segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Religião: "Convergência de Culturas ou Conflito entre Credos?

Com o início do Ramadan, o nono mês do calendário islâmico, aparecem debates quentes, se os muçulmanos devem ser autorizados a cortar as gargantas de ovinos em público, a fazer a chamada para a oração (Adhan) em comunidades não-muçulmanas, construir uma mesquita perto de Ground Zero. 

A Religião fornece uma bandeira excelente do tipo “nós” e “eles”, onde quanto maior o valor “eles”, mais a justificativa de “nós”. O desporto, e futebol em particular, constituem uma oportunidade fácil de associar-se com um lado ou outro a nível primário (as cores de muitos times de futebol são as primárias – vermelho, azul ou verde). A religião, sendo supra-humana, é um veículo muito mais poderoso de definir quem nós somos, como nós nos comportamos e em quê nós acreditamos.

Há uma razão para tudo - a referência à religião ou à saúde após o espirro (foi o primeiro sinal da Peste bubônica), o acto de cobrir a boca durante o bocejo (de modo que a alma não escape e o Diabo não entre), a superstição em torno da Sexta-feira 13 (Jesus foi crucificado numa sexta feira e havia 13 pessoas na Última Ceia).

E há uma razão para a religião, ou seja, a temperar o espírito humano de ambição, tão necessário para nossa sobrevivência; foi criado o conceito de que existe algo superior a nós, assim quem quer que seja e por mais elevado que possa estar, existe algo ainda mais e seu fim será o mesmo que o mendigo na rua.

Superior a “nós”, pois. “Nós” porque se na fase de regulamentação as religiões são desenhadas para delinear o comportamento dentro de uma certa sociedade (“isso é o que nós cá fazemos e reunimos regularmente para realçar o credo”), depois em escala planetária, todos somos iguais diante de Deus, ou perante a Mãe Natureza.

Esta mensagem não cai muito bem com aqueles que pretendem perpetuar o conflito por abusar a religião, sejam eles blasfemos islâmicos que denigrem os nobres preceitos do Corão, que zelotes judeus, que são criticados no Talmude, ou Cruzados cristaõs a civilizar o mundo com a Bíblia e a Bala (contra toda a norma no Novo Testamento) – ou então aqueles que protestam contra a construção da mesquita perto do Ground Zero (local do atentado 9/11 em Nova Iorque).
E o combustível para as chamas das fogueiras dos fanáticos é a ignorância, o que leva à premissa de que o ensino e a religião devem ir lado a lado de mãos dadas, à premissa que desenvolvimento e não invasões militares é a palavra-chave na gestão de crises e à premissa de que a combinação de ignorância e religião é tão letal quanto é manipuladora, tão perigosa quanto possa ser apelativa, a alguns. 

Por conseguinte, com o início do Ramadão, é importante que as pessoas compreendam o seu íntimo cultural e social. Ramadão é basicamente uma concentração em Deus, um mês de jejum entre o amanhecer e o entardecer, um mês de oração e de introspecção, e um mês de caridade. É um mês de dar. Foi no mês em que o primeiros versículos do Alcorão foram revelados ao profeta Maomé. 
Caridade e paz são aspectos fundamentais da fé islâmica. Abuso de textos religiosos e mau jornalismo criam crenças absurdas, do tipo “islâmica” é o mesmo que “islamista” (extremistas), enquanto a verdade é que os autores do suposto 11/09 foram a antítese da religião que eles eram supostos a defenderem. Em termos religiosos, 11/09 não faz sentido.

E aí chegamos ao âmago da questão: Obviamente, as religiões devem ser uma convergência das culturas e não um choque entre credos. E é por isso, juntamente com a educação, o senso comum entra na equação.

As palavras do presidente Barack Obama sobre a questão envolvendo a construção de uma mesquita perto de Ground Zero resumem a forma como o mundo civilizado e educado deve pensar: "Esta é América e nosso compromisso com a liberdade religiosa deve ser inquebrantável" .

No entanto, a disciplina e a doutrina podem criar pontos de conflito, e estes são os fenda na armadura tão fáceis de explorar por aqueles que promoverem a sua própria posição através da manipulação da religião. Quão provocativo é, ou deveria ser, a mulher usar uma burqah em público, no Afeganistão, em Tel Aviv, em Paris? Ou um muezin chamar o Adhan em voz alta à primeira luz, em Riad, em Tanger, em Madrid? Ou o direito de realizar o Thabiha (abate ritual de animal) em um cordeiro em Damasco, ou Detroit ou Moscovo? Ou mesmo quão provocador o infernal barulho dos sinos da igreja num domingo de manhã acordando os farristas da noite de sábado ... em Londres, em Tirana ou no Cairo?

“Yo soy yo y mi circunstancia” disse Ortega y Gasset. Creio que, ao deixá-lo aqui, as palavras do filósofo e escritor espanhol já disseram tudo.

Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru 
Fonte: Pravda.ru

Seja o primeiro a comentar!

Postar um comentário

Não serão aceitos comentários Anônimos (as)
Comentar somente sobre o assunto
Não faça publicidade (Spam)
Respeitar as opiniões
Palavras de baixo calão nem pense
Comentários sem Perfil não será publicado
Quer Parceria não será por aqui.(Contato no Blog)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Software do Dia: Completo e Grátis

Giveaway of the Day
PageRank

  ©LAMBARITÁLIA - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo