sábado, 23 de outubro de 2010

Esculturas nas pontas dos lápis - Dalton Ghetti

Com os lápis aprendemos a escrever e a fazer contas. Aprendemos a enganar-nos, a apagar tudo e a recomeçar de novo. As pequenas ferramentas feitas de madeira e grafite estão presentes desde a infância, acompanham-nos o resto da vida e podem ser encontradas em qualquer lado. O brasileiro Dalton Ghetti guarda os que encontra e faz esculturas minúsculas nas pontas de grafite.
Ghetti aprendeu a esculpir lápis à mão quando tinha seis anos. Filho de uma costureira, cedo aprendeu a coser e usava as agulhas para esculpir, além de fazer os seus próprios brinquedos, como carrinhos, caixas ou bonecas. Pouco a pouco, a sua técnica foi-se aperfeiçoando, tornando-se numa arte de atenção ao pormenor.
Hoje, com 49 anos, Ghetti vive há 15 nos Estados Unidos, em Connecticut, e dedicou os últimos 25 a esculpir apenas a grafite dos lápis, sem nunca comercializar o seu trabalho. "Deixa-me cá ver o quão pequeno posso esculpir as coisas" foi a sua ideia inicial, que, entretanto, se tornou em algo mais do que um passatempo: é uma técnica terapêutica que o afasta da miopia contemporânea (mas que não pode exceder uma hora e meia por dia, para poupar a vista).
Sem usar qualquer instrumento de aumento, Ghetti tem uma técnica quase primitiva, usando quase sempre a luz solar e ferramentas como lâminas de barbear e agulhas. Nunca compra material específico para esculpir, recicla e utiliza os lápis que encontra e aqueles que os amigos lhe dão: uma forma de dar personalidade e história ao trabalho final. Como o próprio artista defende, as suas esculturas são um trabalho acerca da paciência, da dedicação e concentração.
O resultado final das suas peças quase exige uma lupa (e nalgumas exposições, elas são distribuídas aos visitantes). Em Alphabet, Ghetti reproduziu todas as letras do alfabeto em 26 lápis. Em Correntes, a grafite foi utilizada para unir duas pontas de lápis, simulando umas correias. Serras, martelos e botas são outros elementos que podem ser encontrados nas pontas dos lápis.
Ghetti pode levar meses ou até anos para completar as suas mini-esculturas. Por exemplo, o seu próximo grande trabalho está a demorar exactamente dez anos a ser concluido. Começou a ser feito logo após os atentados do 11 de Setembro e o objetivo é criar uma lágrima de grafite por cada pessoa que morreu na tragédia. De cada lápis extrai 25 lágrimas e faz uma por dia. Em 2011, quando terminar as quase 3000 lágrimas, elas serão coladas umas às outras. O objetivo é que ao longe se pareça uma grande lágrima negra, mas que ao perto e com a devida atenção se possa ver distintamente cada uma delas.
As esculturas de Dalton Ghetti estão presentes na exposição Meticulous Masterpieces: Contemporary Art by Dalton Ghetti, Les Lourigan e Jennifer Maestre, no New Britain Museum of American Art, em New Britain, Connecticut.
 
 
 

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