O mestre dos efeitos especiais
Na história da cinema poucos indivíduos deve haver tão importantes e tão injustamente esquecidos como Georges Méliès. À exceção do equipamento de filmar e projetar, não será exagero dizer que Méliès inventou tudo no cinema, mas tudo mesmo: os estúdios de filmagem, os géneros cinematográficos, os guiões, as técnicas mecânicas e químicas, os efeitos especiais. Em tudo foi pioneiro e fez com tal imaginação e mestria que grandes cineastas como Chaplin ou Griffith reconheceram a sua influência e inspiração. É justo que se recorde o mestre e o seu trabalho.
Méliès merece um lugar de destaque na História, ao lado dos grandes criadores e visionários de todos os tempos que levaram a humanidade mais longe. Possuía um espírito inquieto e sonhador e uma enorme versatilidade. Na sua vida desempenhou uma série de atividades e profissões tão diversa e tão rica como desenhador, caricaturista, decorador, ilusionista, prestidigitador, ator, dramaturgo, realizador, produtor e vendedor de brinquedos. Nunca se conformou com as contrariedades e com os desaires que sofreu e não foram poucos. Soube mudar e adaptar-se. Foi brilhante. Foi deslumbrante.
Se tivesse seguido a tradição familiar Méliès poderia ter sido um bem sucedido fabricante de calçado de luxo em Paris. Mas o mundo do espectáculo e da magia atraía-o e, com o dinheiro que recebeu da empresa familiar, tornou-se ator e prestidigitador e comprou o famoso teatro de Robert-Houdin, o grande mágico francês. Pouco depois, em 1895, assistiu à primeira apresentação pública do Cinematógrafo dos irmãos Lumière. Este acontecimento mudou o rumo da sua vida.
Fundou uma companhia cinematográfica, a Star-Films, e montou estúdios de gravação equipados com uma série de funcionalidades, como iluminação (natural e artificial), cenários removíveis, camarins e instalações para os atores, zona técnica, etc. Foi aqui que desenvolveu tudo aquilo que se viria a tornar a sua imagem de marca e futura linguagem do cinema, combinando artes teatrais, tecnologia e efeitos especiais. Alguns dos modernos processos de montagem nasceram nestes estúdios, como o corte, a parada da câmera, o stop-motion, a sobreposição de imagens, as transições por dissolução (fade-in, fade-out), a manipulação gráfica da imagem, a utilização de ilusões de ótica e muitos mais.
Desta sua atividade prolífica resultaram mais de 500 filmes, curtas metragens de uma bobine no início e médias metragens mais sofisticadas posteriormente. Muitos deles se perderam, uns simplesmente desaparecidos, outros vendidos a peso para serem transformados em tacões de sapatos (autêntico). Conta-se que o próprio Méliès destruiu muitos deles num acesso de fúria, num momento difícil da sua vida.
O filme que o celebrizou foi uma obra excepcionalmente longa para a época, com 14 minutos: Viagem à Lua (Le voyage dans la Lune), de 1902, baseado num romance de outro visionário seu conterrâneo, Jules Verne. A imagem fantástica do foguetão a atingir um olho da lua viria a tornar-se um dos grandes ícones visuais do século XX. Todos os seus filmes possuíam uma enorme dose de magia, fantasia e deslumbramento que Méliès tinha aprendido na sua primeira profissão de ilusionista e prestidigitador e os complexos efeitos especiais, que tão bem sabia usar, eram o meio de que se servia para nos encantar. O fantástico e a magia, essências da obra de Méliès, são afinal as coisas essenciais de que é feito o cinema.
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