Segunda Guerra Mundial - Setembro a Dezembro de 1939 - A situação estratégica
A situação estratégica
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Quando se consideraram as exigências que a guerra haveria de impor a esses diferentes recursos, tomou-se logo evidente uma diferença entre os dois adversários. Se bem que a Alemanha não tivesse possessões imperiais, ela também estava livre de obrigações imperiais. Não tinha necessidade de dispersar forças para proteção de colônias ou para defesa de rotas comerciais. Como em 1914, podia concentrar seus esforços; e uma vez mais, sua posição geográfica lhe permitia operar em linhas interiores. Um estudo da situação estratégica, na verdade, dificilmente era possível sem compará-la com a de 1914.
O primeiro e mais evidente dos fatos era o de que em 1939, em contraste com a situação de 1914, a Alemanha estava sozinha. A aliança com a Itália, entusiasticamente exaltada pelos dois sócios como um "pacto de aço", tinha menos de quatro meses de idade quando a guerra estourou. Imediatamente, a despeito dos protestos de sua continuada lealdade à aliança, a Itália assumiu uma atitude de determinada neutralidade - atitude simbolizada pela reforma ministerial de 31 de outubro que eliminou do governo os principais partidários da Alemanha. O discurso do conde Ciano na Câmara das Corporações, a 16 de dezembro, revelou que a Itália tinha estipulado uma paz de três anos a fim de poder completar seus preparativos militares, que a Alemanha entrou em guerra com a Polônia a despeito dos esforços italianos para evitar as hostilidades e que o acordo germano-soviético era tudo menos bem-vindo. O tom oficial dos pronunciamentos italianos era ainda favorável à Alemanha, mas isto parecia motivado menos pela afeição ao Reich do que por uma insistente irritação em relação à Grã-Bretanha e França. Parecia cada vez mais provável que a Itália ainda uma vez aceitaria as condições mais atraentes que qualquer dos lados lhe oferecesse.
Esta atitude de parte da Itália, e ainda mais o pacto germano-soviético, tiveram importante influência sobre o outro membro do grupo anti-comintern. A vitória do general Franco na Espanha tinha sido proclamada por ele mesmo e pelos que o apoiavam como um triunfo sobre o Bolchevismo. Qualquer projeto que a Alemanha alimentasse em relação ao auxílio espanhol como sinal de gratidão pela sua assistência a Franco viu-se gravemente diminuído em conseqüência do tratado com a Rússia. Em qualquer caso seria discutível que a Espanha se movimentasse sem que primeiro a Itália assim procedesse. Assim, a neutralidade espanhola estava assegurada para o momento. Essa situação momentânea livrou os aliados da ameaça vital que de outra forma teria recaído sobre a sua posição no Mediterrâneo - resultado atribuível pelo menos tanto à boa sorte como à boa política.
Na outra ponta do Mediterrâneo, a situação era definitivamente mais favorável aos aliados do que tinha sido em 1914. A Turquia então se colocara ao lado da Alemanha. Agora ela não somente se mantinha neutra, mas também decidida a resistir a qualquer agressão alemã na região balcânica. Um tratado definitivo de assistência mútua no Mediterrâneo oriental, incluindo garantias específicas à Grécia e à Romênia, foi firmado entre a Turquia e os Aliados, em 19 de outubro. Seguiu-se-lhe um acordo comercial entre a Turquia e a Grã-Bretanha completado por conversações militares entre os três Estados. Foi assim assegurada aos Aliados uma coordenação dos esforços defensivos nos Bálcãs e no Oriente Próximo.
O outro aliado da Alemanha em 1914 foi a Áustria-Hungria. O império dos Habsburgos tinha sido liquidado em Versalhes; mas o seu resultado final fôra a absorção pela Alemanha nazista desses antigos territórios habsburguenses, a Áustria e a Tchecoslováquia. Podia considerar-se que esta absorção compensava em parte o desaparecimento do antigo aliado alemão, especialmente do ponto de vista estratégico. A dominação da Boêmia, aquela "fortaleza construída por Deus no coração da Europa", ficou assim uma vez mais assegurada. Havia vantagens econômicas também na aquisição tanto do parque industrial como das recursos naturais, se bem que essas vantagens não estivessem de maneira alguma isoladas uma da outra. Do ponto de vista puramente militar, por outro lado, o aumento do potencial humano estava longe do equivalente do antigo exército austríaco. Pelo contrário, a presença de uma população hostil e cheia de ressentimentos na Áustria e na Tchecoslováquia poderia tornar-se um problema sério que dificultaria os esforços de guerra do Reich.
Mas, se era verdade que a Alemanha se encontrava sozinha, não era menos verdadeiro que enfrentava um número menor de inimigos. No oeste, naturalmente, o efetivo comparado desses inimigos tinha toda a aparência de ser maior que em 1914. A preponderância naval britânica era ainda mais esmagadora. O exército francês era considerado quase unanimemente - e só os alemães discordavam disso - como o melhor do mundo. As defesas terrestres da França, um monumento das convicções e da resolução de André Maginot, eram consideradas fortes a ponto de tornar um suicídio qualquer assalto direto; e embora isto tornasse mais tentador um ataque de flanco através da Bélgica ou da Suíça, considerava-se que o alto comando francês estaria preparado para fazer frente a tal manobra. A contrabalançar tudo isto, entretanto, havia o fato de que se a Alemanha não podia invadir a França, esta enfrentava igual dificuldade para invadir a Alemanha. E no leste, onde a Rússia czarista tinha se lançado à invasão em 1914, havia agora a União Soviética no pleno vigor de recente amizade para com o Terceiro Reich.
Isto eliminou o perigo, considerado pelo Estado-Maior, de uma guerra em duas frentes. Não eliminara de todo a segunda frente. Mas pelo menos a Polônia parecia oferecer um problema menos formidável; e a Alemanha, com o lançar de todo o seu peso contra o inimigo mais fraco, poderia esperar eliminá-la do quadro antes que os antagonistas mais fortes pudessem trazer todo o seu poderio para o oeste.
fonte: http://www.2guerra.com.br
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