terça-feira, 8 de abril de 2008

Lambari - MG - Aparecimento da primeira publicação sôbre a água. Influência dessa publicação para criação do patrimônio público.

A família de Antônio de Araújo Dantas estêve de posse das nascentes da água desde a sua descoberta, o que se deu no transcurso da década de 1780, até mais ou menos 1832. Durante todo êsse tempo não houve, por parte dos proprietários, nenhuma iniciativa no sentido de tornar a água conhecida e nenhum esfôrço no sentido de atrair a atenção dos podêres públicos para proteger o poço das nascentes que continuava no seio da mata, bem ao lado do ribeirão que o inundava por ocasião das enchentes, junto, ainda, com a água da várzea. Localizado perto da única estrada existente, passagem obrigatória para todos que se dirigissem ao Rio de Janeiro ou à Vila da Campanha do Rio Verde, as virtudes e as propriedades da água foram levadas pelos que passavam junto às nascentes. Foi assim que chegou ao conhecimento da classe médica da época, de onde, entre 1815 e 1826, surgiu a primeira publicação sôbre a água. O trabalho, que tem por título "Memoria sobre as fontes sulfuradas quentes ou não e sobre a Agua Virtuosa ou acidula da Provincia de Minas Gerais, incluindo seus usos medicos externos e internos", de autoria de um médico que, com as iniciais de M. da S. R., descreve o local, assinala as propriedades da água, dá suas indicações e tece apreciações sôbre a melhor época para a cura. Em tôrno da água, a citada Memória refere o seguinte:

"A Agua Virtuosa existe na Campanha, tres leguas ao sueste da Villa e sessenta da Côrte do Rio de Janeiro e verte dentre as fendas de uma pedreira, de mistura com algumas moleculas carbonaceas nas fraldas de uma montanha, á margem direita de um ribeirão que a inunda em estação chuvosa. É ella de temperatura ordinaria; tem sabor acidulo e cheiro acre; é sobres aturada de gaz carbonico que finge sahindo da terra, violenta fervura. Ella desafia o apettite, expelle a hypochondria e serra o ventre. Referem os visitantes d' ella o anno passado, que muitos queixosos, uns de incomodos nervozos e outros de catarro chronico simples ou espasmodico, edeopatico ou symptomatico, de molesteas chronicas do baixo ventre e alguns dartos ou empigens tiraram reconhecido proveito de seu uzo em banhos geraes que segundo elles afirmam, produzem na pelle uma reacção ardente mais forte que as da agua simples da mesma temperatura, limpando o corpo tão bem como faria o melhor sabão. Ella é de reconhecida utilidade na quantidade de duas libras diariamente repartida em tres doses, tomando-se uma em jejum, a segunda ao meio dia e a terceira perto da noite, na dyspepsia simples ou acompanhada de hypochondria; na diarrhéa chronica e affecções biliosas; nas enfermidades do aparelho urinario com ou sem arêas; nas flores brancas e hemorrhagias passivas quaesquer, na falta redondonica ou irregularidade passiva da mestruação e finalmente na debilidade proveniente principalmente de febre de longa duração.Bebe-se por dous ou tres meses seguidamente havendo o cuidado de trazer o ventre lubrico por meio de saes neutros ou outro qualquer medicamento brando, apropriado; de passear e de se cingir á dieta que se julgar mais adequada ao habito do doente. A estação mais conveniente para seu uzo é entre o mez de Agosto e o fim de Novembro".

Em 1826, depois da publicação dêste trabalho que mostrou as possibilidades do emprêgo da água, tanto interna como externamente, a Câmara da Vila de Campanha do Rio Verde passou a tomar as primeiras providências para formação do patrimônio público e para proteção da água, convocando os senhores Gaspar José de Paiva e João Pinto da Fonseca para se manifestarem sôbre o lugar denominado Água Virtuosa.Dando conta da missão que lhes fôra imposta, os senhores Gaspar José de Paiva e João Pinto da Fonseca, em 10 de agôsto de 1826, enviaram à Câmara da Vila de Campanha o seguinte ofício:

"Dizemos nós abaixo assignados que fomos ao lugar de trás da serra denuminado Agua Virtuosa convocados para Esta Camara e pa.avalearmos hú pedaço de terreno no d. o lugar de facto avaleamos a quantidade de doze alqs. mais ou menos de Capoeiras e Capoeiroens, plo. preço e qta. de sem mil reis sendo as suas divizas na pte. de baixo de hum Corguinho que faz barra no Ribeirão e atravessa o cam. o com ponte por este asima a buscar ao Espigão de mma. Agoa e por este asima dobrando pa. vere tente pr.sima do Sumitério pa. simada Capoeira baixa e beirado do Matto virgem ou Capoeirão atravessar a outro Espigão de sima a hum pinheirinho e descendo pI.o mmo. a beira de hum brejo da ppe. de sima Cortando plas.Cabeceiras de huma Capoeira baixa e humas Arvores Altas qe. ficão da pte. de sima beirada do Capoeirão direito ao Ribeirão a descer pI.o Ribeirão athé a pra. divizão ficando entremeio a da. Agua Virtuosa e pa.verdade do referido paçamos a prezo e é só por nós assignada. Villa da Campo a 16 de agosto de 1826. Gaspar José de Paiva.João Pinto da Fonseca".

Continuando as providências tomadas pelos podêres públicos de Campanha, a sua Câmara, em 24 de janeiro de 1827, com o fim de se formar "hum Arraial popolozo", em ofício assinado pelos vereadores Agostinho de Souza Loureiro, Miguel Ferreira Lopes, Manuel Luiz de Souza e Ignácio Gomes Midoens, se dirigiu ao Visconde de Caeté, governador da Província de Minas Gerais, solicitando as seguintes medidas em favor da água e do local:

1. ° - Comprar dos proprietários do terreno "hum pedaço em torno da Nascente das aguas, e que tem facil peso, para dentro delle poderem pastar os animaes dos Doentes".

2.° - Manter um caseiro para guarda do edifício e "ter algum arranjo da horta para utilidade e passeio dos doentes que vivem sempre oprimidos e em desordem com os proprietarios pela comunicação de gados e animaes".

3. ° - Proteger a nascente fechando-a de pedra e cal para fazer subir a água que deve ser aproveitada enquanto "estiver com effervescencia de gaz carbonico.

4.° - Construir dois tanques para banho: um para leprosos e outro para doentes de moléstias contagiosas.

5.° - Construir casas térreas as-soalhadas, para serem alugadas aos doentes, pois nao há ninguem que se anime a fazer taes obras a sua custa".

6.° - Construir uma pequena ermida para "se dizer mIssa ao povo pois concorrem alli muitos e muitos Ecleziasticos"

O aparecimento da Memória sôbre a Água Virtuosa acelerou, sobremodo, a interferência dos podêres públicos de Campanha na tomada das medidas necessárias para a proteção e para defesa da água, medidas que não poderiam deixar de concorrer para a formação do povoado, o que se deu tão logo se criou o patrimônio público pela aquisição dos doze alqueires dos herdeiros de Antônio de Araújo Dantas, por cem mil réis, ou dez centavos atuais. Não tendo sido criado na década de 1820, nela, entretanto, é que se armaram em equação os dados para o aparecimento do patrimônio público, ponto inicial para fazer brotar o "Arraial popolozo" almejado pelos vereadores da Cãmara Municipal da Campanha da Princesa, em 1827.

NOTA:
- Não se encontram documentos e fatos que mostrem que a água tivesse sido usada em banhos para o tratamento de leprosos. A medida solicitada pela Cãmara de Campanha talvez adviesse do que estava acontecendo na época em Caxambu, cuja água atraía os doentes de lepra em tão grandes proporções "que surgiu uma verdadeira aldeia em que os morfeticos eram em maior numero".

(OBS) Linguagem da época

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