Segunda Guerra Mundial - Ambiente e Origem - A crise de maio de 1938
A crise de maio de 1938
A própria existência da Tchecoslováquia era uma afronta para certos princípios fundamentais do credo nazista. Dentro das fronteiras desse Estado, principalmente na zona ocidental conhecida como região dos sudetos, havia mais de três milhões de habitantes de raça alemã, os quais, com seus ancestrais, tinham estado ali durante séculos. Até 1919, tinham sido súditos não da Alemanha, mas do império dos Habsburgos. Mas a idéia da gente de sangue alemão viver sob o domínio eslavo, desafiou as doutrinas raciais nazistas. A política de reunir todos os alemães num só Estado devia estender-se aos sudetos.
Mas, além da voz do sangue, havia o apelo do solo. A Tchecoslováquia apresentava-se como um formidável obstáculo ao programa nazista de expansão para o leste. Essa "fortaleza construída por Deus no coração da Europa", como a chamou Bismarck, estava reforçada por obras modernas de defesa e guarnecida por um exército bem equipado. Mais que isto, ela estava de aliança com a França, e assim era um instrumento de possível guerra em duas frentes. Tinha de ser isolada e esmagada, para que ficasse livre o caminho às ambições nazistas.
Mas, acima de tudo, a Tchecoslováquia tinha entrado em relações estreitas com a Rússia. Um tratado, concluído ao tempo da aliança franco-soviética, previa assistência mútua sob a condição de que também a França cumprisse as suas obrigações. A idéia de que um pequeno Estado vizinho tenha aceito auxílio bolchevista contribuiu para enfurecer os nazistas. Mais e mais a Rússia estava sendo apresentada ao povo alemão como seu inimigo mortal, e os espólios a serem ganhos da Rússia eram acenados, sedutores, diante de seus olhos. Os atos da reunião de Nuremberg em setembro de 1936 tinham sido compostos na maioria de diatribes contra as Sovietes. Hitler declarara: "Se tivéssemos os montes Urais com o seu incalculável depósito de tesouros em matérias-primas, a Sibéria com as vastas florestas e a Ucrânia com os tremendos campos de trigo, a Alemanha sob a direção nacional-socialista nadaria em fartura".
Essa hostilidade ao bolchevismo tomou forma no pacto Anti-Comintern, firmado pela Alemanha e Japão em novembro de 1936. Embora dirigido contra a comunismo mais que à Rússia especificamente, a sua promessa de tomar severas medidas contra as atividades comunistas "internas ou externas" não deixava nem um pouco de ser ameaçadora, apesar de seu caráter vago. A Itália aderiu ao acordo em 1937; a Espanha, Hungria e Manchukuo apuseram-lhe mais tarde as assinaturas. Em contraste com esses aliados na luta, a Tchecoslováquia se apresentava a Hitler como um Estado que estava sendo "usado pelo bolchevismo como o ponto de ingresso. Não fomos nós que procuramos um contacto com o bolchevismo, mas o bolchevismo usou esse Estado para abrir um canal para a Europa central". Rumores de aviões e bases russos em solo tcheco foram usados para emprestar apoio a essa acusação. A idéia de que a Tchecoslováquia era um instrumento ao ataque russo à Alemanha, foi facilmente estendida à crença de que os próprios tchecos eram bolchevistas.
Quando a Áustria foi anexada, a Alemanha dera garantias de que não tinha desígnio algum referente à Tchecoslováquia. Tornou-se claro, pouco depois, que essa promessa tinha mais ou menos o mesmo valor que os anteriores compromissos nazistas. A tática já usada contra a Áustria foi novamente posta em prática. Uma torrente de insultos foi dirigida pelas autoridades e pela imprensa da Alemanha contra os tchecos e seus líderes. Acusações precipitadas de atrocidades tchecas foram espalhadas pelo rádio. Fomentou-se o descontentamento interno entre eslovacos e alemães; e entre estes o instrumento foi o Partido alemão dos Sudetos, chefiado por Konrad Henlein.
Esse grupo tinha conseguido nova proeminência em conseqüência da depressão e da subida de Hitler ao poder. De 1933 em diante, recebeu ele cada vez maior apoio do Estado alemão. Suas exigências, contudo, na ocasião limitavam-se a uma maior liberdade dentro da Tchecoslováquia. Autonomia e não anexação, era a sua reivindicação oficial até as vésperas do Munique.
A anexação da Áustria encorajou Henlein para um novo gesto de atrevimento. A 25 de abril de 1936, o seu programa de Carlsbad continha a reivindicação da quase completa independência para todos os alemães dentro do Estado, numa base que os entregava praticamente à direção de Hitler. Em maio, a organização das tropas de assalto sudetas foi outro sinal de que se preparavam perturbações.
As potências, e particularmente a Grã-Bretanha, estavam ainda relutantes em ir ao encontro dos acontecimentos. Cinco dias depois da conquista da Áustria, a Rússia propôs uma conferência em que fossem estudados os meios de impedir nova agressão. A Grã-Bretanha considerou-a prematura e recusou-se a assumir novos compromissos na Europa oriental. A proposta soviética, disse Chamberlain a 24 de março, "envolvia menos a consulta com um ponto de vista a ser assentado do que o concertar de ação contra uma eventualidade que ainda não se apresentara." Mas, recusando quaisquer garantias antecipadas, ele aduziu à advertência: "Onde paz ou guerra estão em jogo, obrigações legais não ficam envolvidas, e se a guerra rebentasse certamente não ficaria confinada àqueles que assumiram tais obrigações". Em outras palavras, embora a Grã-Bretanha não prometesse adesão, também não prometeu ficar de lado.
A extensão do perigo ficou demonstrada na crise que culminou a 21 de maio. As eleições municipais tchecas estavam marcadas para 22 de maio. No dia 19 chegou a notícia da concentração de onze divisões alemães na fronteira. Aos pedidos ingleses de informações, a Alemanha respondeu que os movimentos de tropa eram "rotina". Mas um incidente ocorrido na fronteira e a recusa de Henlein de continuar as negociações que haviam sido realizadas com o governo, convenceu os tchecos de que uma invasão estava em projeto. Na sexta-feira, 21 de maio, guarneceram suas fortificações fronteiriças e apelaram para a Grã-Bretanha e a França. O governo francês prometeu ficar ao lado dos tchecos. A Grã-Bretanha concordou em vir em apoio da França. A ação francesa também atrairia a Rússia. Na segunda-feira a crise tinha passado, com a negativa indignada da Alemanha de que tivesse quaisquer desígnios em relação à Tchecoslováquia, e decisão de Henlein de reabrir as negociações com o premier Hodza.
fonte: http://www.2guerra.com.br
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