A história (secreta) do rock em quadrinhos - Red Rocket 7
Diversas teorias da conspiração têm ligado grandes eventos da história humana a intervenções alienígenas: por motivos diversos, seres espaciais teriam auxiliado nosso desenvolvimento tecnológico desde o início dos tempos, confundidos por vezes com deuses e criaturas místicas. Mike Allred resolveu ir além do trivial conspiratório com a seguinte proposta: e se o nosso bom e velho rock and roll também tivesse um dedo (ou alguns acordes) do espaço sideral?
O resultado é Red Rocket 7, graphic novel publicada em 1997 (e re-editada dez anos depois, em português, pela Devir Editora), uma espécie híbrida entre épico sci-fi e declaração de amor pela história do rock. Allred, além de escritor e desenhista, é membro do conjunto The Gear e desfila seu conhecimento sobre instrumentos, gravações, lugares e personagens míticos do mundo musical pelas mais de duzentas páginas da edição.
O personagem principal da trama é um fugitivo espacial cujas características remetem a Ziggy Stardust, Superman e Forrest Gump: em companhia de um robô guarda-costas, literalmente colide com nosso humilde planeta azul, ferindo-se gravemente no processo. Para garantir a sobrevivência do alienígena, o robô apela para o ctrl c + ctrl v e cria seis clones a parir do DNA original de Red com a mesma aparência física - cabelos avermelhados, números tatuados na testa, porém com talentos diferentes: um possuía capacidades matemáticas acima da média, outro força e destreza consideráveis, e o sortudo número Sete ganhou o dom da expressão artística e musical.
E assim, mesmo sem conseguir voar ou dobrar barras de aço, Sete conseguiu mudar nosso planeta ao conviver com aqueles que futuramente definiriam o rock and roll: ensinou passos de dança para Elvis Presley, pegou carona com Little Richard, ajudou os Beatles e os Stones desde as primeiras turnês até a consagração, e obviamente deu alguns conselhos a um David Bowie em início de carreira, inspirando uma mudança de guarda-roupa e hinos como "Life on Mars?" e "Space Oddity". Artistas mais recentes, como o conjunto The Dandy Warhols, também cruzam o caminho do alien rockstar.
Em meio a riffs de guitarra e viagens lisérgicas, Red e seus clones têm que lidar com a perseguição de seus algozes de um planeta inimigo, o assédio de fãs, mortes e o drama de serem “estranhos em uma terra estranha”, já que não possuem nem mesmo uma figura paterna (o Red Rocket original exilou-se em uma dimensão desconhecida).
Contar mais detalhes estragaria a leitura, mas basta dizer que Allred - famoso no mercado de quadrinhos pelo surreal Madman - costurou com maestria a história e bastidores de um estilo musical apaixonante, mostrando suas capacidades como narrador e artista. Seus painéis e figuras dinâmicas possuem referências retrô e pop art, com cenários variados, indo dos confins do espaço a bucólicas lojas de instrumentos musicais em cidadezinhas dos EUA. Em poucas páginas, temos foguetes, lasers, amplificadores e cavernas subterrâneas, da década de 50 aos dias atuais.
Mais do que uma colagem entre diferentes gêneros (quadrinhos e música) ou uma simples homenagem ao rock, Red Rocket 7 aborda conceitos filosóficos como morte e ressurreição através das crenças do personagem e de seu planeta de origem. Em meio a situações bizarras, examina nossa própria condição humana repleta de contradições e preconceitos, mas que também produz artistas e meios de expressão que podem nos levar a um novo patamar evolutivo. Arte que sai das amarras do entretenimento e cutuca nossos cérebros: essa parece ser a proposta de Mike Allred, que ainda expandiu posteriormente o conceito da graphic novel para um filme, Astroesque, e também para as músicas dos The Gear.
Fonte: http://obviousmag.org/
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