sexta-feira, 6 de agosto de 2010

The Rolling Stones - Exile

Muita gente não entendeu o disco quando foi lançado, mas quase 40 anos depois, Exile on Main Street é tido como a obra definitiva dos Stones. Uma centena de histórias cerca as gravações do álbum, principalmente nos nove meses em que o grupo se exilou na França para fugir dos impostos britânicos. Mick Jagger se estabeleceu em Paris com sua nova noiva Bianca, e o guitarrista Keith Richards alugou uma mansão luxuosa, Nellcôte, em Villefranche-sur-Mer, perto de Nice.
Além de alugar a vila inteira, Keith comprou aproveitou que as escadarias da mansão terminavam em uma doca, e comprou uma lancha. “Várias vezes a gasolina dele acabava no meio da baia, e ele soltava foguetes e tínhamos que ir buscá-lo”, diz Anita. “A casa era linda e decadente. E não tinha móveis. Os melhores sofás da casa eram das guitarras de Keith. Elas ficavam lá e nós tínhamos que nos ajeitar no chão. Aliás, Keith faz isso até hoje”, relembra.
Stones In Exile remexe o baú conturbado das gravações do disco. Começa com Mick Jagger e Charlie Watts visitando o Olympic Studios, um dos estúdios que serviu para o álbum ainda quando a banda residia em Londres, e depois parte para uma mansão da família de Jagger que abrigou a segunda fase das gravações do álbum. Porém, o grosso das gravações aconteceu nos porões abafados da mansão de Keith em Nellcôte durante nove meses com a banda deslocando um estúdio móvel para o local.
O documentário começa explicando a saída da banda do Reino Unido (devido aos altos impostos cobrados pelo fisco britânico), com imagens de época, e foca no exílio francês, e principalmente nas histórias que cercam a casa de Keith em Nellcôte. “Quem tem dinheiro consegue tudo ali. De um lado tem Marselha, conhecida por produtos ilegais. Do outro está a Itália, com a Máfia. Junta-se os dois e se compreende”, diz o fotografo Dominique Tarlé.
“Eu sabia que os Stones tinham se mudado para o sul da França, e fui atrás deles para fazer algumas fotos. A casa em Nellcôte era lindíssima. Eu não sabia que Keith e Anita estavam vivendo lá, mas fui e consegui passar uma tarde com eles. No final do dia, eu estava me despedindo, e eles disseram que eu podia ficar, e eu fiquei… seis meses”, relembra o fotógrafo responsável pela maioria das imagens que ilustram o filme (que ainda tem excertos de “Cocksucker Blues”, o filme proibido de Robert Frank).
Uma lista interessante de convidados participa do documentário, mas são os ex-Stones Mick Taylor e Bill Wyman que protagonizam as passagens hilárias. “Tinha as meninas seminuas na praia, porém não tinha chá e o leite era horrível”, reclama o ex-baixista enquanto Keith se refestelava com um coquetel de drogas variadas. “Mick Taylor era muito melhor que todos nós, mas no palco ele não se movia. O público todo na sua frente e ele lá, estático, tocando. Não rolava”, analisa o ex-baixista.
As gravações foram um caos. “Raramente a banda se reunia toda nos porões da casa”, lembra Bill. “Teve dias em que acordei e percebi que tinha passado o dia inteiro dormindo”, diz Keith. “Nós ali ensaiando, e ele – Keith – nem para descer para falar com a gente. Eu tinha viajado uma hora, o Charlie quatro horas para ensaiar, mas ninguém aparecia, e fazíamos pequenas jams com o pessoal dos metais, para aproveitar o tempo, mas o porão era um forno. Era impossível ficar lá muito tempo”, espeta Wyman.
Ou seja, a banda passava a maior parte do tempo fazendo jams. “Fizemos nove músicas em nove meses lá”, relembra Mick Jagger. “Uma boa média: uma música por mês”, brinca Charlie Watts. “Que nada. Uma boa média teria sido uma música por dia”, encerra Mick. Depois veio a mixagem, outra novela que se estendeu durante meses até o álbum ficar pronto. O fotógrafo Robert Frank foi chamado para fazer a capa e o resultado de tudo é um dos vinis duplos fundamentais da história da música pop.
Stones In Exile é um excelente retrato na linha da série Classic Álbuns, mas as histórias secundárias – principalmente as que envolviam drogas, rock and roll e sexo, ordem sugerida por Anita Pallenberg, esposa de Keith – poderiam ser melhor exploradas. Jack White, Benicio Del Toro, Liz Phair, Sheryl Crown e Martin Scorsese, entre outros, analisam o disco e falam de suas canções preferidas dando um colorido especial ao filme, mas tudo que vale aqui são as lembranças de Keith, Mick, Charlie, Bill e Anita sobre o período sensacional de uma das maiores bandas de todos os tempos. É ver o filme e ouvir o disco. Mais uma vez.
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Por Marcelo Costa
em parceria com Revista Speculum
Fonte: http://obviousmag.org/

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