sábado, 11 de dezembro de 2010

Segunda Guerra Mundial - Setembro a Dezembro de 1939 - A campanha da Polônia

A campanha da Polônia 
 
imagem ilustrativa
A Polônia, como nação, havia muito se acostumara a viver perigosamente. Sua situação no Báltico tornou-lhe o território uma estrada natural de exércitos em marcha para leste ou oeste; sua carência em defesas naturais fê-la presa de vizinhos poderosos e vorazes. Entre 1772 e 1796, a Áustria, a Rússia e a Prússia tinham decidido extinguir o Estado polonês. Sua opressão continuou no decorrer de todo o século dezenove. Mas, embora os poloneses tenham sido vencidos e divididos, jamais foram subjugados. O espírito do nacionalismo polonês sobreviveu a todos os esforços de dominação, e o sonho do Estado polonês revivido permaneceu sendo a finalidade de todos os patriotas poloneses. Com o irromper da guerra de 1914, sua oportunidade chegou. Um chefe militar emergiu na pessoa de Pilsudski; um Comitê Nacional Polonês foi formado na França e obteve o apoio dos aliados para a independência polonesa; e em 1919 um Estado livre polonês mais uma vez foi tornado existente.

Desde então, até a sua morte, em 1935, Pilsudski foi a figura dominante na Polônia. Depois que morreu, az tarefa da chefia ficou a cargo de dois homens - o coronel Beck, ministro dos negócios exteriores, e o marechal Smigly-Rydz, comandante-chefe do exército. Sua tarefa era manter a independência da nação num momento em que ela se tornava gradualmente mais ameaçada. Um ataque pela Alemanha ou pela Rússia; uma guerra entre a Alemanha e a Rússia; um acordo entre a Alemanha e a Rússia, a expensas da Polônia - tudo isto era possível, e tudo isto ameaçava a existência da Polônia. Os líderes poloneses procuraram preparar-se para tais eventualidades com a organização de um exército eficiente, a manutenção de uma atitude correta, e onde possível amigável, em relação tanto à Rússia como à Alemanha e a procura de apoio alemão e francês. Embora desejassem a paz, não pretendiam comprá-la à custa de sacrifícios que pudessem ameaçar a independência polonesa. Quando Hitler apresentou exigências que envolviam tal ameaça, os poloneses estavam plenamente resolvidos a lutar antes que render-se.

A Polônia sobre a qual se despencou a avalancha alemã era um país de trinta e cinco milhões de habitantes, dois terços dos quais viviam da agricultura. Era tudo, menos um país opulento. O padrão de vida do campônio polonês era bem mais baixo que o do alemão. Era um país de poucos recursos industriais, e com pouco capital disponível para financiar o desenvolvimento da indústria. A aquisição da Alta Silésia significou-lhe a posse de uma área industrial com importantes depósitos carboníferos. Havia alguns depósitos de óleo ao sul, nas proximidades dos Cárpatos. Todos os esforços foram feitos pelo governo para a organização de uma indústria pesada na região sul-central, uma indústria cuja natureza e localização eram influenciadas por considerações de ordem militar. Mas, embora esses esforços tivessem determinado certos progressos, a organização econômica da Polônia era ainda tudo menos adequada a propósitos bélicos.

Sob o ponto de vista da defesa, a geografia era de pouca vantagem para os poloneses. Os Cárpatos formavam-lhe uma fronteira natural ao sul; mas a absorção pela Alemanha da Boêmia e Morávia e a ocupação da Eslováquia, que ocorreu a 18 de agosto, fez desses limites naturais um prolongamento de flanco de uma fronteira já por si muito longa para ser eficientemente defendida. No oeste, havia algumas fortificações a cobrir a Silésia, e certo número de importantes cidades tinham sido também fortificadas. Mas nada havia que lembrasse a linha Maginot para deter o invasor. O choque principal tinha de ser aparado diretamente pelo exército polonês.

O exército polonês era bem treinado e bom em qualidade. Com trinta e duas divisões de primeira linha e trinta divisões de reserva, ele somava perto de um milhão de homens; e mobilizações subseqüentes aumentaram esse total para milhão e meio. Mas ele era ainda inferior às forças alemães, não somente em número, como em equipamento. Havia deficiência de artilharia pesada, canhões anti-tanques e canhões anti-aéreos. Embora teoricamente possuísse uma divisão blindada, esta tinha sido relegada, ou obrigada a ser relegada, em favor de uma força móvel de cavalaria. E, sobretudo, a sua força aérea, embora composta de 1.200 aviões, iria mostrar-se de uma fatal fraqueza no conjunto da organização defensiva da Polônia.

De acordo com a estratégia alemã, deveria ser desfechado um golpe esmagador que obtivesse a rápida e completa eliminação da Polônia como beligerante. Contava ela obter isto durante o período que a França e a Inglaterra necessitariam fazer com que suas forças tomassem posição, e antes que uma ofensiva maior pudesse ser desfechada por essas potências no ocidente. Para tal propósito, das 90 divisões de infantaria mais 8 divisões blindadas, três quartas partes, isto é, mais de um milhão de homens, eram concentradas contra a Polônia, ficando a cargo da defesa no ocidente 20 divisões de reserva de tropas veteranas.

Os planos alemães foram baseados num ataque envolvente por dois exércitos principais em direção a Varsóvia. Cada uma dessas forças principais ia, por sua vez, realizar uma série de ataques que resultariam no amplo movimento final. Ao norte, o Corredor deveria ser cortado por ataques procedentes da Pomerânia e da Prússia Oriental, enquanto uma segunda força na Prússia Oriental devia provocar uma diversão avançando diretamente rumo a Varsóvia. Ao sul, duas forças deviam envolver a Silésia e depois dirigir-se para nordeste a fim de fazer junção com uma terceira força atacando na direção de Lodz. Exércitos do norte e sul iriam então convergir num movimento final para esfacelar o que restasse da defesa polonesa.

Para fazer frente a esse ataque, os poloneses planejaram uma resistência retardadora em certo número de pontos próximos à fronteira. Atrás dessas forças avançadas, três grupamentos principais tomariam posição para proteger Varsóvia e o triângulo industrial mais ao sul. Numa série de ações retardadoras, essas forças recuariam afinal até a linha fluvial interior do Narew-Bug-Vístula-San, onde seria travada a batalha decisiva.

Três fatores foram primariamente responsáveis pela desorganização desse plano defensivo. Primeiro, a mobilização polonesa ainda estava incompleta quando o golpe foi desfechado. A mobilização alemã já começara a 9 de agosto, e estava bem encaminhada pelo dia 20 do mesmo mês. Mas, desejosos de evitar provocação - desejo encorajado pela Grã-Bretanha e França - os poloneses retardaram a mobilização geral até 31 de agosto, o dia em que precedeu o ataque germânico. Embora a semana precedente tivessem tomado as medidas preliminares, isto significava que os poloneses careciam de tempo para desenvolver por completo os seus planos. Segundo, a eficácia do ataque aéreo alemão foi devastadora e total. O bombardeio das estradas de ferro da Polônia desorganizou completamente os transportes e comunicações e tornou difícil a coordenação. Os ataques às bases aéreas polonesas, auxiliados por um serviço de espionagem de grande eficiência, destruíram a quase totalidade da força aérea polonesa mesmo antes dela deixar o solo. Dentro de dois dias, os alemães tinham o domínio completo do ar, e o exército polonês foi deixado às cegas. Terceiro, a velocidade e a audácia do avanço mecanizado alemão ultrapassaram todas as previsões. Os poloneses contavam com más estradas e com a lama polonesa para neutralizarem os tanques e transportes. Mas, os rios estavam pouco profundos e as chuvas tinham cessado, e assim esses obstáculos naturais deixaram de desempenhar todo o papel que lhes fôra atribuído. O avanço arrojado das colunas mecanizadas alemães levava-as, de quando em quando, a perder por completo o contacto com o grosso da tropa, e em muitos lugares mostrou-se extremamente dispendioso, mas a sua contribuição para a desorganização das forças polonesas valeu plenamente esse preço.

Os dois primeiros dias da campanha demonstraram a natureza arrasadora do ataque alemão. Lançando-se sobre as forças polonesas ainda não preparadas e antes que elas se pudessem estabelecer em posições defensivas adequadas, os alemães levaram por diante a primeira linha dos defensores em direção à Varsóvia e à linha do Vístula. Ao norte, os movimentos combinados partidos de Posen e da Prússia Oriental ameaçavam flanquear as forças polonesas e obrigaram-nas a retirar para o sul. Isto permitiu que as forças alemães fizessem junção a 5 de setembro e cortassem o Corredor, embora a resistência ainda continuasse em torno de Gdynia e da península de Hela. Ao sul, os alemães avançaram rapidamente sobre o distrito industrial da Silésia, e com a captura de Cracóvia a 6 de setembro a região inteira estava em suas mãos. Em ambas as frentes, forças alemães mecanizadas progrediram com o fim de romper as comunicações e cortar a retirada polonesa. Esses dois movimentos de pinça, ao norte e ao sul, abriram o caminho ao avanço principal pelo centro, o qual a 7 de setembro chegou até a importante cidade de Lodz.

A primeira fase da campanha foi assim completada em uma semana. A resistência inicial dos poloneses tinha sido esmagada e áreas contendo recursos importantes transpostas pelos invasores. Os alemães não tinham sido bem sucedidos entretanto no plano de destruir ou mesmo separar os principais exércitos poloneses. A sua resistência estava mostrando sinais de revigoramento, e os poloneses recuaram para linhas defensivas mais curtas a fim de fazer frente ao ataque alemão concentrado, que agora convergia sobre eles. A segunda fase mostrou o aumento dos ataques de flanco, os quais fizeram com que os poloneses recuassem incessantemente, precipitando a convergência das unidades alemães sobre a região de Varsóvia. Uma penetração de elementos mecanizados alcançou os subúrbios da capital a 8 de setembro, embora não tenha sido senão no dia 15 que o exército alemão chegou diante da cidade. Entrementes, incursões partidas do norte desenvolveram-se para leste até Brest Litovsk, e, ao sul um forte destacamento mecanizado foi lançado em direção a Lemberg com o objetivo de cortar a linha de comunicação com a Romênia. No dia 16, a região de Varsóvia fôra praticamente cercada e o avanço meridional chegara bastante além do Vístula. Mas, conquanto as comunicações polonesas tenham sido rompidas e o comando militar estivesse mostrando sinais de desorganização, a crescente severidade da resistência deu esperança de que uma defesa eficaz ainda pudesse ser organizada na Polônia oriental.

Esta era a situação quando, a 17 de setembro, a União Soviética efetuou uma invasão do leste. O governo russo anunciou que, segundo o seu ponto de vista, o Estado Polonês tinha cessado de existir, e que os tratados com ele concluídos, tais como o pacto de não-agressão de 1932, tinham perdido o valor. Em conseqüência, a União Soviética achou necessário, intervir para proteger seus irmãos de sangue na Polônia. Ao mesmo tempo, Berlim declarou que a intervenção havia tido lugar com o pleno conhecimento e aprovação do governo alemão.

Para o destino da Polônia, este foi o golpe decisivo. Embora os russos tenham encontrado pequena resistência, essa nova invasão completou a desorganização das defesas polonesas e impediu a possibilidade de criar uma verdadeira frente a leste. É verdade que na área de Varsóvia continuaram a ser travados duros combates por cerca de três semanas. Conquanto os alemães tenham exigido a sua rendição no dia 17, a própria Varsóvia manteve heróica resistência sob constante bombardeio e privações crescentes até o dia 27. A fortaleza de Modlin resistiu até o dia 29; na península de Hela a resistência continuou até o dia 2 de outubro; e uma força de 16.000 poloneses ao norte de Lublin manteve a luta até o dia 5 de outubro. Estas porém não passaram de lutas isoladas, e os esforços da Polônia como Estado ruíram com a invasão russa.

Mesmo antes de terminada a luta, os despojos tinham sido repartidos pelos conquistadores. Após uma temporária "divisão militar" que trouxe a Rússia até o Vístula, o acordo de 29 de setembro fixou uma fronteira mais para o leste e seguindo linhas gerais etnográficas. Assim, a Rússia se contentou com menos de metade da Polônia, deixando para a Alemanha a porção mais rica, mas adquirindo uma população de cerca de 12 milhões, racial e economicamente aparentados aos camponeses russos. Da parte restante a Alemanha anexou as seções ocidentais ao Reich e criou ao centro uma província teoricamente autônoma de 112.000 km² e de uma população acima de 13.000.000, como uma espécie de território em que poloneses e judeus ficassem segregados dos outros habitantes do Reich.

Esperava-se que quando Hitler acabasse com a Polônia faria um apelo de paz aos aliados, sob o fundamento de que o objetivo original da guerra estaria desaparecido. Tal apelo foi sugerido no discurso de Hitler em Dantzig: a 19 de setembro; e a 6 de outubro, dirigindo-se ao Reichstag, ele sugeriu um ajuste fundado nas conquistas alemães já existentes e das necessidades ainda insatisfeitas. Tão pouco contribuiu esta iniciativa para uma base aceitável que a Itália, dois dias antes, virtualmente refutou qualquer intenção de se associar a um esforço alemão de paz. "As propostas contidas no discurso do chanceler alemão" - disse Mr. Chamberlain a 12 de outubro - "são vagas e incertas e não contêm sugestão alguma para reparar os erros cometidos em relação à Tchecoslováquia e à Polônia... Seria ainda necessário perguntar-se por que meios práticos o governo alemão pretende convencer o mundo de que a agressão cessará e os tratados serão cumpridos." Sob tais condições, a paz estava ainda longe de ser alcançada; e com o fim da campanha polonesa, os esforços militares seriam concentrados na frente ocidental.
 
 

fonte: http://www.2guerra.com.br

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