Centro de Memória da Amazônia resgata registros de imigrantes
O site do Centro de Memória da Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA) apresenta uma nova página na Internet. O espaço on-line é voltado à imigração e contém dados que podem auxiliar estudos voltados aos processos migratórios e a redes de sociabilidades de estrangeiros na capital paraense.
A iniciativa resulta de um levantamento sobre presença de imigrantes que viveram e morreram na cidade de Belém. "São pessoas de várias nacionalidades, mas, principalmente, gente que veio de Portugal, Marrocos, Espanha e Itália", informa o diretor do CMA, Otaviano Vieira.
As informações foram colhidas no acervo do próprio Centro, a partir de inventários post mortem, de registros de casamento civil e de processos criminais entre os séculos XIX e as primeiras décadas do século XX.
"Temos, agora, um banco de dados onde figuram nomes, procedências, idades de estrangeiros. Essa base pode ser consultada no nosso site e possibilitar encontros entre famílias, entre"Beléns", no tempo, declara Otaviano Vieira. "É o nosso esforço de apresentar algumas das faces da Amazônia", conclui o diretor.
Serviço:
Para conhecer o acervo on-line do Projeto Imigração na Amazônia, basta acessar a página do CMA na Internet: www.ufpa.br/cma/imigracao
Italianos
A presença italiana na Amazônia do fim do século XIX até às primeiras décadas do século XX insere-se no conjunto das correntes migratórias internacionais que se dirigiram para a região, tendo como principal motivação a busca pelas apregoadas riquezas decorrentes da exploração da borracha. Entre os italianos, um grupo significativo foi formado por religiosos que vinham atender determinações específicas de suas respectivas congregações.
Eles deixaram as marcas de sua presença em estabelecimentos de ensino e em hospitais. Outro grupo importante era composto por arquitetos, pintores, músicos e outros artistas. A presença desses artistas foi de grande relevo pelas marcas que deixaram nas cidades amazônicas e a propaganda de suas obras na Itália pode ter constituído um estímulo para outros grupos emigrarem espontaneamente.
Ganha especial relevo, a chegada de famílias de imigrantes italianos que elegeram a Amazônia como região de destino aqui se fixaram e se integraram à economia e è sociedade amazônicas. Embora o número de imigrantes vindos para a Amazônia seja menor, se comparado com os que vieram para o Sul e Sudeste do Brasil, evidências empíricas permitem agrupar os imigrantes italianos em dois grandes segmentos: os que vieram para colônias agrícolas, através de imigração subsidiada e a imigração espontânea dirigida às cidades. A imigração dos dois segmentos foi contemporânea, mas se diferenciaram quanto às razões norteadoras da migração, à composição social, à origem regional e às áreas de destino dentro da Amazônia.
O fluxo migratório de italianos direcionado para as colônias agrícolas foi composto por grupos familiares de agricultores que em 1899, em navios da companhia La Ligure Brasiliana deixaram a Itália destinando-se a povoar colônias agrícolas de Anita Garibaldi, Ianetama localizadas às margens da estrada de ferro de Bragança , no atual município de Castanhal e colônia modelo de Outeiro, localizada no distrito de Icoaraci. Para a colônia Anita Garibaldi vieram imigrantes do Veneto, Lombardia, Piemonte e Emilia Romagna. Para Ianetama, vieram do Veneto, da Campania e da Sicilia. Para Outeiro vieram colonos do Veneto.
A procedência regional dos italianos que vieram para as cidades amazônicas apresenta-se diversificada. Algumas famílias vieram da Itália setentrional, das regiões do Veneto, Lombardia, Emilia Romagna, Piemonte e Ligúria, ou da Itália central, região do Lazio e da Toscana, e ainda da Sicilia. Embora a origem regional possa pontualmente ser diversificada, a maioria dos imigrantes (cerca de 90%) veio da Itália meridional, principalmente de três regiões, Calábria, Basilicata e Campânia. Constituiu um grupo mais numeroso do que o da colonização dirigida para as colônias agrícolas e teve maior continuidade. Seus descendentes ainda são encontrados em várias cidades amazônicas.
Na Amazônia, o segmento dos italianos se dirigiu às cidades fixando-se nas capitais do Pará e do Amazonas, Belém e Manaus e em alguns municípios localizados ao longo do rio Amazonas e de seus principais afluentes, por onde circulava o capital mercantil decorrente da economia da borracha. Mas, mesmo com o declínio dessa economia muitos permaneceram nas cidades. Os italianos inseriram-se em diferentes setores da economia, o crescimento urbano propiciava condições favoráveis e criava um mercado de atividades de prestação de serviços que atraiu boa parte dos imigrantes que chegavam às cidades. Por outro lado, os que traziam algumas economias, geralmente empregavam seus capitais na criação de estabelecimentos comerciais nas capitais e em cidades do interior. Houve casos em que a habilidade artesanal evoluiu para a criação de fábrica de sapatos ou proporcionou a criação de alfaiatarias e ourivesarias. Ao lado destes imigrantes economicamente bem situados muitos permaneceram exercendo atividades de menor qualificação como engraxates, jornaleiros, marceneiros, pedreiros, entre outras.Os imigrantes italianos também tiveram participação significativa nos primórdios da indústria paraense como no beneficiamento de sementes oleaginosas usinas Victoria e Conceição, criadas década de 1920. A literatura destaca também a importância dos italianos na instalação das primeiras fábricas de calçados na Amazônia. Nesse setor destacou-se fábrica Boa Fama que era de propriedade do lucano Nicola Conte.
Na Amazônia, a presença italiana é reconhecida pela importância econômica e cultural que representou. Os imigrantes italianos buscaram a preservação de sua cultura e identidade através das associações como a Unione Italiana D'Istruzioni e a Società Italianadi Beneficenza ou ainda através da imprensa com a criação de jornais como o L'Eco Del Pará que circulou em Belém de 1898 a 1900. Por outro lado, não sendo muito numerosos, esses italianos não constituíram núcleos fechados nas cidades amazônicas e rapidamente passaram a fazer parte delas introduzindo novos hábitos, inclusive na culinária com o uso de massas e o consumo de verduras e legumes, produtos de suas hortas caseiras.
O interesse pela educação dos filhos é outro ponto a ser destacado. Os imigrantes desejavam um futuro melhor para os seus filhos, bem diferente de sua experiência migratória. O expressivo número de profissionais liberais descendentes desses imigrantes italianos que se encontram na Amazônia parece confirmar a realização da aspiração dos pais e avós imigrantes, são profissionais qualificados que dão significativa contribuição na produção material e intelectual da sociedade regional.
Profa. Dra. Marília Ferreira Emmi (UFPA)
Redação revista eletrônica Oriundi
http://www.oriundi.net/
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