Lambari - MG - Loteamento do patrimônio público. As primeiras ruas. Concessão de lotes para construção de casas.
A década de 1830 foi muito fértil em iniciativas e realizações para o local da "agoa virtuosa", que procurava desenvolver-se ao lado do poço das nascentes. Logo no início, no ano de 1830, depois da sessão de 13 de outubro dêsse ano, em que João Gonçalves de Siqueira e o Pe. João Damasceno Teixeira se referiram às águas, a Camara Municipal de Campanha tratou de interessar-se pelos problemas da futura localidade, procurando formar o patrimônio público. Para tanto se alienou uma área de doze alqueires da Fazenda da "Agoa Virtuosa" pelo preço de cem mil reis, obedecendo-se ao proposto por Gaspar José de Paiva e João Pinto da Fonseca, na avaliação efetuada em 16 de agôsto de 1826. A despeito da grande resistência apresentada pelos herdeiros de Antônio de Araújo Dantas a essa alienação, quando a Câmara Municipal de Campanha intentou a avaliação judicial "vista a necessidade que ha daquelle terreno a bem da salubridade publica", o patrimonio foi formado dentro dessas terras e, em 1833, se processou ao arruamento da área, ao alinhamento dos ranchos existentes e à formação de lotes destinados à construção de casas.Em 1834, toda área do patrimonio público se encontrava dividida em lotes de 5 braças de frente por 15 e por 20 braças de fundo, devidamente numerados em um mapa levantado pela Câmara Municipal e, convenientemente, separados uns dos outros por marcos divisórios.Como logradouros públicos foram formados os Largos da Fonte, da Capela e do Garcia e as ruas Direita, Formosa, Solitária, São Gonçalo, Nova, da Travessa, das Jabuticabeiras e do Hospital.
Em 25 de abril de 1834, a Câmara Municipal de Campanha se pronunciou favoràvelmente, de acôrdo como parecer do vereador Ignacio Gomes Midoens, sobre a seguinte petição feita pelo médico inglês Dr.Thomaz Cockrane:
Illmos. Senrs. Da Camara
Diz o Dr. Thomaz Cockrane, Medico Cirurgico approvado pelas Universidades de Londres e de Paris; de Nação Inglez, que vizitando á pouco tempo o logar denominado Agoa Virtuoza, no Termo desta Villa, e reconhecendo em as ditas Agoas Virtuozas, virtudes excelIentes para o curativo de varias infermidades; e em logares tão apraziveis, que não merecem estar abandonados, sem aproveitamento algum, tem tencionado estabelecer ali uma caza de Saude Publica, ou especIe de Infermaria com os comodos necessarios para as Pessoas que das ditas Agoas quizerem uzar; pois pela falta de sem os comodos milhares de pessoas se tem privado do beneficio e aproveitamento das mesmas: e como seja constante ao Suplicante que esta Camara tem ali um terreno proprio, requer por tanto que esta Camara tomando em concideração as vantagens que podem rezultar não só ao Paiz, como aos Individuos, haja de mandar demarcar um logar proporcionado, onde o Suplicante possa levantar o edificio mencionado, o mais proximo que for possivel aos poços das ditas Agoas, que bem pode ser no logar onde esta Camara mandou já levantar uma morada de Cazas, que cahio apenas Começada.
Espera portanto o Suplicante no patriotismo e Filantropia desta Camara deferir, achando justo.
ER. Mee.
Depois de conhecidos os planos do Dr.Thomaz Cockrane, que concorreriam muito para um rápido progresso da povoação, cêrca de trinta lotes de terreno para construção de "uma moradia de cazas" foram concedidos de maIO a dezembro de 1834, às seguintes pessoas:
NO LARGO DA FONTE: Martiniano Severo de Barros, Francisco de Paula Ferreira Lopes, Francisco de Paula Bueno da Costa.
NO LARGO DA CAPELA: Bento Antônio dos Santos, José Antônio dos Santos.
NA RUA DIREITA: Salvador Moreira Rodrigues, José Crisóstomo das Chagas, Lourenço Xavier da Veiga, Bernardo Jacinto da Veiga, José Luiz de Souza, Joaquim Xavier de Araújo, Manoel Teixeira Portes, Vicente Damasceno Salles, José Pedro Xavier Salles.
NA RUA FORMOSA: Antônio Machado Borges, Pe.Manuel Antônio de Moura e Ávila, Manuel Cipriano Fernandes, Sargento-mor José Joaquim Leite Ferreira de Melo.
NA RUA SÃO GONÇALO: José Francisco de Paul a, Mariano Faria, Joana Maria de Jesus.
NA RUA DO HOSPITAL: Bacharel Antônio Cordeiro de Negreiros, Manuel da Paixão Souza Bueno, Beraldo de Jesus, Francisco de Borja Modesto Guimarães.
NA RUA NOVA: Roque Souza Magalhães, Joaquim Souza Magalhães, Reginaldo Mendes Monteiro, Simão da Costa Rodrigues.
NA RUA SOLITÁRIA: Domingos Rodrigues da Fonseca.
Nesta fase do desenvolvimento da povoação, muito se destacou a atuação do Sargento-mor Joaquim Inácio Vilas Boas da Gama que, residindo já na localidade, colaborou com os podêres públicos da Vila de Campanha fazendo obedecerem-se as deliberações de sua Camara Municipal. No ano de 1836, a Fazenda de Antônio de Araújo Dantas, por fôrça de divisão e partilha foi toda repartida, cabendo à Camara Municipal de Campanha uma gleba que, unida à já existente, aumentou a área do patrimonio público. Êste aumento, e mais o desaparecimento da grande fazenda que se transformou em outras tantas pequenas fazendas, favoreciam, sobremodo, o progresso do patrim&nio que não p&de ser sentido ainda, como possível conseqüência de não terem sido construídas as casas nos terrenos cedidos em 1834 e nem também a Casa de Saúde do médico inglês Dr. Thomaz Cockrane. A povoação, em 1837, se apresentava formada de "uma pequena casa de telhas, de algumas choças de sapé e de um cercado de esteira no lugar das fontes das aguas mineraes".
Em fins de 1837 ou em princípios de 1838, o pequeno aglomerado recebeu uma das personalidades mais importantes da época, que veio em tratamento de saúde. Logo que deixara a Regência, o Pe. Diogo Antonio Feijó se dirigiu para as Águas Virtuosas, depois de, como hóspede, ter permanecido em Campanha, na casa de familiares do desembargador Francisco de Paula Ferreira de Rezende. Como conseqüência da estada do Pe. Feijó nas águas, a Camara Municipal de Campanha fêz baixar, em princípios de 1839, as primeiras instruções que servissem de base para, a defesa e para a proteção do patrimônio. Aprovadas na Sessão de 26 de janeiro de 1839, nela também se aprovou a nomeação de um agente fiscal a quem competia fazer cumprir as instruções abaixo transcritas:"Instruções para servirem de base á administração do agente que como parte da Camara Municipal desta Villa tem de residir no local da Agoa Virtuosa com todas as atribuições dos fiscaes, com gratificação de 20$000 mensalmente pagos pela Fazenda Publica Provincial, cujo cargo exercerá enquanto bem servir e a Camara o ouve!" por bem:
artigo 1.°: Seu primeiro cuidado deverá ser, restabelecer as antigas balisas dos alinhamentos das ruas, que tem sido destruidas pelas pessoas que alli tem estado.
artigo 2.°: Não consentirá que pessoa alguma de qualquer Cathegoria que se possa considerar, destrua as Mattas, faça plantações nos terrenos que lhe não tenham sido legitimamente concedidos; que lavem qualquer couza dentro da fonte potavel; lancem Entulhos no canal do Esgoto desta para o Ribeirão, que Elefantiacos ou Enfermos de outras molestias asquerosas da pele visivel se banhem nos banheiros existentes, destinados para os que estão nestas circunstancias.
artigo 3.°: Poderá conceder o corte de Madeiras para construção de casa no local, tendo sempre em conta a economia das mesmas e que, não continue o habito de destruir um Pinheiro para obter delle somente quatro taboas tiradas a machado como até aqui tem acontecido; com excepção do morro do Castello até o local onde presentemente se extrahe pedra como tambem poderá extrahir do lugar referido seguindo a flarda do mesmo morro do Castello, e Pedreira que está aquem da ponte.
artigo 4.°: Poderá executar as Posturas desta Camara em tudo que della for applicavel no local.
artigo 5.°: De tres em tres mezes enviará á Camara Municipal um relatorio de todo o ocorrido neste tempo e participará com urgencia tudo quanto urgente for afim de que se possa tomar em tempo as providencias que necessarias forem.
artigo 6.°: Terá a sua custa um livro rubricado pelo Presidente da Camara no qual fará o lançamento das Pessoas que para a Agoa Virtuosa entram ou sahem pela forma do modelo junto, e delle se extrahirá um exemplar das alterações que a respeito houver occorrido em cada mez e enviará o Relatorio no principio do seguinte.
artigo 7.°: Além das disposições das Posturas municipaes e das destas instruções, he o fiscal obrigado a cumprir todas as deliberações que por esta Camara lhe forem enderessadas. Esta Camara confia no Cidadão que com sua escolha há enviado para exercer na Agoa Virtuosa este emprego publico que empregará todo seu zelo e actividade no desempenho do dever.
Villa de Campanha, 26 de Janeiro de 1839.Machado".
No dia 28 de janeiro de 1839, às dez horas, na sala das sessões da Câmara Municipal de Campanha, Manoel Joaquim do Nascimento, depois de ter prestado juramento para cumprir com exatidão o emprêgo, tomou posse do cargo de agente fiscal, recebendo uma cópia das instruções e modêlo do Relatório a ser enviado mensalmente. Naquele ano de 1839, no livro destinado ao lançamento das "pessoas que entram ou sahem" figuram apenas três pessoas: uma em janeiro acometida de "encommodos do estomago", duas em ag8sto acometidas respectivamente de "encommodos do ventre" e de "doença do peito".
Nesta década, surgiram os primeiros moradores da Água Virtuosa. Manuel Fernandes Nunes, João e Francisco Gonçalves de Siqueira, Joaquim Inácio Vilas Boas da Gama, Francisco e João Francisco Ribeiro, Leonardo e Felisberto Alves de MeIo, Manuel Francisco Xavier, Bento Antonio dos Santos, José Antonio dos Santos, Antonio Machado Borges, Manuel Cipriano Fernandes, Roque e Joaquim Souza Magalhães, Joaquim Machado de Andrade e Manoel Joaquim do Nascimento Inscrevem seus nomes como primeiros moradores do povoado e erigem-se em autênticos fundadores do arraial.
NOTAS:
Sôbre a estada do Padre Diogo Antônio Feijó, assim se expressa o desembargador Ferreira de Rezende em seu livro: "Ora, Feijó ou porque fosse ás Aguas Virtuozas por enfermo ou por qualquer outro motivo que eu nunca soube ou de que não me recordo foi hospede de meu avô durante alguns dias; eu com elle jantei por vezes na mesma mesa; se nada me lembro de suas palavras, lembro-me pelo contrario muito bem de sua figura e muito mais ainda de uma circunstancia que não deixou de admirar-me; é que estando a mesa sempre cheia de muitos doces, junto de Feijó se punha uma compoteira de melado; ou porque elle não comia de outro doce ou porque como elle dizia o melado era o rei dos doces e o preferia a qualquer outro".
(OBS) Linguagem da época
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