terça-feira, 2 de março de 2010

Um dia sem o trabalho dos imigrantes


Milão, Ansa - Manifestações em Milão, Nápoles e em várias cidades italianas pelo primeiro dia de greve dos trabalhadores imigrantes ontem . A iniciativa, cujo objetivo é dar "visibilidade" aos imigrantes e lutar contra o racismo, partiu da França. Sua cor símbolo: o amarelo. Em Nápoles, mais de 20 mil trabalhadores foram às ruas. Iniciativas de solidariedade ocorreram em 60 praças públicas de toda a Itália.



"Chega de racismo, somos os novos cidadãos, nós pagamos as pensões dos italianos", foram algumas das palavras de ordem dos trabalhadores imigrantes durante as passeatas deste 1º de março em Milão.
Emanuel, 34 anos, da República dos Camarões, trabalha na recepção de um grande hotel. "Estou em Milão há seis anos e no metrô ainda sou olhado com desprezo", relata. Hoje (1º) ele decidiu faltar ao trabalho: "São muitos os motivos desta escolha. O principal deles é que não somos considerados como cidadãos", explicou.

Eder Herrera tem 22 anos e é um estudante peruano da Universidade Estatal. "Me juntei aos meus pais, que trabalham aqui. Nunca vou esquecer o dia em que fui parado pelos controladores da ATM (empresa de transporte de Milão). Tinha esquecido minha carteira com o tíquete e fui tratado como um criminoso".
"Eu tinha que renovar o visto de residência, mas me senti jogado no limbo", explicou Roberto, equatoriano, que trabalha como motorista. Casei-me aqui, trabalho aqui, tenho um filho que nasceu aqui. Precisei de tratamento médico, mas com o visto vencido no máximo você tem acesso a um pronto socorro.É por isso que hoje aderi à greve".
Do protesto também participaram representantes sindicais da empresa Maflo e uma delegação das RSU (União das Representações Sindicais) do hospital milanês de San Raffaele.
Os organizadores estimaram em cerca de 20 mil manifestantes no protesto anti-racista em Nápoles, como parte dos eventos do Dia de Ação "24 horas sem a nossa presença" (Ventiquattro ore senza di noi), promovido para defender os direitos dos não-europeus.


A manifestação foi pacífica e não houve incidentes.
O cortejo saiu da Praça Garibaldi e seguiu para a Praça do Povo, onde ao longo da tarde se apresentaram músicos e atores. Todas as comunidades estrangeiras presentes no território da Campania estiveram lá: de Burkina Faso a Gana, da Nigéria ao Marrocos, de Bangladesh ao Senegal.
"Os trabalhadores extra-comunitários - destaca o responsável pelos imigrantes da CGIL Campania, Jamal Qaddorah - responderam massivamente ao apelo das associações e do sindicato. Chegaram em Nápoles provenientes das cidades da província, de Castelvolturno e de San Nicola Varco. É um grande e lindo dia de mobilização, com a presença de muitos italianos".
Em Roma, estrangeiros deram "aulas de clandestinidade" na Praça Montecitorio, diante do Parlamento, onde alunos universitários se sentaram no chão e em silêncio ouviram "os professores" dos imigrantes, que intervieram para falar de sua condição na Itália e descrever suas experiências, protestando contra "o racismo institucional".


A iniciativa se realizou por ocasião da greve nacional dos estrangeiros que vivem na Itália, para destacar a importância do papel dos imigrantes no mundo do trabalho e contra o racismo.
Em um pequeno quadro-negro expuseram por escrito críticas ao pacote de segurança do governo que "os criminaliza" e ao teto de 30% para a inscrição de alunos estrangeiros nas escolas, considerado "discriminatório".


Entre os cerca de 150 manifestantes, predominou o amarelo, a cor de referência do dia de mobilizações.
"Não somos criminosos, na Itália estudamos e trabalhamos", disseram os estrangeiros aos microfones, que se alternaram aos discursos dos italianos e em outros idiomas.
Os oradores foram alguns migrantes de segunda geração, trabalhadores, estudantes estrangeiros, africanos de Rosarno e solicitantes afegãos de asilo.
Entre os presentes também alguns professores e a diretora da escola primária Iqbal Masih, Simonetta Salacone.
Estiveram expostos por todos os cantos cartazes, faixas e as imagens de San Papier, a padroeiro dos imigrantes.
"Não acreditamos que baste um pedaço de papel para ser cidadãos e para reivindicar direitos. O caminho a percorrer é outro e o 1º de março é só uma etapa", disseram os manifestantes.
"Nós compartilhamos a cultura para mudar as leis sobre a cidadania", disse em seu discurso a escritora ítalo-somali Igiaba Sciego.

blogdoaleitalia

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