sábado, 7 de agosto de 2010

O homem que assassinou Ernesto Guevara

Fotografia de Alberto Korda
9 de Outubro de 1967, o homem que assassinou Ernesto Guevara criou, sem o saber, um mito. Em duas rajadas. A CIA arquitetou, Barrientos juntou o útil ao agradável e ordenou, Félix Rodriguez supervisionou e Mario Terán executou. Simples rápido e eficaz: a Revolução, de uma assentada, tinha perdido um combatente e ganho um mártir.
La Higuera, 9 de Outubro de 1967, 13,10h: Mario Terán Salazar, sargento do exército boliviano, cumpriu as instruções de Félix Ismael Rodríguez Mendigutía, operacional cubano anticastrista e agente da CIA que tinha recebido uma ordem direta nesse sentido de René Barrientos, o ditador de serviço na Bolívia, e com duas rajadas de metralhadora punha um ponto final na vida do guerrilheiro Ernesto Guevara, o "Che", ferido numa perna e feito prisioneiro no dia anterior após o combate da ravina de Quebrada del Yuro ao lado do grupo internacional de guerrilheiros que comandava.
O mito vivo tinha-se transformado em mártir da Revolução que amava, à qual dedicou a sua existência e pela qual pereceu.
O corpo do Che foi transportado para Vallegrande onde foi exposto à turba e aos jornalistas e, nessa altura, o jornalista Richard Gott do The Guardian, perante o corpo mutilado de Guevara, afirmou profeticamente: "O comandante Ernesto Che Guevara ficará para a história como a figura mais importante desde Bolívar. Ele foi talvez a única pessoa capaz de encaminhar as forças radicais de todo o mundo numa campanha concentrada contra os Estados Unidos. Agora está morto, mas é difícil imaginar que as suas ideias morram com ele".
Em 1997 os seus restos mortais foram encontrados numa vala comum, junto a outras ossadas, na cidade de Vallegrande, a cerca de 50 Km de onde ocorreu a sua execução. O seu esqueleto estava sem as mãos, que foram amputadas para servir como troféu logo após a sua morte. Os seus restos mortais foram transferidos para Cuba onde, em 17 de Outubro desse mesmo ano, foram enterrados com honras de Estado. Chegava assim ao fim a conturbada existência deste médico de formação, marxista ortodoxo e revolucionário por convicção, guerrilheiro e internacionalista por opção, que marcou decisivamente a história revolucionária do século XX.
Pese embora a consistente teoria da "traição cubana" que continua a pairar no areópago das "eternas dúvidas plausíveis que dificilmente se virão a esclarecer", para a história ficam também os destinos dos outros intervenientes: quase todos os companheiros do Comandante Guevara foram mortos em combate ou executados, e a guerrilha na Bolívia sofreu na época um duro revés; Barrientos, o mandante, ditador e protetor de Klaus Barbie, morreu em Abril de 1969 num estranho acidente de helicóptero, mas ainda teve tempo para assistir, em 1968, ao escândalo do desaparecimento do seu amigo e Ministro do Interior, o controverso Antonio Arguedas que, para além de ter admitido ser um agente marxista infiltrado e de ter desviado para Havana o famoso diário capturado a Che Guevara, ainda denunciou publicamente as atrocidades do ditador e dos seus colaboradores e as ligações do regime à CIA.
Rodriguez continua vivo, e depois de muitos anos a sujar as mãos ao serviço da CIA, nomeadamente ao serviço do tristemente célebre Phoenix Program, abraçou uma carreira política de pouco sucesso, que ainda mantém, pese embora as suas conhecidas ligações ao clã Bush.
Mario Terán, que quis a ironia do destino fosse, no ano passado, operado com sucesso às cataratas por médicos cubanos no âmbito da "Operación Milagro", vive, mas transido de medo, como revelou recentemente numa entrevista à revista "Piauí", onde relata com pormenor os acontecimentos de La Higuera e todo o seu degradado trajeto pessoal desde então.
A Bolívia é hoje um estado mais democrático, cujo presidente Evo Morales tenta, com avanços e recuos, resistir aos avanços do grande capital e das forças políticas que o apoiam. Os camponeses bolivianos, esses, continuam a labutar de sol a sol, da mesma forma, com os mesmos proventos e os mesmos direitos de então. A CIA permanece imparável, semeando impunemente ventos e tempestades pelas sete partidas do mundo.
A Revolução, essa, resiste e continua. Pálida, tímida e titubeante, é um fato. Mas, que não restem dúvidas, continua!


Fonte: http://obviousmag.org/

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