Fotografia - TimeLapse
Neste artigo vamos conhecer o que é a técnica TimeLapse, vamos observar os seus efeitos espetaculares, tecer algumas considerações (de ordem pseudo-filosófica) sobre o Tempo, e ainda vislumbrar um senhor fantástico. Tudo isto não por esta ordem mas, de alguma forma, aleatoriamente.
Breve consideração despretensiosa sobre o tempo: Time elapses. But time is just a concept. Compramos, vendemos, trocamos, perdemos, ganhamos, desperdiçamos, vendemos – Tempo. O tempo não passa, apenas um conjunto de fenómenos que tatuam cicatrizes na pele (nos olhos, na alma), cíclicos, aparentam aos nossos sentidos acontecer. E a nossa cabeça, o nosso cérebro. Aí reside o tempo, aí (aqui), o tempo passa; o tempo voa. O nosso corpo percepciona a passagem dos dias, e desgasta-se, deixando para trás o ontem luzidio e irrecuperável dos entretantos. Não querendo estender demasiado esta consideração, nem divagar sobre o assunto, impera (de novo despretensiosamente e antes de focar o essencial do tema, entretanto pendente) colocar (ou situar) um último pensamento. O tempo não é igual sempre. O tempo tem uma idade, tem o tempo de uma cidade (tem o tempo que o tempo tem), da dinâmica urbana, da aceleração quase promíscua da contemporaneidade, que difere do tempo de uma paisagem rara, da simples passagem das nuvens num céu mutante, da maçã que apodrece, da beleza desgastada.
O tempo colapsa perante a tecnologia, torna-se moldável, hiperconceptualiza-se, torna-se qualquer coisa que extravasa o capital percepcional das faculdades humanas, o tempo torna-se arte – desaparece, e eterniza-se.
Vamos então agora perceber como funciona esta técnica do TimeLapse. TimeLapse (“lapso de tempo”) é, sucintamente (algo a explorar), uma técnica cinematográfica em que cada frame da realidade é captado a um rácio muito mais lento do que aquele com que irá ser, a posteriori, reproduzido. Assim, quando reproduzido a uma velocidade normal, estes frames revelam um recorte de ação que aparenta estar a mover-se mais rápido. Interessante, ah? Desta forma, eventos sutis, impossíveis de serem observados “a olho nu” (exceto talvez em estados de um qualquer transe ou com uma inimaginável paciência – algo que mesmo assim não teria o mesmo efeito, como é óbvio), repito: eventos impossíveis de serem observados “a olho nu”, são agora visíveis, não in loco, mas em superfícies reprodutoras – vulgos monitores. Isto é deveras interessante, mas o melhor ainda vem aí – em breve vão ficar a conhecer um senhor genial.
A fotografia TimeLapse pode ser considerada como o oposto da fotografia HighSpeed (“alta velocidade”), que é, basicamente, um método de fotografar eventos de alta velocidade – lembram-se com certeza da sequência de fotografias do cavalo a galopar e do “seu” jokey tiradas pelo fotógrafo inglês Eadweard Muybridge em 1878 – tiradas (as fotografias) por uma câmara capaz de pelo menos 128 frames por segundo. Para além desta comparação, a técnica TimeLapse pode também ser confundida com a animação StopMotion (“movimento parado” – tradução livre), a técnica de mover objetos manualmente aos bocadinhos e ir fotografando de cada vez que se move esse objeto cada bocadinho – técnica usada de diversas formas mas muito conhecida em animação de plasticina (tipo “Fuga das Galinhas”, por exemplo). Sendo assim, sabemos que a técnica TimeLapse pode ser considerada o oposto da fotografia HighSpeed, pode ser confundida com StopMotion e é ainda considerada uma versão extrema da técnica cinematográfica Undercranking (“sob-excêntrico”, de novo uma tradução livre) que se traduz, outra vez basicamente, por uma filmagem a uma velocidade superior à normal que, sendo depois projetada à velocidade normal, resulta com que a ação seja mais lenta que o normal. Vá, é tipo aquele efeito usado em momentos tensos num filme: o instante da morte de um personagem, o atleta a saltar uma barreira, o Neo que se desvia das balas, talvez num beijo romântico, em que tudo parece parar à volta.
Ott. O nosso senhor da genialidade chama-se, simplesmente, Ott. Para introduzir e contextualizar os seus feitos tecno-botânico-artísticos, permitam fazer um breve resumo histórico do TimeLapse: o primeiro uso desta técnica aparece no filme de George Méliè, Carrefour De L’Opera (“encruzilhada da ópera”), de 1897. As primeiras experiências com fenómenos biológicos surgiram com Jean Comandon, em 1909. Posteriormente, surge uma série de películas, chamadas Bergfilms (da Mountain Films), por Arnold Franck, nos anos 20, onde se inclui o famoso The Holy Mountain (1926). Eis que surge, finalmente, o nosso caro Ott. Este senhor era bancário e tinha como hobby a fotografia TimeLapse, sobretudo de plantas e flores. Então o que é que ele decide fazer? Constrói uma estufa enorme onde planta diferentes espécies (de plantas e flores) e posiciona diversas câmaras com um sistema automático por ele inventado que permite que estas sigam os movimentos naturais destes seres vivos. Teve ainda a brilhante ideia de posicionar uma câmara que focava toda a estufa, criando assim um bailado virtual em TimeLapse do movimento das plantas juntamente com o movimento das câmaras. Maravilhado com esta dança tecno-biológica, Ott investigou ainda mais e descobriu que podia manipular os passos de dança das plantas e flores controlando o seu crescimento através de variações da quantidade de água, da cor das luzes e temperatura. Descobriu ainda que podia mudar o sexo das plantas apenas através destas variações! Para completar esta lucidez e estupefação de raciocínio, conseguiu ainda sincronizar esta orgia de movimentos com faixas de música pré-selecionadas! Delicioso imaginar toda aquela estufa, as diferentes plantas, as diversas espécies de flores, com variados ritmos, as câmaras “vivas”, tudo ganhar uma nova dimensão ao som de Bach, de Beethoven, em TimeLapse. Muito bom! Sim, isto existe em documentário: chama-se “Exploring the Spectrum” (“explorando o espectro”), e existem ainda alguns livros escritos pelo próprio Ott, entre eles: “My Ivory Cellar” (“a minha cave de marfim”) (1958) e “Health and Light” (“saúde e luz”) (1979).
(Finalizando) TimeLapse são produtos artísticos que jogam com uma multitude de sensações, suportados pela tecnologia. Uma câmara é instalada e (assumo a imprecisão da expressão) o tempo dobra, tornando-se uma nova dimensão divinizada. Pudéssemos nós controlar a sua velocidade, a sua cadência, e ter tempo para ver o tempo passar e teríamos um elapsed time in loco. A câmara de filmar é o meio que nos permite usufruir de tal fenómeno. Como o tempo escasseia, teremos que nos forçar a perder (ganhar) algum tempo, e parar. Somos a câmara e “vemos” a realidade “com outros olhos”.
O tempo é como o silêncio. Por vezes percepciona-se. O tempo é como o amor. Por vezes o tempo voa.
O tempo agora é o do silêncio. É tempo de parar, de abrandar lentamente o ritmo, de criar um lapso, e ver um pouco um pouco do mundo através dos olhos de Deus.
Los Angeles: in motion from Michael Marantz on Vimeo.
Time Lapse Round One from Sean Stiegemeier on Vimeo.
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