Lambari MG - Antônio de Araújo Dantas. Sua origem e sua família. A fazenda da Agua Virtuosa.

Antonio de Araújo Dantas, o proprietário da Fazenda de "Trás da Serra", posteriormente Fazenda da Água Virtuosa, em cujas terras alguns caçadores, seus amigos, descobriram a água mineral, é apresentado por alguns historiadores e em alguns jornais e monografias como sendo um negro mina e escravo de rico fazendeiro. É assim que aparece na lenda em que um fazendeiro de Passos, de nome Antônio Alves Trancoso, acompanhado de sua filha Cecília, gravemente enfêrma, e de seu noivo Tancredo acorrera a Campanha em busca de tratamento para a filha, sabendo, então, por intermédio de um negro mina de nome Antônio de Araújo Dantas, que os males da môça somente poderiam desaparecer se a mesma fizesse uso da água escondida no seio da mata, apenas devassada pela sua curiosidade.

Esta engenhosa estória está hoje expurgada da história de Lambari, isto porque na época da descoberta da água, não existia ainda a povoação de Passos e também porque, consoante Monsenhor José do Patrocínio Lefort, de 1750 a 1820 não se tem conhecimento da existência da família Trancoso nas paragens sul mineiras.

Antonio de Araújo Dantas, autêntico caboclo de Campanha, foi possuidor de apreciável gleba de terra e a sua fazenda - a fazenda de "trás da serra", primeiro, e posteriormente fazenda da Agua Virtuosa se espalhava em extensa área onde se desenvolve hoje quase toda zona urbana de Lambari. Filho de Francisco de Araújo Dantas e de Catherina Pedrosa, foi batizado em 21 de fevereiro de 1741, na Matriz de Campanha, e com 73 anos faleceu, vitimado por apoplexia, em 25 de agôsto de 1812, sendo sepultado dentro da mesma Matriz, onde, possivelmente, até agora se encontram seus ossos. Casado com Ana Maria de Almeida, dêsse casamento nasceram 11 filhos que figuram como herdeiros da Fazenda da "Agua Virtuosa", cuja partilha e divisão se efetuaram em 11 de junho de 1836, na residência do Reverendíssimo Vigário José de Souza Lima. Para tanto, neste dia, João Luís de Araújo Ribeiro e Francisco Gonçalves Siqueira, anteriormente momeados para sem malicia, dólo ou calunia" procederem à partilha e divisão, compareceram à casa do Reverendissimo Vigário e declararam que depois de haverem corrido e examinado a fazenda, avaliavam por "cálculos de alqueires achando em suas consciências que entre terras boas e más" tudo era calculado em quatro contos, quinhentos e oitenta e seis mil reis (quatro cruzeiros novos e cinqüenta e nove centavos) cabendo metade à viúva e a outra metade aos onze filhos do casal, ou seja, dois contos e duzentos e noventa e três mil réis para cada parte (duzentos e oito mil e quatrocentos e quatro réis para cada filho).
Lavrado o têrmo de divisão e partilha pelo tabelião de Vila de Campanha da Princesa - Ignacio Lopes da Silva Araujo - que veio especialmente à paragem da Água Virtuosa para êsse fim, a fazenda, já tôda retalhada, foi adquirida pelas seguintes pessoas:Manoel Francisco Ribeiro, João Francisco Ribeiro, Leonardo Alves de Mello, Felisberto Alves de Mello, Manoel Francisco Xavier e Bento dos Santos. A Câmara Municipal de Vila de Campanha recebeu, também, uma (área no valor de duzentos e oito mil, quatrocentos e quatro réis, aumentando, assim, a área do patrimônio.No têrmo lavrado, eis o que consta sôbre a área do terreno entregue à Câmara da Vila de Campanha, em 11 de junho de 1836:

"Derão em pagamento á Camara as terras que principião no Corrego da Agua Virtuosa e subindo por elle acima partindo com terras de doação da mesma Camara até a picada nova que agora se fez e por esta até o alto do serrote da Samambaia e pelo mesmo adiante procurando um espigão que fica fronte ando pouco abaixo da ponte da Eugenia, findando esta divisa em uma marca que se fez em um pau bordado de oleo pardo verde e descendo pelo mesmo corrego abaixo divisando com terras do socio João Francisco Ribeiro até o rio Lambary Pequeno e fica pertencendo á mesma Camara as terras que ficão dentro desta confrontação".

A grande área da fazenda de Antônio de Araújo Dantas, agora pertencendo à Câmara Municipal de Campanha e a todos aquêles que adquiriram suas partes para formarem as respectivas propriedades agrícolas, quer para os lados da Taperinha, do Caconde ou de São Simão, deixou bem nítidos os contornos do futuro arraial, com seu núcleo central em tôrno do poço da água e com a periferia semeada de fazendolas e de sítios. O local da água virtuosa estava a desaparecer para dar lugar à formação do povoado das Águas Virtuosas.

NOTA:

A Camara Municipal de Campanha, para formar o patrimônio público da Água Virtuosa, adquiriu, entre 1830 e 1832, dos herdeiros de Antônio de Araújo Dantas, 12 alqueires mineiros da Fazenda da Água Virtuosa pela importância de cem mil réis ou cem cruzeiros velhos, valendo o alqueire, na época, oito mil, trezentos e trinta e tres réis ou oito cruzeiros velhos e trinta e tres centavos. Admitindo-se que também fosse esse o preço do alqueire em 1836, por ocasião da divisão e partilha da fazenda, é de concluir-se que toda ela, avaliada em quatro contos, quinhentos e oitenta e seis mil réis (4.586 cruzeiros velhos), tivesse uma área total de 550 alqueires, dos quais 275 couberam à viúva, e 275, aos 11 filhos do casal, ou seja, 25 alqueires a cada um dos filhos.