Palio di Siena
Siena, catedral de noite
Quem, viajando pela Toscana, chega de noite a Siena, e após atravessar suas majestosas muralhas percorre suas ruas antigas e tortuosas, cheias de mistérios e de encanto, até a Piazza del Campo, centro da história da cidade através dos séculos, e subindo pela Via di Cittá encontra a catedral, a mais linda jóia da arte medieval italiana, na riqueza de seus mármores e mosaicos, sente a impressão de ter penetrado num mundo de sonhos.
No silêncio e solidão da noite, a cidade como que esconde o que tem de atual, de moderno. Paira no ambiente apenas o perfume da civilização medieval, da qual ela foi um glorioso expoente e é hoje fiel testemunho.
Siena foi na Idade Média um dos centros mais florescentes da Itália, pelo valor militar e pelo gênio artístico de seus filhos.
Mas foi grande sobretudo pelo espírito católico que os vivificava, e que deu à Igreja Santa Catarina e São Bernardino, aos quais seu nome está imortalmente ligado.
Expoente outrora da civilização cristã, hoje a cidade não é senão um retrato do que foi.
Duas vezes por ano, contudo, ela revive, os habitantes retomam os trajes antigos, as corporações de artesãos ressurgem.
Bandeiras medievais são hasteadas, ouvem-se trombetas e tambores de guerra, e, como que saído por encanto de alguma iluminura, um esplêndido cortejo entra na Piazza del Campo ante os olhos maravilhados dos espectadores.
E a festa do Pálio, realizada tradicionalmente desde o século XIV, na qual Siena parece voltar ao passado, oferecendo uma visão encantadora da alma guerreira, artística e religiosa da Idade Média.
Séculos de glória militar
Siena é uma das cidades mais velhas do mundo. Foi na Antiguidade um centro etrusco, depois gaulês, e por fim romano. Nos primórdios da Idade Média era constituída por três povoações em redor de outros tantos castelos: Castel Vecchio, Castel di Val di Montone, agora convento dos Servos de Maria, e Castellare de Camollia, hoje desaparecido. Depois esses pequenos burgos cresceram até se encontrarem em torno da Piazza del Campo, que se tornou o centro de Siena. Ali se edificou, em 1297, o Palácio Público, com a torre Mangia, de 102 metros de altura. Seu sino marcava a vida da cidade, soando alegre nas festas, fúnebre nas calamidades e vibrante ao chamar para a guerra. Sucederam-se séculos de glória militar e de florescimento artístico.
Foi construída a catedral, toda de mármore, listrada de preto e branco, a obra-prima do estilo gótico italiano.
Duccio de Buoninsegna criou a famosa escola sienense de pintura, que no século XIV alcançou seu apogeu. Em 1555, porém, após uma resistência heróica, a cidade foi dominada pelas forças de Carlos V e anexada ao ducado da Toscana, perdendo para sempre sua independência.
A Piazza del Campo, coração da cidade, é semi-circular e apresenta uma ligeira depressão em frente ao Palácio Público. É rodeada de mais dois palácios e de velhas mansões.
Por ocasião da corrida, demarca-se uma larga pista entre os edifícios e o centro da praça — pista muito perigosa, devido a dois ângulos retos e à depressão a que nos referimos, exigindo grande perícia dos jóqueis, que montam sem arreio.
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