terça-feira, 28 de setembro de 2010

Evento no Rio resgata memória do pai dos cartunistas brasileiros, o italiano Angelo Agostini

Angelo Agostini
A Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ abriga, a partir do dia 1º de outubro, a IV Semana de Quadrinhos, realizada em parceria com a Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ e a unidade Madureira do SESC-Rio. A edição 2010 do evento homenageia o artista gráfico italiano Ângelo Agostini, no ano em que se completam 100 anos da morte de um dos percussores da charge e dos quadrinhos mundiais.

Além de stands de revistas em quadrinhos independentes e fanzines, estão programadas palestras com profissionais da área, oficinas ministradas por artistas renomados e mesas-redondas. O evento é uma oportunidade de interação entre o público e profissionais da área, além de uma chance para iniciantes divulgarem sua produção. A entrada é franca.

Mais informações podem ser obtidas no microblog da IV Semana de Quadrinhos ou na página virtual do evento.

O pai

Em 28 de janeiro de 1910, ou seja há quase um século, morria no Rio de Janeiro, o italiano Angelo Agostini, considerado o pai dos cartunistas do Brasil, o mais importante artista gráfico do Segundo Reinado.

Nascido em Vercelli, no Piemonte, em data não plenamente definida – 1842, 1983 e há também quem referencie 1833 -, a importância de Agostini não é colocada em dúvida há muito tempo, apesar de a vasta obra ser ainda pouco conhecida e inexplorada em pesquisas sistemáticas, bem como pouco difundida entre o grande público.. Monteiro Lobato, por exemplo, era taxativo: foi o italiano quem trouxe a arte da caricatura para o Brasil. No seu funeral, compareceram personalidades do peso de um Rui Barbosa e Rangel Pestana, por exemplo.

Visto retrospectivamente, seu trabalho apresenta-se como uma perspicaz leitura dos usos e costumes da terra, marcada pela tolerância social e racial e pela ironia diante dos poderosos.

Antonio Luiz Cagnin, doutor em teoria e semiologia das histórias em quadrinhos, ex-docente no departamento de Cinema da ECA/USP e especialista em caricaturas, estudou por 10 anos o trabalho do italiano. Um grupo da Unicamp, integrado por Luciana Barbeiro, Uliana Dias, Everaldo Luis Silva, Edgard Leuenroth e Maria Clementina Pereira Cunha também se debruçaram sobre a obra de Agostini.

Depois de passar parte da infância em Paris, chegou ao Brasil na década de 50 dos anos Oitocentos, com a mãe, a cantora lírica Raquel Agostini. Teria então 16 anos. Em 1864 deu início à carreira de cartunista, quando fundou o Diabo Coxo, o primeiro jornal ilustrado publicado em São Paulo, e que contava com textos do poeta abolicionista Luís Gama. Este periódico, apesar de ter obtido repercussão, teve duração efêmera, sendo fechado em 1865. O artista lançou, no ano seguinte (1866) o Cabrião, cuja sede chegou a ser depredada, devido aos constantes ataques de Agostino ao clero e às elites escravocratas paulistas. Este periódico veio a falir em 1867.

Ironizando a proibição anual do entrudo através de portarias e da presença ostensiva da polícia nas ruas, Agostini retrata a agressão direta aos agentes da Lei (inclusive o chefe de polícia representado no personagem central) com os principais artefatos dO artista mudou-se para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu desenvolvendo intensa atividade em favor da abolição da escravatura, pelo que realizava diversas representações satíricas de D. Pedro II. Aqui colaborou, tanto com desenhos quanto com textos, com as publicações O Mosquito e Vida Fluminense. Nesta última, publicou, a 30 de Janeiro de 1869, Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte, considerada a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo.

Fundou, em 1 de janeiro de 1876, a Revista Ilustrada, um marco editorial no país à época. Nela criou o personagem Zé Caipora (1883), que foi retomado em O Malho e, posteriormente, na Don Quixote. Este foi republicado, em fascículos, em 1886, o que, para alguns autores, foi a primeira revista de quadrinhos com um personagem fixo a ser lançada no Brasil.

Uma vida conturbada

No Rio de Janeiro o artista, já casado e com cidadania brasileira, se envolveu em novas complicações ao se tornar amante de sua aluna, Abigail de Andrade, natural de Vassouras, no Rio de Janeiro. Artista promissora, única mulher a receber uma medalha de ouro por trabalhos expostos no Salão Imperial de 1884, Abigail recebeu elogios por parte dos críticos da época.

O relacionamento amoroso, a gravidez e o nascimento em 1888 da filha Angelina causaram um grande escândalo na cidade e obrigaram o casal a partir para Paris em outubro daquele ano. Na França um novo drama envolveu Agostini: em abril de 1890 nasceu seu filho, Angelo, que morreu ainda bebê e, logo depois, a mãe. Angelo Agostini retornou então ao Rio de Janeiro com a filha, que mais tarde se tornaria pintora, vindo a falecer em 1973.

Angelo Agostini, uma perspicaz leitura dos usos e costumes da terra, marcada pela tolerância social e racial e pela ironia diante dos poderosos. Em sua volta ao Brasil, Agostini fundou a revista Don Quixote (1895-1906) e trabalhou na revista O Tico Tico, retomando o personagem Zé Caipora, que teria suas história publicadas até dezembro de 1906. Trabalhou ainda em O Malho e na Gazeta de Notícias, entre outros.

Seu nome serviu de inspiração ao Prêmio Angelo Agostini, concedido anualmente pela Associação de Quadrinistas e Caricaturistas de São Paulo aos melhores do ramo e para a criação do Dia do Quadrinho Nacional, comemorado em 30 de janeiro.

Redação revista eletrônica Oriundi
 
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