quarta-feira, 3 de março de 2010

Festa da uva





Enquanto bebo o alegre vinho, os meus desgostos adormecem. Para que penas e suspiros? Por que cuidados, que aborrecem? Hei de morrer, queira ou não queira”. (Anacreonte – poeta lírico grego do século VI a.C.)



No Brasil, a uva foi trazida por Martim Afonso de Souza, em 1532, na Capitania São Vicente, mas não vingou devido às desfavoráveis condições climáticas. Retornou mais tarde pelas mãos dos jesuítas e seu plantio foi novamente experimentado na região das Missões, no Rio Grande do Sul, mas também não deu certo.

A CAMINHADA DOS IMIGRANTES

Somente em 1872, com a chegada dos imigrantes italianos, na região da Serra Gaúcha, as uvas começaram a nascer. Imigrantes do Norte da Itália trouxeram na bagagem enxertos de videiras de excelente procedência, além de muita experiência na arte de cultivar a parreira e produzir excelente vinho.



Os colonos italianos receberam áreas de terras menores que os alemães (chegaram antes em 1830), 25 ha em média contra 77 ha no início do século,, situadas em terreno íngreme da Serra. Além disso, não receberam a ajuda financeira, de alimentos e equipamentos e de insumos agrícolas que lhes tinha sido prometida. Também não foi possível iniciar imediatamente o plantio, pois era preciso desmatar os lotes. Em conseqüência disso, a fome e as doenças grassaram entre os imigrantes que muitas vezes se alimentavam apenas de passarinhos e pinhões (fruto da Araucária, árvore símbolo da região). As dificuldades eram tantas que, em 1874, somente 74 pessoas viviam nos 19 lotes cultivados de Conde dÉu.

Embora a colonização italiana tenha efetivamente ocorrido a partir de 1872, a data oficial de seu início é 27 de outubro de 1875, ano em que a responsabilidade pela colonização passou da Província para o Governo Imperial. Reorganizada a colonização italiana, ela se desenvolveu no final do século XIX e até o inicio da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Entre 1875 e 1914, chegaram ao Rio Grande de 80 a 100 mil italianos.Depois da chegada dos imigrantes italianos, muitas cidades e 230 vilas foram criadas e muitas parreiras foram plantadas, modificando, definitivamente, as paisagens serranas e frias do Rio Grande do Sul. Destacam-se os municípios de Flores da Cunha, Bento Gonçalves, Garibaldi, Santana do Livramento e Caxias do Sul como grandes produtores de vinhos de qualidade.


Atualmente, além do Rio Grande do Sul, os Estados de Santa Catarina, do Paraná e de São Paulo (especialmente os municípios de São Miguel Arcanjo, Vinhedo e Porto Feliz) também produzem boas uvas.


No entanto,foi tão somente, a partir dos anos 70, que o Brasil viveu uma grande transformação em relação à produção de uvas, que se processou quando grandes grupos nacionais e internacionais, através de incentivos governamentais, passaram a investir no desenvolvimento e na instalação de modernos projetos de irrigação ao longo de todo o vale fértil, quente e seco do Rio São Francisco.


Inúmeras agroindústrias produtoras de sucos, de vinhos e de doces foram atraídas para a região do Vale, ampliando ainda mais a oferta de trabalho e alterando profundamente as condições sócio econômicas de toda uma população habituada, há séculos, às dificuldades da caatinga e da seca.
A HISTÓRIA DA UVA QUE SE FEZ CANÇÃO......


A videira é uma das plantas frutíferas mais conhecidas desde a Antiguidade, no entanto, a cultura da uva, que é permanente e de longa duração - alguns vinhedos chegam a durar até 150 anos de idade - só se tornou possível no seio das comunidades que abandonaram o nomadismo. Fixo à terra, pouco a pouco, de geração em geração, o homem foi aprimorando as técnicas de cultivo e de processamento da fruta. Pode-se, até mesmo, dizer que a história da uva resume parte da história do homem ocidental. Primitivamente, a cultura da uva teve apenas um caráter doméstico, desenvolvendo-se para o comércio e para a exportação apenas com o desenvolvimento da navegação no Mar Mediterrâneo.



Segundo conta Pio Corrêa, foi por volta do ano 600 antes de Cristo que o homem aprendeu a podar a videira para obter uma abundante e saborosa carga de frutos, um salto definitivo na melhoria das técnicas de produção da fruta. Acredita-se que as uvas originaram-se na Ásia, tendo sido introduzidas na Península Itálica e na Europa pelos povos gregos. Foram os romanos, por sua vez, que transformaram a viticultura em um comércio lucrativo, enchendo as paisagens mediterrâneas de videiras. As uvas de então, ainda por vários séculos depois disso, destinavam-se, basicamente, à produção de vinho.


Há cerca de 10 mil variedades diferentes de uvas, adaptadas a vários tipos de solo e de clima, o que possibilita o seu cultivo em quase todas as regiões do mundo. Sendo frutas bastante sensíveis às condições do solo e do clima em que se desenvolvem, as uvas variam muito de acordo com essas condições, apresentando características que as distinguem segundo o sabor, a acidez, a doçura, o formato, a coloração e a resistência da casca, o tamanho, a quantidade de sementes, a forma e o formato dos cachos.


Nos nossos dias, a maior parte da produção das videiras permanece destinada à industrialização do vinho: calcula-se que cerca de 80% do total produzido anualmente é transformado em vinhos ou em outros tipos de bebidas alcoólicas, tais como brandy, cognac, armagnac, jerez, etc.; cerca de 5% destina-se ao processamento de sucos; outros 5% viram uvas passas; e 10% é consumido in natura, como sobremesa. Hoje, a viticultura constitui-se em uma grande fonte de riquezas para o nosso País.

MITOLOGIA DO VINHO



O vinho é uma bebida que existe há mais de dez mil anos, segundo material arqueológico colhido na Ásia Menor, na região do Cáucaso e Irã. Alguns especialistas acreditam que as uvas já existiam há dois milhões de anos e sendo assim, o homem arcaico, teve acesso a elas, mesmo que não soubessem produzir o vinho.



Para a maioria dos historiadores, o vinho surgiu da mão dos camponeses que espremiam as uvas para lhe retirar o suco. De alguma forma, este suco fermentou, transformando-se em vinho.



De acordo com a mitologia grega, a origem do vinho é atribuída a Dionísio. Em seu livro Dionysos (1976, 154-55) Kerényi trabalhou sobre os relatos que contam a origem do vinho, dentro do mito de chegada de Dionisio:



"Icário ia concedendo o dom do vinho. Numa carreta de bois, com odres repletos de vinho, ia percorrendo as montanhosas regiões, então habitada por pastores rústicos.


Os pastores embriagaram-se e pensaram que haviam sido envenenados.. e assassinaram Ícário....Não é possível conceber que o deus do vinho, que chegava do estrangeiro, apresentou-se cindindo em duas pessoas, o deus e o herói, Dionísio e Icário".


Não podemos relegar esta história aos tempos clássicos, pois continua vigente no excesso de bebida que acontece hoje.
Este relato de Icário, tem o propósito de ser um alerta e uma iniciação ao mesmo tempo. Para muitos de nós é possível recordar esta tímida iniciação na adolescência, quando bebendo desmoderadamente, acabávamos com uma forte ressaca; também, quanto nos custou aprender a beber adequadamente, o que poderia ser chamado de hábito cultural e assim evitar o perigo de enlouquecer com a bebida.


Mas a lenda mais contada e conhecida é a do rei da Pérsia, chamado Jamshid, que colhia a mantinha suas uvas em enormes jarras para que fossem consumidas fora da estação. Acontece que, uma destas jarras acabou esquecida em algum canto qualquer e, depois de alguns dias, começou a espumar, ou seja, fermentar. Mas não foi colocada fora, pois poderia ser um veneno mortal para quem as consumisse.


Um certo dia, uma mulher do harém do rei, desgostosa com a vida, pretendia suicidar-se e bebeu do tal "veneno". Mas, para sua surpresa, não morreu e foi contagiada por uma grande alegria. A notícia espalhou-se e chegou até os ouvidos do rei, que resolveu também provar da misteriosa bebida. Gostou tanto, que ordenou imediatamente a sua fabricação em grande quantidade.
Do Mar do Mediterrâneo, espalhou-se por toda a Europa e depois ganhou o mundo.

PEQUENA ITÁLIA DENTRO DO BRASIL....

Todas as cidades da Serra Gaúcha, possuem um certo toque europeu, tanto na arquitetura, como na tradição, realçadas pelo seu charme e clima. A história destes lugares, fundem-se com a expulsão dos índios caingangs, os antigos donos e moradores da Serra Geral.Com a colonização italiana e alemão, aliada à muito trabalho e persistência, foi que o desenvolvimento desabrochou nesta região. São diversos os dialetos italianos e alemães que predominam na serra, sendo que a uva e seu inebriante vinho se fez tradição.


Neste cantinho europeu, uma pequena Itália dentro do nosso Brasil, é que encontramos um povo festeiro, alegre e hospitaleiro, que sabe viver e aproveitar a vida.... Em termos de turismo, a Serra Gaúcha, esmero da natureza, é um dos roteiros mais conhecidos do Brasil, sobretudo no inverno, quando milhares de turistas visitam a região em busca de frio e, com sorte, neve.


UMA FESTA COM O DOCE SABOR DA UVA



No ano de 1920, eram cultivados na Região dos Vinhedos mais de 11 mil hectares de videiras, área que passou para 25 mil hectares em 1950 e chegou a quase 50 mil hectares na década de 70.



Com o grande desenvolvimento do setor vinícola, surgiu a idéia de se realizar em Caxias do Sul uma exposição de uvas, de caráter festivo. E no dia 7 de março de 1931 se realizava a primeira Festa da Uva, na sede do Recreio Cruzeiro (esquina Visconde de Pelotas com a Sinimbu), com duração de apenas um dia, no centro da cidade. No ano seguinte, no dia 05 de março de 1932, a festa foi ampliada, com a montagem de pavilhões de exposições na praça Dante Alighieri (centro da cidade).


Também em 1932, foi organizado o primeiro desfile de carros alegóricos da Festa da Uva. As alegorias desfilavam pelas ruas centrais da cidade, puxadas por carros de bois. Na terceira edição, em 1933, foi instituído o concurso da escolha da rainha da Festa da Uva e foi coroada Adélia Eberle.


Durante a Segunda Guerra Mundial, ela deixou de ser realizada, sendo retomada em 1950 para marcar os 75 anos da imigração italiana para a Brasil. Em 1954, o então presidente da República, Getúlio Vargas, curvava-se diante da frase" A Nação brasileira ao imigrante", ao inaugurar o grandiosa escultura do Monumento Nacional ao Imigrante, erguida durante as festividades da cidade gaúcha. Em 1972, o desfile de abertura da Festa da Uva era o motivo da primeira transmissão ao vivo da TV em cores brasileira, chamando atenção de todo o país de milhares de turistas. O evento tornou-se ainda veículo de divulgação do primeiro produto do progresso da região e, mais que isso, foi o meio usado por líderes da época para promover maior socialização com os imigrantes italianos, cujas raízes, ainda plantadas no continente europeu, marcavam forte influência nos costumes e no comportamento social e religioso da população local.


A história que é contada aos visitantes da Festa da Uva é inspirada na saga dos imigrantes que chegaram em 1875, oriundos das regiões italianas de Lombardia, Vêneto e Tirol. Esta festividade acontece em Caxias do Sul em fevereiro ou março, sempre nos anos pares.


"A decisão de instituir uma empresa para gerenciar a organização da festa associava um projeto destinado a fazer da Festa da Uva um empreendimento auto-sustentável ao mesmo tempo em que se fazia caudatária da ideologia do estado-empresa, vigente na década de 70 e postulado, dentre outros, pelo próprio governo do Estado do Rio Grande do Sul." (Pioneiro, Caxias do Sul, jan. 1975) Passava-se deste modo, da festa comunitária para a uma atividade empresarial. O ciclo romântico transforma-se em ciclo real. A Festa da Uva muda de regime jurídico e passa a ser uma Empresa Festa da Uva Turismo e Empreendimento S A da afirmação da identidade para a atração turística, da celebração para o negócio.



A Festa da Uva mostra também o desenvolvimento da cidade, que hoje se orgulha de produzir desde um simples parafuso até um caminhão fora-de-estrada. As marcas da imigração, porém, não se restringem à economia. A herança dos italianos está nos monumentos, no dialeto vêneto, nos restaurantes, nas magníficas obras do pintor Aldo Locatelli. E, por que não, também no cenário, moldado por parreirais, capelas e cascatas que serviriam de ambiente para o filme O Quatrilho, recentemente indicado para o Oscar de melhor produção estrangeira.



A TERRA DA FESTA DA UVA
Caxias do Sul era percorrida inicialmente por tropeiros e foi ocupada por índios em um lugar conhecido por Campo dos Bugres. A ocupação por italianos, vindos de além-mar, deu-se à partir de 1875. Quando foi elevada a categoria de cidade, chegava o primeiro trem, ligando a região à capital do estado. Considerada a maior cidade de imigrantes italianos do estado, também é conhecida pela tradicional Festa da Uva, realizada a cada dois anos nos pavilhões do parque Cinqüentenário. Outras opções são o Museu da Casa de Pedra, Igreja de São Pelegrino, e o Monumento Nacional ao Imigrante, localizado na entrada da cidade. Suas belezas naturais podem ser vistas no Parque Cinqüentenário e no Parque Getúlio Vargas, cercadas de árvores nativas de diversos tipos, inclusive de araucárias.


"Com uma história e uma cultura feitas por imigrantes e por seus descendentes, sofrendo, por vezes, como durante a Segunda Guerra, o estigma de suas origens e do seu modo de ser e de viver, Caxias do Sul usou a Festa da Uva para, reiteradamente, reafirmar, para si e para os demais, a sua inserção na nacionalidade brasileira, não por suas origens, mas pelo mérito de suas realizações, consideradas dignas de destaque no contexto do País."


Assim, a trajetória da Festa da Uva reflete uma trajetória de auto-conhecimento e de busca de reconhecimento vivido pela região de imigração italiana.


ÍCONE ITALIANO EM QUADRINHOS...



"Ele não fala português, tampouco italiano ou dialeto vêneto. Seu idioma é mesmo o "sotacón". Consome vinho sem parar, vive encrencado com a mulher, Genoveva, é torcedor fanático do Caxias e está sempre pronto para uma boa conversa ou uma mesa farta.



Trata-se de um legítimo colono italiano e atende pelo nome de Radicci. Ícone da cultura italiana, o personagem ganhou as páginas de jornais e desfilou em três livros e em uma revista própria pelo traço firme e bem-humorado do cartunista Carlos Henrique Iotti, 35 anos. Radicci, nascido há 16 anos, "é uma síntese do gringão do Sul", afirma Iotti."


Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto


O município de Caxias do Sul, está localizado na extremidade leste da encosta superior do nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. A latitude sul é de 29º10´25" e a longitude oeste é de 51º12´21". Ocupa uma área territorial de 1.648.60 quilômetros quadrados, que corresponde a 0,55% da área total do estado. Sua altitude é de 760 metros acima do nível do mar.


http://www.rosanevolpatto.trd.br/festauva.htm

blogdoaleitalia

Seja o primeiro a comentar!

Postar um comentário

Não serão aceitos comentários Anônimos (as)
Comentar somente sobre o assunto
Não faça publicidade (Spam)
Respeitar as opiniões
Palavras de baixo calão nem pense
Comentários sem Perfil não será publicado
Quer Parceria não será por aqui.(Contato no Blog)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Software do Dia: Completo e Grátis

Giveaway of the Day
PageRank

  ©LAMBARITÁLIA - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo