lomonosov, num arremedo quinhentista de reclamação e posse de território, segue-a de perto, pois prepara-se para explorar comercialmente petróleo e gás natural em Shtokman, no mar de Barents, cujas reservas petrolíferas são também disputadas pelos noruegueses; e a Dinamarca, mais atrasada, financiou uma expedição ao norte da Gronelândia para determinar os limites da sua reivindicação sobre a plataforma continental. O Canadá, que nunca viu com bons olhos a tentativa liderada pelos EUA em declarar como "Estreito Internacional" a Passagem do Noroeste, que sempre foi considerada como "território canadense", e a sua consequente abertura ao tráfego comercial, pois encurta em cerca de 6 mil Km a distância entre a Ásia e a Europa, receia as consequências ambientais que poderão advir do uso desregrado das suas águas, mas não se coíbe de se considerar proprietário da maior parte do Ártico e das suas riquezas. Os EUA, que ainda não ratificaram o UNCLOS, preparam-se para o fazer como forma de contextualizar as suas pretensões territoriais na região do Alasca e assegurar o seu quinhão da pilhagem.
É muito provável que todas estas movimentações sejam dirimidas, em ultima instância, num wrestling pouco cordato, sob os auspícios do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, mas deste espetáculo degradante o que vai ficar para a posteridade é, com toda a certeza, mais um ato de ganância sobre o Planeta, orquestrado pelo grande capital e convenientemente sancionado pela comunidade internacional, que vai hipotecar consideravelmente mais o já periclitante futuro da Humanidade.
Vergonha e abominação!
Fonte: http://obviousmag.org/

1 Comentário:

Anônimo disse...

O que os capixabas pensam sobre Mudanças Climáticas?

De modo a conhecer o perfil de percepção ambiental da sociedade frente à problemática (causas, efeitos, prós e contras) das Mudanças Climáticas, tendo como base a Região da Grande Vitória, ES - municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica - o Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA (grupo sem fins lucrativos), desenvolveu uma pesquisa (35 aspectos abordados) com 960 pessoas (+ - 3% de erro e 95% de intervalo de confiança), com o apoio da Brasitália.

Metade dos entrevistados foi de pessoas com formação católica e, os demais, evangélica. Apesar de a amostra ter sido constituída dessa forma o objetivo da pesquisa não visa individualizar os resultados da pesquisa para cada segmento religioso em questão.

Os entrevistados admitem ler regularmente jornais e revistas (48,1%), assistem TV (58,3%), não participam de Audiências Públicas convocadas pelos órgãos normativos de controle ambiental (88,9%), bem como de atividades ligadas ao Meio Ambiente junto às comunidades (não – 43,2% / não, mas gostaria – 39,7%), apresentam um reduzido conhecimento das ONGs ambientalistas (4,9%), não acessam (72,8%) sites ligados à temática ambiental (19,1% não tem acesso a computador), além de indicarem o baixo desempenho das lideranças comunitárias no trato das questões ambientais (29,2% / sendo que 40,0% admitem não conhecer as lideranças de suas comunidades), e admitem interesse por temas ligados à temática ambiental (42,3% / 44,2% apenas às vezes).

Admitem conhecer termos (não verificada a profundidade do conhecimento assumido) como biodiversidade (63,6%), Metano (51,7%), Efeito Estufa (81,3%), Mudanças Climáticas (84,7%), Crédito de Carbono (26,0%), Chuva Ácida (57,8%), Agenda 21 (16,5%), Gás Carbônico (60,9%), Clorofuorcarbonos (36,6%), Aquecimento Global (85,4%), bicombustíveis (74,1%), Camada de Ozônio (74,3%) e Desenvolvimento Sustentável (69,5%), com 70,0% do grupo relacionando às atividades humanas às Mudanças Climáticas e que a mídia divulga muito pouco os temas relacionados ao meio ambiente (44,2%), apesar da importância do tema.

A ação do Poder Público em relação ao meio ambiente é considerada fraca (48,2%) ou muito fraca (30,2%), os assuntos ligados à temática ambiental são pouco discutidos no âmbito das famílias (60,1% / 15,5% admitem nunca serem discutidos), enquanto a adoção da prática da Coleta Seletiva só será adotada pela sociedade se for através de uma obrigação legal (34,3%) e que espontaneamente apenas 35,7% adotariam o sistema. Indicam que os mais consumos de água são o “abastecimento público” (30,3%), seguido das “indústrias” (22,9%) e só depois a “agricultura” (10,7%), percepção inversa a realidade.

Em análises em andamento, os resultados da pesquisa serão correlacionados com variáveis como “idade”, “gênero”, “nível de instrução”, “nível salarial”, “município de origem”, entre outras, contexto que irá enriquecer muito a consolidação final dos resultados, aspectos de grande importância para os gestores públicos e privados que poderão, tendo como base uma pesquisa pioneira no ES, definir ações preventivas e corretivas voltadas ao processo de aprimoramento da conscientização ambiental da sociedade.

É importante explicitar que, com o apoio do NEPA, está pesquisa já está sendo iniciada em outras capitais. O grupo está aberto a realizar parcerias de modo a assegurar, progressivamente, o conhecimento do perfil nacional da sociedade em relação à temática das Mudanças Climáticas. Não há como ignorar, se é que ainda não se deu a plena atenção a este fato, a importância da participação consciente da sociedade nas discussões que envolvem este importante tema.




Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.

Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA

roosevelt@ebrnet.com.br

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