Devendra banhart - freak folk e naturalismo
Sons inovadores, temas incomuns e registros vocais nunca antes utilizados - pelo menos para cantar. Ninguém canta como os Animal Collective, os temas de Sufjan Stevens e Devendra Banhart trazem de volta a natureza à cidade e os novos instrumentos que todos eles usam são uma lufada de ar fresco para música alternativa. Freak-folk é um género musical inovador que junta os intrumentos acústicos tradicionais da música folk norte-americana a novos elementos electrónicos e psicadélicos.
Mas há mais: Six Organs of Admittance, Feathers, Vetiver, Joanna Newsom, Antony And The Johnsons, Bright Eyes, Iron & Wine, Coco Rosie. A estes e a muitos outros a Wired Magazine batizou-os "New Weird America", num paralelismo ao Old Weird America que integrava desde os músicos pré-Segunda Guerra Mundial até Bob Dylan.
Nome primeiro da cena freak-folk americana (ou como lhe queiram chamar), Devendra Obi Banhart, de 29 anos, é um explosão de cores, miçangas, barba e psicadelismo. O primeiro nome dele pode parecer estranho: é sinónimo para Indra, o deus Hindu para a chuva e tempestade, e foi sugerido por Prem Rawat, um líder religioso que acompanhava os pais. Já o segundo nome - Obi - é uma personagem da Guerra das Estrelas.
Depois da infância na Venezuela, frequentou o Instituto de Arte de São Francisco, EUA, mas rapidamente começou a faltar às aulas para tocar em espaços públicos: o primeiro concerto que deu foi numa igreja num casamento homossexual. Acabou por desistir da escola para se dedicar inteiramente à música, passando uma temporada em Paris a tocar com bandas da cena indie.
Quando regressou aos EUA assinou com a editora Young God Records, com a qual gravou os seus primeiros três álbuns de estúdio: Oh Me, Oh My; Rejoicing in the Hands e Niño Rojo. "Considero-o um antídoto, uma espécie de narcótico - um raro caso em que nos sentimos em casa quando ouvimos uma música" foram as palavras do responsável pela editora, Michael Gira, referindo-se a Devendra, já depois de ele ter terminado o seu contrato.
Quanto ao estilo musical a que pertence, Devendra chama-lhe apenas "a família". Ouvir qualquer um dos seus álbuns é uma viagem dupla: no espaço somos transportados para um lugar andrógino entre o caos em desenvolvimento de Caracas, Venezuela, e a liberdade (e libertinagem) californiana, em solarenga harmonia com o mundo desenvolvido. No tempo, percorremos a nossa infânica ("I feel like a child" é uma autêntica birra de bebé) ao mesmo tempo que somos lançados para uma época anterior à supremacia dos yuppies nas grandes metrópoles - quando ainda só existiam hippies e quem usava fato e gravata era careta; quando ainda não existiam celulares e se percorria a América à boleia, ao estilo Christopher McCandless.
Nesta amálaga onde provavelmente estão presentes vários estupefacientes (vulgo, ácidos), auto-definiu-se naturalista. Acredita no místico e tem uma atitude antropológica - a mãe natureza em tudo manda e tudo liga. Por exemplo, o quarto álbum de estúdio, já na XL Recordings, intitula-se Cripple Crow e está fundado na noção de karma: "Acredito. São ondas - o que pões é o que tiras. O karma é uma forma de equilíbrio. E existe fora do tempo. Nós existimos num mundo de tempo, mas o karma não. Uma coisa do passado pode atingir-te agora", disse numa entrevista acerca do álbum.
A barba e as tatuagens são a imagem de marca do músico que até ouve bastante rock e se faz acompanhar do seu computador portátil, um MacBook por sinal. Influenciado pelo Tropicalismo - movimento artístico brasileiro dos anos 60 - Caetano Veloso é assumidamente o seu músico preferido e ouve bastante música brasileira. Mas o seu interesse musical não pára por aqui: houve um pouco de tudo, desde música indiana a bripop e faz questão de oferecer CDs com as suas escolhas musicais a amigos e jornalistas - incluindo a Lindsay Lohan.
Se Cripple Crow trouxe Devendra para a ribalta da música alternativa norte-americana, os dois álbuns seguintes consolidaram esse trabalho: Smokey Rolls Down Thunder Canyon e What Will We Be têm músicas mais limpas - principalmente o último - e os artistas do New Weird America ganham cada vez mais voz, liderados pela persistência e talento de Devendra. Imprevesível, é também artista plástico e os seus desenhos estão presentes em várias galerias: em São Francisco, Miami, Nova Iorque, Bruxelas e Modena (Itália).
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