segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Terroristas 2.0

Fotografia Paul Fusco - Magnum
Laurie Anderson gostava muito de citar o seu conterrâneo Don DeLillo, escritor, quando este dizia que “os terroristas eram os derradeiros artistas contemporâneos, os únicos ainda verdadeiramente capazes de nos chocar”. A partir desta frase poderia fazer um post sobre a natureza da arte contemporânea, mas neste vou falar um bocadinho sobre o terrorismo que, como a Internet, parece ter entrado numa era 2.0.
A Web 2.0 é uma espécie de revolução marxista da Internet: os operários tomam conta dos meios de produção; os bloguistas revoltam-se contra o quarto poder; o youtube põe em causa a televisão; do espectador passivo espera-se que seja um prolixo produtor de texto, som e imagem; os sistemas mais do que difusores de conteúdos pré-produzidos seriam facilitadores de produção e interligação. Em resumo, na Web 2.0, os loucos tomam conta do asilo. A produção de informação, opinião, seja escrita ou audiovisual, democratiza-se radicalmente. Note-se que isto não é um discurso eufórico, pois creio sinceramente que nem todos estávamos preparados para isto. Mas mais sobre isso noutro post também.

Voltemos então ao terrorismo. Tal como a espionagem, o terrorismo era em tempos resultado de uma organização secreta e minuciosa. Quanto mais secreto e organizado fosse o funcionamento das células terroristas, mais espectacular seria o seu resultado. O financiamento vinha de negócios igualmente ilegais, incluindo a droga e o tráfico de armas e os alvos eram geralmente uma ordem estabelecida, com preferência para os mais ricos, mais poderosos ou apenas mais livres.

Quando esta forma de fazer terrorismo atingia o seu auge, em 11 de Setembro de 2001, também a primeira bolha Internet rebentava e lançavam-se as fundações para a tal web 2.0. Uma coisa nada tem a ver com a outra, aparentemente, mas a simultaneidade de ambos os acontecimentos indicia uma mudança de paradigma. Hoje, todos os especialistas nos dizem que a Al Qaeda é menos uma organização terrorista, mas mais um programa difuso que se materializa numa rede dispersa de pequenas organizações voluntaristas, sem grande hierarquia mas com muita vontade de agir. Cheira-me a 2.0.

O recente massacre de estudantes na Finlândia por um aluno que publicou as suas intenções na Internet leva-me a estender esta lógica ainda um pouco mais longe. Hoje, o terrorista está em potencial em cada um de nós. A raiva, a revolta, a baixa auto-estima, a pressão social, o silêncio, a overdose de comunicação, a multiplicidade ideológica, tudo parece contribuir para levar ao limite alguns adolescentes, desde sempre uma idade delicada. A pura demonstração da violência (e não, não falo da virtual e ficcional, falo da real) no trânsito, na vida familiar, nos exemplos que nos chegam do outro lado do Atlântico, mais não são do que um catalisador para a emergência solitária e terrível (passo a redundância) deste novo terrorista.



Seja o primeiro a comentar!

Postar um comentário

Não serão aceitos comentários Anônimos (as)
Comentar somente sobre o assunto
Não faça publicidade (Spam)
Respeitar as opiniões
Palavras de baixo calão nem pense
Comentários sem Perfil não será publicado
Quer Parceria não será por aqui.(Contato no Blog)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Software do Dia: Completo e Grátis

Giveaway of the Day
PageRank

  ©LAMBARITÁLIA - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo